SETENTA E DOIS: ADEUS, LUCAS

18 3 31
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


LÚCIFER

Os grandes portões de aço gritam seu ranger cheio de ferrugem, um farfalhar agoniante quando finalmente se põem abertos, revelando o número massivo de pessoas além dele. As vezes humanas, as aparências humanas, mas cada um deles é celestial em sua mais pura essência. Os anjos caminham para dentro do retângulo disforme, criado na luz dourada do sol atrás deles. O galpão onde entram esconde-se por quase completo, na escuridão. Porém seus olhos apurados veem através dela, alcançando a figura ao fundo.

Sobre uma pilha de cem corpos de seus irmãos, Lúcifer aguarda. Seu rosto está estampado pelo vazio, não há sua habitual expressão de sarcasmo, arrancando troças de quem quer que seja. Não, há qualquer coisa de muito sombrio no demônio.

Lá fora as ruas desertas, ao longe o assovio do vento corre, enodoando o ar de uma atmosfera gélida, sombria. Lúcifer levanta seus olhos, dois orbes vermelhos, lanternas de trevas que exibem uma luz escarlate própria. Seu rosto é uma máscara de mármore, intocada deste ou daquele sentimento. Uma máscara limpa, mas cheia de trevas.

— Lúcifer, a que ponto chegou? — indaga um dos celestiais. — Atacar nossos irmãos dessa forma. Um ataque silencioso é mesmo o nível traiçoeiro de um demônio. — Não há resposta do Diabo. Ele permanece a encará-los. Os corpos dos anjos mortos debaixo de si estão pilhados de forma a criar um trono, seu cotovelo repousa sobre o crânio de uma bela garota de pele aperolada e cabelos negros, seus pés sobre um jovem de cabelos dourados e olhos azuis, agora mais claros, já sem vida.

— Viemos como nos foi informado — diz uma celestial ao lado daquele. Todos sacam espadas douradas, Subjugadoras. — Viemos vingar nossos irmãos.

Lúcifer faz um movimento com os dedos, usando sua habilidade de magnetismo, ele puxa aos portões grandiosos de aço. Batendo-os atrás dos anjos que não se movem, observando o oponente com fúria angelical. Seriam mais cem deles? Não, certamente que não. Talvez sejam trezentos deles, se aproximando feito uma maré alta. Talvez mais, o local é a união de vários galpões abandonados, que eram utilizados pelos americanos para a manutenção de tanques, caças e outros veículos de guerra. Lúcifer pensara que seria o palco perfeito enquanto voava rumo ao Canadá e sentiu o fedor dos anjos que cobre por léguas em todas as direções, andando por aqui feito ratos.

— Não vieram vingar ninguém. — Por fim ele diz, erguendo-se lentamente sobre a pilha do que considera não mais que lixo. Em sua mão materializa-se a espada negra, Necrotrómo fulgura seu brilho negro, roubando e atraindo todo cintilar externo para ela, e devolvendo um aspecto fantasmagórico, assombrado, lúgubre. — O que vieram — diz ele —, é serem alvos da minha ira.

— Alvos? — As asas deles se arguem, retesando sobre as cabeças douradas. Os olhos safirinos cantarolam a luz angelical. — Não nos tome por fracos, Lúcifer. Mais fracos que ti? Pode ser, aceitamos tal posto. Mas somos Tronos. O principal batalhão de guerra da Deusa. O que pode nos ter em vantagem em poder, retornamos dez vezes mais em disciplina. E é isso sua derrota, Anjo Caído, lhe faltou disciplina desde os tempos imemoriais. Traiu ao Pai e agora trai a Mãe.

Caídos (duologia Trono de Fogo)Onde histórias criam vida. Descubra agora