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Maya Petrov











— Caraca! _Estou embasbacada quando abro a janela e não encontro grades. — Eu quero chorar. _Sorrio, me apoiando nela, não me deixo reclamar de dor no pulso e ficando sobre as pontas dos pés, deixo o sol quentinho tocar meu rosto. Fecho os olhos, com aquela sensação de paz que eu não sentia há um tempo.

É como a senhora Andrea disse;

O incrível é que eu esteja me permitindo levar no sorriso um dia após o outro, depois do que passei.

Eu suportei.

Mas sei que os demônios ainda fazem morada. Qualquer dia eles escapam.

Precisarei ser forte.

De repente, batem na porta e eu abro os olhos, virando-me e esperando a pessoa entrar, mas não entram e eu estranho, seguindo até a porta.

Não está fechada.

Acho esquisito a demora da pessoa para entrar e toco a maçaneta, sentindo a pressão que fazem do outro lado.

— Você está aí? _Ouço a voz forte e algo em mim agita. Então franzio o cenho, recuando e soltando a maçaneta lentamente e a mesma girou e voltou ao lugar. — Isso é um sim?

Trago o dedão a boca e raspo o dente no esmalte.

— Eu estou com medo. _Revelo, roendo a unha e entrando em desespero.

— Então eu voltarei depois. Pode ser?

Meu coração acelera.

É sério mesmo que ele está pedindo permissão?

Isso é tão novo que desconfio da probabilidade de ser real.

— O senhor vai me machucar? _Pergunto, voltando até a porta e espalmando a mão na mesma, contornando os dedos em alguns relevos que faziam um desenho, abaixo escrito 'Ndrangheta.

É verdade, Estou no centro do clã inimigo.

— Não.

— Me dá sua palavra?

— Ela é tudo que eu tenho.

Toco a maçaneta e abro a porta, dou um passo atrás e viro-me, me afastando um pouco mais e ficando próximo ao abajur.

Era fácil arremessa-lo.

Entra. _É confuso que ele precise da minha aprovação para fazer.

Não consigo me acostumar de primeiro momento. É inacreditável.

A porta foi aberta e o homem bem arrumado e cabisbaixo se revelou.

Eu engolia ar seco.

Devagar, seu olhar correu dos meus pés ao rosto e eu solucei embargada, grudando na parede, veementemente impactada.

— Não se assuste. _Ele indagou com cautela e entrou, abrindo bem a porta e se agachando, prendendo-a e vindo para mais perto, mantendo uma certa distância do meu corpo.

— Eu lembro de você. _Declaro. — Você estava no avião e segurou minha mão por toda a viagem.

— Você tem pânico?

— De altura? _Ele concorda e guarda as mãos no bolso. — Muito. _Balanço a cabeça, confirmando.

— Creio que o Dante já falou de mim. Sou Gianluca, o diabo justo e você já viu que matei o seu Deus.

Me surpreendo.

— Era você, o tempo todo?

— Explica...

Deus que homem mais calmo, ao contrário dos seus olhos claros que parecem duas poças revoltas.

— Você mandou o Dante, a senhora Andrea... Tudo que fez...

— Não precisa agradecer.

— E o que vai fazer comigo? _Me preocupo. Afinal, tudo tem um preço.

— Eu sei de tudo o que fizeram com você. Cada sofrimento e sei também que você não merecia. Eu não vou te submeter a nada disso.

— O senhor me raptou... Aí. _Reclamo, segurando o meu pulso.

O tal Don, aproximou e me olhou nos olhos, descendo para observar minha mão.

— É o que parece. _Admitiu, simples assim e firmou uma mão na parede, do lado da minha cabeça. — Não fique apavorada. Eu não sinto desejo pela senhorita e mesmo que sentisse, não chegaria tão perto sem a sua permissão. Tudo tem um propósito. _O cara impassível, não demonstrava emoção alguma e só entendi a que ele se referia, quando o mesmo usou sua outra mão para segurar meu pulso e o puxou com força. Um estalo soou e eu gritei, não pela dor e sim pelo susto. — Você é mais forte do que aparenta. _Disse e trouxe a outra mão para espalmar do outro lado da minha cabeça, na parede. Seu olhar firme me causa tremores e eu não respirava direito. Não gostava do seu cheiro. — O Dante e você, como era a relação?

— Ele foi o melhor que me aconteceu. _Revelo.

O homem se impressiona, mudou a vista, pensou em algo e deu impulso para trás.

— Tudo bem. _Meneiou a cabeça, molhando os lábios. — Você é a vítima.

Franzio o cenho. Eu não havia entendido nada.

Vítima do que me aconteceu ou do Dante?

Por que vítima?

Ele virava e saia.

— Ele falou que eu não estaria segura em outro lugar como aquele. Disse que eu merecia ser feliz longe de tudo. _Conto e o homem para as passadas na porta.

— Bingo. _Me encarou e posso jurar que ele sorriria nos próximos segundos. —  Você vai me dar muito trabalho. _Me estudava, convicto no que acreditava. — É nítido que se apaixonou por ele.

Nego de imediato.

— Eu não...

— Desculpe-me, eu não estou julgando-a. Mas você faria qualquer coisa para vê-lo de novo.

Desprendo da parede, segurando meu pulso e o girando. Não doía mais.

— Ele está vivo? _Eu quero realmente saber.

— Não sei por quanto tempo.

— Se ele é seu homem de confiança e o senhor o usou para chegar até mim. Ele está aqui, não está?

— Se estivesse já estaria morto.

— Eu queria muito que ele viesse me ver, o senhor pode continuar matando gente e fazendo seu trabalho, mas deixa ele vir...

— Não quero ser grosso com você moça. Não me fale desse traidor nunca mais. _Virou-se.

— Eu posso te abraçar?

De pressa, ele novamente virou-se.

— Como?

— Eu não tenho nada para oferecer para o senhor além da minha gratidão. _Tenho vontade de chorar. — O senhor tem me poupado de viver naquela escuridão. _Devagar, caminhava.

— Aqui também é escuro.

Cheguei nele e passei as mãos por baixo dos seus braços. Ele não retribuiu e mesmo assim continuei o abraçando.

Eu enxergava uma luz nesse inferno.






CONTINUA...

Apaixonada pelo Dante?

Sério, Maya.

Eu já sabia que isso aconteceria.

Se aconteceu, né kkkkk

LUZ NO INFERNO (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora