SÉRAPIS
— Oi Luci — diz Sérapis ao olhar intrigado de Lúcifer. — Estou tão mal assim, que nem me reconheceu?
— Sabrina, nossa... Não. — Ela jamais imaginara vê-lo tropeçar nas palavras. Mas há algo diferente em Lúcifer, uma energia abatida. Como se eu não soubesse o que é, pensa. — Muito pelo contrário. Eu só... me perdi em quanto tempo se passou no Inferno. Por que permitiu que sua aparência mudasse?
— Não queria ter aparência de criança para sempre, então permiti o crescimento do meu corpo até uma idade desejada. Ninguém levaria uma rainha criança a sério.
— Entendo. — O Diabo olha em volta, como se ainda reconhecendo a mesma casa em que vivia. Casa onde deixara Sérapis há tanto tempo. — E o garoto, quem é?
— Lukaenus! — diz o menino com um grito feliz, jovial. Ele abre os braços como se estivesse se apresentando em um palco. — Pode me chamar de Luke, senhor Rei. — Luke reverencia-o e toma um olhar infantil a mãe. — Mamãe, por que ele te chama de Sabrina?
— Foi meu nome, querido. Há um tempão atrás. — Há lembranças percorrendo-lhe a mente como eletricidade por um cabo de contenção. — Luke, continue suas atividades lá no quarto. A mamãe precisa conversar com o Luci.
— Sim, mamãe! — O garoto então salta dos braços da mãe rumo ao chão e corre rumo a Lúcifer que apenas o observa se aproximar. — Toma, pra você. Tem muitos desenhos.
O garoto põe um caderno antigo em suas mãos.
— Eu sei, fui eu quem fiz. — Ele sorri para o garoto que encara o Diabo com olhos grandes e brilhantes. Uma veneração infantil cheia de solenidade por algo tão simples, mas que para ele é inexplicável.
— Sério, me ensina depois?
— Será um prazer, Luke.
O menino se despede um par de veze mais, obviamente encantado com a figura nova e corre escada acima rumo a seu quarto. Sabrina observa-o por um momento enquanto se vai. Lúcifer dá alguns passos antes de indagar:
— Quem é o pai?
Sérapis caminha rumo ao piano e senta-se no banco acolchoado.
Você. Pensa ela tocando as teclas, bem levemente, de forma que ainda não façam som. Apenas passando os dedos sobre a suavidade fria de cada peça.
— Ninguém... quer dizer. Não sei bem. Sabe como é.
Ela encolhe-se nos ombros e oferece um sorriso disfarçado. Lúcifer sorri de volta, assentindo.
— Transando tanto que nem sabe que é o pai? Sabe que é fácil descobrir, certo? Pode rastrear a energia.
— Não acho importante. Gosto de tê-lo só para mim, como uma lembrança.
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Caídos (duologia Trono de Fogo)
RomanceMistérios, sussurros do além e pesadelos rondam o colégio São Lucas Leão no centro carioca. Um ponto onde a realidade física e espiritual se convergem e revela mundos diferentes, realidades e criaturas ancestrais; anjos, demônios, vampiros, lobisome...