SETENTA E TRÊS: C. A. I. D. O. S.

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SÉRAPIS

— Oi Luci — diz Sérapis ao olhar intrigado de Lúcifer. — Estou tão mal assim, que nem me reconheceu?

— Sabrina, nossa... Não. — Ela jamais imaginara vê-lo tropeçar nas palavras. Mas há algo diferente em Lúcifer, uma energia abatida. Como se eu não soubesse o que é, pensa. — Muito pelo contrário. Eu só... me perdi em quanto tempo se passou no Inferno. Por que permitiu que sua aparência mudasse?

— Não queria ter aparência de criança para sempre, então permiti o crescimento do meu corpo até uma idade desejada. Ninguém levaria uma rainha criança a sério.

— Entendo. — O Diabo olha em volta, como se ainda reconhecendo a mesma casa em que vivia. Casa onde deixara Sérapis há tanto tempo. — E o garoto, quem é?

— Lukaenus! — diz o menino com um grito feliz, jovial. Ele abre os braços como se estivesse se apresentando em um palco. — Pode me chamar de Luke, senhor Rei. — Luke reverencia-o e toma um olhar infantil a mãe. — Mamãe, por que ele te chama de Sabrina?

— Foi meu nome, querido. Há um tempão atrás. — Há lembranças percorrendo-lhe a mente como eletricidade por um cabo de contenção. — Luke, continue suas atividades lá no quarto. A mamãe precisa conversar com o Luci.

— Sim, mamãe! — O garoto então salta dos braços da mãe rumo ao chão e corre rumo a Lúcifer que apenas o observa se aproximar. — Toma, pra você. Tem muitos desenhos.

O garoto põe um caderno antigo em suas mãos.

— Eu sei, fui eu quem fiz. — Ele sorri para o garoto que encara o Diabo com olhos grandes e brilhantes. Uma veneração infantil cheia de solenidade por algo tão simples, mas que para ele é inexplicável.

— Sério, me ensina depois?

— Será um prazer, Luke.

O menino se despede um par de veze mais, obviamente encantado com a figura nova e corre escada acima rumo a seu quarto. Sabrina observa-o por um momento enquanto se vai. Lúcifer dá alguns passos antes de indagar:

— Quem é o pai?

Sérapis caminha rumo ao piano e senta-se no banco acolchoado.

Você. Pensa ela tocando as teclas, bem levemente, de forma que ainda não façam som. Apenas passando os dedos sobre a suavidade fria de cada peça.

— Ninguém... quer dizer. Não sei bem. Sabe como é.

Ela encolhe-se nos ombros e oferece um sorriso disfarçado. Lúcifer sorri de volta, assentindo.

— Transando tanto que nem sabe que é o pai? Sabe que é fácil descobrir, certo? Pode rastrear a energia.

— Não acho importante. Gosto de tê-lo só para mim, como uma lembrança.

Caídos (duologia Trono de Fogo)Onde histórias criam vida. Descubra agora