Capítulo 21

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De repente, ouvi o barulho do clique da porta. Andrew voltaria para terminar o serviço. Quando ele entrou no quarto, vi que estava com os cabelos bagunçados, a camisa toda aberta e fedia a álcool puro. Andrew estava com um copo de Whisky na mão, e a garrafa na outra. Tentei fechar os olhos não pensando no que ele iria fazer agora. Me encolhi com medo e ele apenas se sentou na beirada da cama e pude perceber seu semblante arrependido, triste, vago... Permaneci em silencio preocupada com o que poderia acontecer. Andrew bufou e fechou os olhos.

— Norma foi minha madrasta, ela acabou com meu pai. — Olhei para ele que começava a falar arrastando as palavras.

— Hoje eu tive a maior prova de que eu estava certo. Vocês mulheres não prestam. Meu pai... nunca teve sorte, primeiro a vadia da minha mãe. Colocou eu e Pietro no mundo, e sumiu com um qualquer no meio do mundo e nem quis saber da gente, levando tudo de casa, nos deixando sem nada. A sorte que meu pai tinha dinheiro o suficiente para nos manter, ele já estava negociando a compra de cassino. Depois veio a Lucy, ela era bem mais nova que meu pai, ela praticamente nos criou, nos dava comida queimando nossas bocas, nos batia, tratava mal dizendo que tinha nojo do meu pai e de seus filhos, que ela um dia se livraria daquilo, quando acumulasse bastante dinheiro. Ela transava com o caseiro na minha frente, eu tinha apenas 7 anos de idade e quando eu contava ao meu pai, ele me agredia achando que eu estava sendo maldoso e querendo acabar com seu relacionamento. — Andrew não parava de falar, embolado, mas contando tudo... o porquê ele odiava mulheres para se relacionar.

— No final, a vadia da Lucy se mandou abandonando meu pai que fazia tudo por ela, a ponto de deixar eu e meu irmão de lado. — Ele suspirou tomando um bom gole de seu Whisky.

— Depois veio a maldita, Norma. Essa mulher... — Ele fechou os olhos. — Quando eu estava com 8 anos, Norma veio morar com meu pai. Quando meu pai ia para as viagens, Norma maltratava a gente. Sabe... meu pai, outro filho da puta! Nunca acreditou no que eu falava, ele dizia que eu tinha implicância com Norma, até porque na frente do meu pai ela nos tratava feito um anjo, como se fosse a melhor madrasta do mundo. Ela batia muito em Pietro, me amarrava para me agredir de uma forma que não deixava marca. Apenas puxando meu cabelo. — Andrew deu um soco no colchão.

— Um dia meu pai teve que fazer uma viagem...longa, Pietro dormia no quarto ao lado do meu, e eu como estava com medo daquela mulher..., eu escutei risada dentro de casa, decidi prestar a atenção, era a voz de mulher e de homem rindo alto. Vi que era Norma, chupando um pau de um cara e cheirando pó, bem na sala. Quando ela me viu a olhando, ela correu para me pegar. Foi horrível. Ela conseguiu me alcançar e o pior aconteceu. — Andrew fez uma pausa tomando o whisky. Eu estremeci imaginando o quanto Andrew era fragmentado com seu passado sombrio.

— A filha da puta, maldita, mandou o homem que estava com ela me abusar. — Engoli seco e encarei a expressão de dor que saia dos olhos de Andrew. Ele deu um sorriso amargurado. Naquele momento todo o sentimento ruim que eu sentia por ele, foi substituído por compaixão, preocupação e algo que eu não sabia explicar.

— Eu nunca contei isso pra ninguém, nem Pietro sabe, é vergonhoso... Guardei aquilo comigo até hoje. O homem me forçava a tudo que você possa imaginar... — Fechei os olhos imaginando um menino indefeso sendo submetido a diversas barbaridades. Andrew suspiro pesadamente e deu uma outra golada no whisky e sorriu amargurado.

— No final, minha madrasta me agrediu, ao ponto de me deixar preso, com fome, com sede e com medo. Meu pai só voltaria no mês seguinte, e ela aproveitou para fazer tudo isso comigo. — Finalmente consegui abrir a boca e indaguei:

— Mas... e você não contou para seu pai? — Perguntei fracamente e ele me encarou com os olhos tristes, vazio e vulnerável.

— Como? Essas vadias sabiam seduzir ele. Mostrava ser carinhosa, dóceis, uma ótima dama perante a sociedade. O que eu poderia fazer? Falar o que não podia provar? Eu tentei com a outra madrasta e meu pai não ouviu e ainda se culpou por ela ter largado dele, por ele viver viajando a negócios, montando o Cassino. Quando cresci ela parou de me maltratar, até porque eu já não dava mais mole pra ela.

— Ela nunca maltratou o Pietro? — Perguntei confusa ele assentiu.

— Sim. Maltratou, mas com ele, ela pegava leve, comigo era sempre pior, porque eu a vi usando drogas e chupando um cara na sala. Ela sempre me ameaçava por isso... Dizia que seu eu contasse, ela mandaria os caras me pegarem e me matarem abusando até eu morrer. — Senti um bolo na garganta.

— Os anos se passaram, Norma me deixou em paz finalmente, mas mantinha seu amante escondido, eu estava decidido a provar ao meu pai o tipo de mulher que ele tinha em casa, eu queria matá-la, mas meu caráter não me permitia, ainda eu tinha um resquício de sentimento. — Andrew bebeu dessa vez no gargalo e fez uma careta.

— No final, meu pai chegou em casa antes da hora, ele estava prosperando intensamente no Cassino, nesse dia, ele decidiu vir pra casa mais cedo, eu sabia que Norma estava na cama com um cara e puxei a mão do meu pai para mostrar o que ele nunca acreditou, porque a vadia, sabia seduzi-lo, dizendo que o amava. Ele entrou no quarto sem acreditar em mim e a pegou na cama com o amante, usando drogas e fodendo. Meu pai não aguentou, pegou uma arma e a matou, depois matou seu amante e o matou. Eu vi tudo, eu estava presente. Por sorte, Pietro dormia na casa de um amigo na escola, ele não viu nada e eu cuidei para que ele não soubesse como foi a morte de nosso pai. Ele soube que meu pai morreu com disparo de arma, eu subornei, polícia, jornais e revistas, contornando tudo o que aconteceu. Meu pai merecia morrer em paz, sem ser exposto ao ridículo. Mandei divulgar que meu pai, morreu por causa de um assalto. — Ele fez uma pausa e eu abaixei o olhar.

— Por isso eu as odeio tanto! Todas as mulheres que passaram na vida do meu pai, nos fizeram sofrer. Eu perdi meu pai por causa daquela filha da puta, fingida! E você lembra a beleza dela, quando eu te vi naquele dia no Cassino... eu queria ter controle sobre você e te tratar mal. Apenas porque você parecia com ela é como se isso de alguma forma aliviasse a alma daquele menino que foi morrendo aos poucos até ser enterrado junto do seu pai. Eu nunca confiei em mulher nenhuma, sempre me bloqueei pra sentimento. Sempre acreditei que se me apaixonasse, minha vida se arruinaria como a vida do meu pai.

— Você não pode pensar assim... — Eu disse brandamente e ele socou o chão de forma lenta devido ao álcool em seu corpo.

— Todas vocês no fundo são assim, no início são dóceis, amáveis, apaixonadas, mas no fundo são fingidas, falsas e na primeira oportunidade, nos trai. Pietro mesmo vivenciou isso com sua última namorada, a vadia se dizia apaixonada por ele, mas quis dar pra mim, eu gravei tudo e mostrei a Pietro, porque ele estava como meu pai, cego. Não acreditava em mim, achava que eu estava implicando porque eu tenho aversão por relacionamento e sentimento entre homem e mulher. E hoje, quando eu a vi na cama com Pietro, eu lembrei de toda a cena que eu vivi. Senti na pele o que meu pai sentiu... Você é como Norma. Idêntica, todas vocês são assim... Não confio e nunca vou confiar em nenhuma mulher! — Eu finalmente percebi que Andrew era traumatizado, e queria se vingar de todo tormento que viveu em sua vida, só que ele não era pra ser assim, Andrew precisa de ajuda psicológica. Ele passou tudo isso sozinho e sem contar nada a ninguém, e sei que ele só me contou porque está completamente bêbado e amargurado. Eu não podia sofrer assim, eu não tinha culpa pelo que ele sofreu... senti a lágrima rolar do meu rosto e vi que Andrew se ajeitou na cama deixando a garrafa no chão e adormeceu. O que eu poderia fazer para salva-lo desse trauma? Infelizmente nada. Acabei adormecendo também... ao lado de Andrew...

 ao lado de Andrew

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A Prometida: Uma Proposta Irresistível - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora