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Maya Pavlova









O passar dos dias foram bem pesados, eu diria. É extremamente complicado seguir uma rotina cansativa de dedicação aos treinos três vezes por semana, de alimentação saudável, onde não posso sequer suprir minha vontades e ainda estudar toda a história da Bratva de cabeça para baixo e seus inimigos declarados.

Engana-se quem pensou que era fácil, que era simplesmente chegar, assumir o poder da organização a qual pertence e pronto, tem aval para matar todo mundo. Não é, precisa-se de tempo, disciplina e constância e é o certo ter preparo físico e mental para ter capacidade de lidar com o que é novo, com essa nova vida. Vida de dissabores e turbulências... De adrenalina e guerra.

Hoje consigo entender porque o Gianluca não queria dividir comigo o seu trabalho. É definitivamente insuportável e desgastante e tem que ter pulso firme para está preparado para o pior sempre. Uma ponta solta, um fio descascado ou uma pequena brecha... O menor que seja, era o suficiente para ser usado contra você.

Seja esperta, fique um passo a frente, desconfie de tudo e todos e preste severamente atenção nos detalhes.

Por está no topo do mais alto poder na hierarquia de qualquer máfia, esse fato consumado despertava inveja em muitos e interesse inigualável. Percebi que o nosso escudo acabava sendo a defensiva de ser prudente e nunca confiar em ninguém. Nem mesmo em seu próprio sangue.

É horrível a sensação de olhar em volta e sentir que qualquer um podia te trair.

Sua única aliada era si mesmo.

Fique em posição de ataque e espere o primeiro golpe, você verá a mão te atingir, mas estará preparada para revidar. Apanhar, as vezes é necessário, pois não esqueça que quem bate também cansa e quem apanha cansa de apanhar e quando levanta, a cratera não será só aberta no chão... Então corra. Acredite, é o melhor conselho que eu dou.

"Quem bate esquece, mas quem apanha grita." Ainda que meu grito fosse centrado para dentro, quem disse que quem decide "esquecer" a dor também não sofre? Eu tenho gritado muito desde que fui raptada daquele avião e vivi um inferno.

Como o meu pai contextualizou, só quem sofre tem a capacidade de alcançar o elevado nível de impiedade, desumanidade e crueldade e eu compreendo porque ele disse isso, porque no fundo somos egoístas e hipócritas. Queremos o melhor para nós e no sofrimento desentendemos do porque conosco. Achamos que não é justo e desejamos que todos sintam o vazio da gente na pele para que entendam como dói ao alcançar a alma.

Cada ação gera uma reação. A compaixão deixa de existir quando somos machucados. Criamos um mundo fictício, onde está tudo bem, mas realmente nunca esteve nada bem. A mágoa continua ali, impregnada e tem o cheiro forte de ferida não cicatrizada. Não tiveram compaixão da gente, porque teríamos dos outros?... E no fim notamos que a contaminação passou e nos igualamos a quem ferrou com a porra da nossa vida.

Quer dizer, eu não me igualei com ninguém, porque hoje, o meu foco é ser mil vezes pior do que quem me destruiu.

Eu tentei, juro que tentei ser a "eu" antes dos abusos, mas algo em mim já haviam roubado e deixou de existir, apagou-se para sempre.

A Petrov, o ninguém que cuspiram em minha cara e fizeram de gato e sapato. Essa, não existia mais.

Agora, a Pavlova. Essa sim precisou da Petrov para torna-se a nova Maya.

A verdade, é que tudo que é novo nos apavora muito. O receio de não ser o suficiente para tal ação é o combustível que preciso para me dedicar inteiramente a minha missão.

LUZ NO INFERNO (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora