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Maya Petrov













— Cheguei. _O diabo bondoso regressou tarde da noite e veio direto para a cozinha, onde eu e a sua sobrinha tomávamos sorvete.

Não posso mentir, a garota levada me arrancou tantas risadas que minha barriga ainda dói.

Observando-a, a vi pular da pia onde estava sentada e ir correndo até o tio.

— O que resolveu? _Perguntou apreensiva.

Olho mais para o lado e percebo que ele fecha a mão direita em punho e a cobre com a outra. Ele me olha e sabe que eu notei o ferimento.

— Seu pai está te esperando no carro. _Indagou e a Donatella pulou, o beijando na bochecha.

— Eu sabia que o senhor daria um jeito. Obrigada.

Ele assente.

— Juízo. _Demonstrou afeto e carinho pela sobrinha ao beijar em sua testa. — Se não se comportar, terá um futuro miserável. _A alertou e ela o abraçou, se afastando e vindo para perto, abrindo os braços.

Sorrio e deixo meu sorvete na mesa, levantando-me e a abraçando.

— Foi muito bom te conhecer. _Não minto. A companhia dela foi muito agradável. O ruim era quando ela entrava em assuntos mais íntimos e eu não tinha o que falar.

— Eu virei mais vezes e dessa vez não vai mudar de assunto. Vai me ensinar tudo que sabe. _Se afastou.

— Donatella, se apresse.

— Calma tio. Sua namorado nem me contou o tamanho da sua vara...

O Gianluca chegou como um louco e arrastou a menina pelo braço, deixando-me embasbacada com a brutalidade. Ela era magrinha e frágil, poderia machuca-la, mas ele não se importava muito com isso.

Eles que são brancos que se entendam.

Volto a sentar na cadeira e pego meu sorvete.

— Em fim paz. _Era ele, esfregando o rosto e passando por mim.

— Realmente deixaria sua sobrinha virar prostituta só porque dormiu com um homem por escolha própria? _Pergunto. Não sei sua expressão porque observo meu sorvete derretendo e ele está atrás de mim.

— Eu não posso salvar todo mundo da desgraça. Não sou Deus.

Ouço e reviro os olhos.

— Mas ela vai ficar bem?

— Fiz o possível para que sim.

Respiro fundo.

— O possível é quebrar a cara do seu irmão?

Ouvi seus sapatos e ele deu a volta na mesa.

— Você não pode simplesmente subir para o seu quarto e parar de me fazer perguntas?

— Posso. Mas não vou.

Seu olhar é escandalizado.

— Ficou quatro horas com a minha sobrinha rebelde e já está agindo como ela. _Bateu na mesa, furioso.

— Eu não sou influenciável. _Raivosa, enfio a colher no sorve e trago até a boca. O encaro e ele me observa com firmeza. — Por que está sendo grosseiro comigo?

— Você está sendo intrometida.

— O senhor me ensinou isso. Não foi você que me enfiou aqui na sua casa? _Elevo uma sobrancelha.

— O que você tem?

— Ódio.

— Ódio de mim?

— Não.

— Ontem você tinha.

— Ontem foi outro dia e eu não me orgulho.

— É um pedido de desculpas?

— O senhor precisaria se desculpar primeiro. Eu tive uma dor de cabeça terrível.

— Não te obriguei a passar dos limites.

— Você queria que eu passasse. _Admito e levanto-me, levando a taça até a pia e pousando dentro.

Viro-me e choco em seu corpo forte. Imediatamente, olho para cima, seus olhos azuis revoltos.

— Eu quero saber o que está acontecendo com você e com sua cabeça?

— Comigo nada. Eu estou perfeitamente bem e minha cabeça, você já sabe quais os problemas me assombram.

— Mas tem algo errado. Você está me enfrentando e até então não tinha feito isso.

— Você inventou aquilo ontem. Não me convidou para beber de livre e espontânea vontade. Você me usou igual a eles. _Meus olhos ardem. — Depois o senhor me questiona porque prefiro a presença do Dante e não a sua. Você faz as coisas por baixo dos panos. É frio e não se importa com as pessoas desde que consiga alcançar o que quer. _A lágrima escorre. — Se queria que eu assinasse a maldita linha pontilhada, era só pedir. Não precisava me embebedar.

— Você entrou no meu quarto.

— Vai me matar por causa disso?

— Não.

O empurro.

— Vai pro inferno. _Resmungo, passando por ele e voltando quase cambaleando quando ele puxa.

Espremo os olhos com tanta força que dói muito.

— Não me dê as costas. _Rosnou, rastejando sua mão por meu pulso e me trazendo para mais perto. Fiquei perdidamente assustada ao tê-lo grudando seu corpo grande no meu tão pequeno. — Eu não suporto vê-la com medo. _Soltou meu pulso e veio segurar meu rosto, descendo o seu e encostando a testa na minha.

No mesmo instante abrimos os olhos juntos e respiramos, então aconteceu o que eu não temia. Ele me fez andar para trás e eu bati o corpo na pia.

— Não...

Peço e ele uniu nossos lábios com urgência. Eu mantenho minha boca fechada e choro, usando o tato para chegar até a gaveta, pegando uma faca e usando-a para esfaquea-lo na barriga inúmeras vezes.

Abro os olhos e percebo que ainda estamos no meio da cozinha e que foi tudo fruto da minha imaginação. O único risco que corro é do seu olhar penetrante.

Trago uma mão até seu rosto e fascinada contorno dois dedos em seus lábios, ficando sobre as pontas dos pés, emolduro as mãos em seu rosto perfeito, então uno nossas testas e percebo que o perigo nunca foi tão saboroso quanto a união dos nossos lábios.

Tudo poderia ocorrer naquele momento se o seu maldito perfume não me remetesse aos meus dias de infelicidades nas mãos daquele mostro.

Desprendo nossas bocas e ele me permite se afastar e eu o dou as costas, chorando.

Está tudo bem Maya... Tudo bem.







CONTINUA...

Caraca 😯😯😯😯

LUZ NO INFERNO (1)Onde histórias criam vida. Descubra agora