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Gianluca Rossi







Estava parcialmente deitado na cama, parte das minhas costas apoiava na cabeceira e eu vislumbrava a Maya, que havia acabado de sair do banho e rumava para em frente ao espelho, virando-se e afastando todos os fios de cabelos para o lado, descendo o roupão na área dos os ombros e o tocando.

— O que foi? _Pergunto. Ela parecia incomodada com algo.

— Está saindo novas manchas... Que droga! _Reclamou, deixando o roupão decair mais um pouco e tentando visualizar suas costas por completo.

Nada aos meus olhos passou despercebido, recordo que quando ela confidenciou seu corpo a mim pela primeira vez, contou-me que não podia se lesionar porque podia desencadear novas manchas e que até o atrito com certos tipos de tecidos de roupas poderiam ocorrer o mesmo.

— Você me disse que o estresse piorava. Eu também pesquisei e traumas emocionais podem estar entre os fatores que irrompem ou agravam o vitiligo. _Lembro-a o que ela definitivamente já sabe.

Com tudo, a Maya virou-se, cobrindo os ombros e os seios.

— Você pesquisou? _Fechou o roupão.

— Não é óbvio que eu iria até às últimas consequências para entender a doença?

Meu neném sorria facinho, laçando o roupão e foi ali, nesse mesmo instante em que entendi que havíamos feito a escolha certa de seguir com a gravidez e distingui porque diziam que as mulheres ficavam deslumbrante quando servia de morada para uma nova vida. Ao meu ver, a beleza do mais belo estava distribuído em Maya Petrov.

— Você é atento a tudo. Não deixa escapar nada. _Caminhou sorridente, vindo se juntar a mim na cama, sentando sobre os calcanhares. — Eu gosto de como é atencioso comigo.

— Eu sei que você gosta. Se desaprovasse eu não faria. Reconheço até onde eu posso ir com você. Sei dos seus limites e estou desconhecendo os meus. _Sorrio, lembrando da loucura que fizemos no meio da estrada chuvosa.

— Já imaginou se alguém grava e joga na internet? _Ela elevava uma sobrancelha, se segurando para não gargalhar por me enxergar fechar o sorriso, pensando na porcentagem da probabilidade disso acontecer.

— Não brinca com isso, Maya ou eu vou perder o juízo. _Esfrego o meu rosto, começando de fato a se preocupar. — Não. Impossível isso. _Afirmo. — O carro dos soldados estava no meio da estrada e muito distante da gente, chovendo e escuro... Sem possibilidade nenhuma de filmar de dentro do carro e a imagem capturar a gente. _Prefiro confiar que não.

— Acredito que não também, mas se acontecesse... Dane-se. _Deu de ombros, adorando o meu desespero. — Você tem que aprender a me dizer não. Eu sou perigosa.

— Com certeza você é. _Pisquei o olho.

— Mudando de assunto. Enquanto fiquei agora me olhando no espelho, lembrei-me de algo de quando eu tinha 14 anos. _Comentava e vinha se acomodar em meu corpo, deitando a cabeça em meu peito.

Minha curiosidade é tamanha que desço seu roupão e observo seus ombros. Verdadeiramente surgia novas manchas esbranquiçadas, certamente consequências de tudo de ruim que ela vivenciou, principalmente aquele maldito dia em que tive que contar sobre aquela desgraça e a Maya resolveu guardar tudo em algum lugar dentro de si, confiando cegamente que essa é a melhor forma de lidar. Não era, mas se ela queria evitar falar daquilo, eu devia respeitar.

A única coisa boa nisso, é que sei que apesar disso ela vem progredindo nas consultas com a terapeuta. Obviamente que não tenho acesso a tudo o que conversam, também resolvi respeitar isso. Até porque se eu soubesse de mais alguma crueldade que aconteceu com ela, não que possa existir é claro, mas eu faria o mundo sangrar.

LUZ NO INFERNO (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora