Capítulo 19

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                        EMILY

O sinal do intervalo tocou e eu quase me joguei no chão e me ajoelhei para agradecer pois eu já não aguentava mais ouvir sobre Sócrates ou Plutão, fala sério esse cíclo já devia ter se encerrado.

— Emy, já soube que a Lara vai dar uma festa? — Raquel surgiu do meu lado.

O corredor estava cheio, as pessoas andavam e falavam todas ao mesmo tempo e apesar de já estar acostumada com o caos do intervalo o barulho ainda me incomodava.

— Não. — me limitei.

— Sério? Que estranho, quase sempre ela te convida. — senti o veneno em forma de ar, o ar que saía de sua boca.

— Pois é. — me desviei de alguns alunos e desci as escadas rumo à quadra coberta.

Adentrei a quadra e caminhei até o banheiro onde não entrava quase ninguém por ser pequeno e longe da quadra externa e de todo o resto. Me encostei na bancada e encarei o meu reflexo com um olhar totalmente perdido, sem rumo.
Não. Ir as festas da Lara não me preocupavam e sinceramente eu nem gosto de festas, ou talvez goste mas nada parecido com o que a Lara acha divertido. E essa é a minha preocupação.

O que há de errado comigo?
Meu olhar se desviou ao sentir uma presença e para a minha infeliz surpresa a maloqueira parou na entrada fumando um cigarro e guardando o isqueiro no bolso, ainda não tinha me visto mas ao subir o olhar se deparou com o meu e um sorriso tomou conta de seus lábios naturalmente e levemente avermelhados.
Revirei os olhos e respirei fundo, em seguida meus olhos acompanharam seus passos lentos em minha direção até que ela parou ao meu lado na bancada porém de frente pra mim. Seu olhar se fixou em algumas partes específicas do meu corpo enquanto de sua boca saía uma cortina de fumaça. A situação já estava me incomodando então me virei de frente para a maloqueira.

— Algum problema? — tentei soar intimidadora mas acho que não deu muito certo pois ela continuou sorrindo desta vez achando graça da minha pose.

— É, cê pode me tirar uma dúvida? — deu uma tragada em seu cigarro que ao contrário dos outros não era fedido, tinha cheiro de menta.

Cruzei os braços e não respondi, mas isso deu espaço para que ela se aproximasse ainda mais e me pusesse contra a parede, seus lábios se entreabriram e soltaram uma leve curtina de fumaça com gosto de menta, algo que pude sentir já que nossos lábios estavam muito perto. Seus lábios pareciam tão macios que quase senti vontade de tocá-los, quase.

— Qual é a cor da tua calsinha? — algo me assustou, uma sensação repentina me fez empurrá-la.

— Sua... — as palavras não saíram. — Sua... — me vi com dificuldade de acabar uma maldita frase. — Sua maloqueira! — foi o que conegui dizer sentindo o meu rosto queimar de raiva pela insolencia dela.

— Que linda cê fica vermelhinha. — debochou.

Como um tornado caminhei em direção a porta e no caminho empurrei a Maloqueira.

— Sai! — falei ao colidir com ela. Isso não a incomodou, muito pelo contrário. Quase pude jurar que ela ainda estava rindo atrás de mim.

— Ei ursinha volta aqui. — ouvi sua voz ficando longe. — Sua medrosa! — senti o tom de zombaria.

Só depois de me afastar completamente do banheiro é que senti meu coração batendo em disparada como se eu tivesse percorrido uma maratona.

O que foi isso? — me perguntei enquanto tentava voltar de pernas bambas para a sala.

MaloqueiraOnde histórias criam vida. Descubra agora