Capítulo 13

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BOÁRA

Mina de rua. Isso não me ofende e nem magoa tanto quanto ouvir a vadia dizer com frieza que me fazia de otária.

— Legal. — encarei o nada pra não olhar pra cara dela.

— Bô, me perdoa...

— Tu é uma vadia! — cuspi as palavras antes que ela desse o passo que pretendia dar. — Cê me fez de otária sua piranha!

— Amor...

— Amor é um caralho Lara! — dessa vez foi eu que me aproximei. — Tá ligada que eu podia quebrar a tua cara aqui? Tá ligada que eu podia te arrastar nessa porra de asfalto e te bater até.. — dei um tempo pra respirar.

— O lance dos teus amigos e da porra da ex era mentira né? — ela baixou o olhar.

— Eu fiquei com outras meninas antes de você mas não tive uma ex. — admitiu. — Mas poxa, eu não quis parecer idiota perto de você que já teve muitas experiências e...

— Vai se fuder garota! — interrompi. — Na real, cê não vale a pena. — balancei a cabeça em negativo. — Mas eu vou te dar o troco, sakô? Comigo ninguém brinca, fica ligada.

Subi os poucos degraus em direção ao portão.

— Espera. Espera! — Lara me puxou e se jogou em mim. Seus lábios tocaram os meus e confesso que por um momento senti alguma coisa. — Nós duas contra o mundo, lembra? — sua voz rouca me fez lembrar da gente e de toda parada que vivemos.

— Você é a minha gatinha borralheira. Minha gata de rua. — suspirou. — Eu não vou te deixar se afastar de mim, entendeu? Eu não vou!

— Preocupa não gata, eu não vou me afastar. — sussurrei. — Pro teu azar. — completei.

Lara entendeu e empalideceu por um instante. Afastei seu corpo do meu e finalmente consegui abrir o portão, entrei e o fechei deixando a vadia do lado de fora.

— Você vai voltar pra mim, ouviu Boára? — ouvi seus gritos. — Eu não sou garota de desistir e se você quer brigar ok, vamos brigar! — continuou.

Me sentei no degrau da escada já do portão pra dentro e fiquei lá fora olhando pro portão por um bom tempo. Acendi um cigarro e enquanto a fumaça tomava conta do meu rosto minha mente viajava.
Vem ver se tu aguenta a pressão, vadia!

[...]

A sala da diretora estava vazia e a assistente dela não me viu entrar assim como o inspetor também não. A aula de ginástica rolava enquanto eu arrumava tudo, mas Giulia disse se encarregar de colocar presença pra mim sem perguntar o motivo pelo qual eu ia faltar a aula.
Mina legal, e além de tudo muito gata. Na boa, eu tô louca pra pagar o favor.
Olhei ao meu redor analisando o lugar, reparando nos detalhes de decoração. O cheiro de regras e falso moralismo fluía por todo canto como em todas as outras escolas em que eu já estive, a diferença é que as pessoas escondem segredos diferentes. O diretor Pézão Jubileu tinha fetiche por pés, a senhora Elizabeth "Certinha" era ligada nos novinhos e essa aqui... — encarei as algemas eróticas na última gaveta (os melhores segredos tão sempre nas últimas gavetas. Pode crer.), seguida de abri-la. — Essa diretora é ligada num sado. — ergui uma sobrancelha em resposta ao que vi. Fechei a gaveta novamente e me liguei ao plano, olhei para a caixa encima da mesa que eu mesma tinha colocado e tirei a parte de cima só pra checar se estava tudo em ordem.

— Cara, tu é feio pra caralho. — sorri ao olhar para o sapo enorme dentro da caixa.

— E nojento também. — o peguei e o bicho se mexeu bruscamente. — Tá legal, sem ofensas. Foi mal. — ergui o sapão que nem ligou pra mim.

MaloqueiraOnde histórias criam vida. Descubra agora