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Maya Petrov







O banheiro esfumaçava e uma gota d'água deslizava sobre a cerâmica escura na parede. Essa ação mantinha meus olhos focados e longe de tudo.

Eu descobri um amigo e era ele, o banho. Mesmo ciente de que quando, fracamente, erguesse da banheira viria a sensação de está terrivelmente suja, ele amenizava tudo e me fazia se aquecer.

Está tão frio da porta desse banheiro para fora.

Desvio os olhos e é inevitável. No chão, vejo o lençol branco que me enrolei para vir até o banheiro. Eu estremeço e um arrepio devastador percorre por meu corpo. Eu forço o aperto em minhas pernas, fechando-as.

Eu ainda sangrava.






Flashback

Mãe? _Chamo-a e abro a porta do seu quarto. Ela mostra o seu largo sorriso. — Posso entrar?

— Que isso, filha. É claro que pode. Venha, sente-se aqui. _Bateu no colchão e fui sentar do seu lado.

— Quero ter aquela conversa que iniciamos há um tempo e eu fiquei envergonhada e saí correndo. _Trinco os dentes. Eu e minha mania de sempre voltar a palavra atrás.

— Você gritou e afirmou que nunca mais tocaria naquele assunto. _Ela riu da minha cara de pau.

Faço careta e respiro.

— Mãe, eu era uma adolescente assustada que tinha acabado de menstruar... Hoje eu tenho mais de 20 anos.

— Uma mulher praticamente... Uma mulher linda. _Arrumou meus cabelos. — Então? _Seu olhar me incentivava a falar.

Nervosa, começo a balançar uma perna.

— Eu sou virgem. _Confesso de uma vez.

— Isso eu já sei. Qual é a novidade? _Ela realmente sabia?

Franzio o cenho.

— Eu tenho 20 anos e a senhora sabe que nunca transei? _Estou pasma. — Nunca desconfiou?

Ela nega.

— Eu conheço minha cria. _Minha mãe não parava de rir.

Eu era uma piada, só pode.

— Bom, eu quero contar para a senhora que tive oportunidade de fazer, mas eu não consegui. _Revelo e isso sim a espanta.

— Não conseguiu? Como assim... não conseguiu? _Ficou confusa e falha.

Respiro forte e pego suas mãos.

— Me apavorou o pensamento de que eu me despiria e ficaria nua na frente de um homem... De que ele veria como realmente sou. _Não me permito ficar triste e engolia o soluço.

— Mas você é a jóia mais linda de todo esse planeta. _Tocou meu rosto, falando o de sempre para me animar. Mas não era verdade. Eu era diferente e reconhecia o impacto que poderia causar de primeiro momento. — Me chateia tanto perceber que o preconceito começa com você mesma.

Retiro suas mãos do meu rosto e as desço para suas pernas, por fim coloco-me de pé.

— O mundo vomita que devemos ter amor próprio, se amar em primeiro lugar... _Caminho. — Mas mãe, é tão difícil. _Chego a parede e me encosto, unindo as mãos atrás do corpo. — O problema não é só ser negra. Aliás, se fosse isso eu estava no céu. É o medo do olhar julgador. Se nem eu consigo me aceitar como sou, quem dirá alguém que nunca me viu nua.

Minha mãe ficou de pé e rumou até mim, emoldurando as mãos em meu rosto.

— O rosto você consegue disfarçar com maquiagens, mas o corpo, minha linda. É impossível.

— Eu sei e por isso continuo virgem. _Suspiro e por um instante fecho os olhos, pensando, sentindo emoção e falando alto. — Mas do fundo do meu coração, eu sei que vai chegar alguém admirável e com ele eu irei escolher deixar vislumbrar-me como realmente sou. Mas isso tem que partir de mim, mãe. É uma escolha minha e eu quero me sentir confiante para confiar a alguém o meu eu por baixo das roupas... _Sopro o ar que cresce em mim e a olho nos olhos, sorrindo. — Eu não sei se a senhora está entendendo o que quero dizer, eu sou mesmo péssima em me expressar, mas é isso. Não é só uma virgindade, eu sou complicada, sei disso, no entanto, envolve muita coisa. É meu corpo, a minha casca e meu casulo.

Minha mãe se impressiona e até suspira.

— Eu entendo você perfeitamente. _Me abraçou. — Acredite que é possível e perceberá que esse homem te verá tão linda quanto eu vejo.

Flashback off





— E acabou os meus planos... Acabou-se para sempre. Tiraram de mim algo que era somente meu. _As lágrimas banhavam meu rosto. — Isso me dói tanto, mas tanto que arde a minha alma. _Sussurro sozinha, confidenciando a minha lamúria, de mim para mim mesma.

Quem mais poderia entender o que eu sinto, se não eu?











CONTINUA...

CONTINUA

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LUZ NO INFERNO (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora