TRINTA E NOVE: SOL

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SOLOMON


5 DE JUNHO DE 1992 — VILA GUZDELJI, BÓSNIA E HESEGOLVINA

A porta do bar é escancarada ao canto na entrada da figura de barba cheia. O vento frio sopra junto a silhueta da figura que adentra o bar, com seus 1,97 de altura, suas roupas densas e sujas. De cabelos longos, mas presos acima da cabeça em um pequeno coque.

Alguns sorrisos e cumprimentos foram dados por alguns dos presentes no bar. Qualquer forasteiro poderia chegar a imaginar que aquela figura, de olhos azuis claros, tão claros que mais se assemelhavam a brancos, poderia ser de alguma forma, um sujeito mal-encarado. Mas nem de longe é o caso. O homem vagou pelas mesas entre cumprimentos e vai ao balcão do bar.

O frio dos quatro graus bósnios arde densamente com a rajada de vento que adentra com a figura que parece ter acabado de se mesclar com a névoa que cobre o lado de fora.

— O de sempre.

A bartender que o encarava com um sorriso desde que entrou ignorou o pedido do homem, dando a volta no balcão e o recebendo com um abraço forte, além de um duradouro e denso beijo. Enfim quente, enfim de volta.

— Achei que não ia voltar hoje — diz a mulher, sorrindo.

— Eu também achei, houveram contratempos, mas tive que voltar. Não suportava mais a saudade. Como tem passado, meu amor? Esses bêbados estão te respeitando?

— Eles conhecem meu marido, não são malucos de me desrespeitar. — Ela sorri uma vez mais e volta para trás do bar. — Mas admito que foi difícil trabalhar aqui durante o Ramadã.

— Sem comer, sem beber, sem transar... ainda bem que eu fiquei fora durante um tempo, ou enlouqueceria te vendo fazer isso. — Brinca ele. — Por quê continua a acreditar essas coisas?

— Temos que acreditar em algo.

— Em nós mesmos.

— Eu cultivei o islamismo desde que sou uma garotinha, Sol. O islamismo é parte de quem eu sou. Não pode querer que eu mude de uma hora para a outra. E olha que eu já mudei bastante. Minhas roupas, minhas ações...

— Eu sei, eu sei. — Assente ele recebendo a dose de vodca que sua mulher lhe serve. — Eu só gosto de pegar no seu pé, Nihad. Não me leve a sério. — Sol vira a dose e deixou o pequenino copo de vidro sobre o balcão. — E então, quando acaba mesmo o Ramadã?

— Acabou hoje, na verdade. — A mulher sorriu e serviu-se de uma dose da bebida. — Agora começa o Eid al-Fitr.

— O banquete depois do jejum... — diz o homem se juntando ao sorriso quase erótico na face de sua amada que ergue uma sobrancelha. — O que vai ser hoje?

Caídos (duologia Trono de Fogo)Onde histórias criam vida. Descubra agora