Capítulo 60

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                      E M I L Y


1:00 da madrugada e eu ainda estava acordada, um dos motivos era Lara que só quando eu prometi comprar cremes novos e até melhores é que ela conseguiu dormir, o outro motivo era a garota maluca que estava deitada na cama quase que de frente pra minha enquanto escutava música no fone de ouvido. Boára me encarava vez ou outra e eu tentava desembaraçar o meu cabelo todo, que ela com aquela mão pesada, embaraçou.

— Se não dormiu com medo de eu te matar à noite... — disse após tirar o fone do ouvido. — Tu tá é bem certa.

— Eu não tenho medo de você. — observei seus movimentos.

— Mas devia ter. — a maloqueira se levantou da cama e caminhou até a minha.

— Por que você não me deixa em paz? Caramba, me esquece! — ela se sentou na minha frente e se inclinou o bastante pra ficarmos muito perto.

— É o que tu quer? — ela se aproximou ainda mais.

— É... — assenti. Não movi um músculo, já não tinha mais forças pra rejeitá-la caso ela tentasse me beijar, não pensei em resistir. Fiquei apenas sustentando seu olhar audacioso cheio de pretensão. — Para de me olhar assim, ok. — baixei o olhar. Sentir seu cheiro era uma tortura, um pesadelo.

— Assim como? — ela seguia cada movimento meu, observava cada gesto.

— Me deixa em paz maloqueira. —pedi, quase implorei. — Só, finge que eu não existo, tá.

Depois de me encarar por um tempo ela assentiu.

— Nem vai ser difícil. — ela se levantou.

— Você é uma idiota. — dessa vez foi o meu coração quem me obrigou a dizer.

— E tu é uma otária sem cérebro, mas de boa. — deu de ombros enquanto deitava em sua cama. Lara se mexeu, achei que fosse acordar mas ela apenas virou para o outro lado. — Tô vendo que cê não serve nem pra uma trepada. — ela tirou a calça e jogou no chão ficando apenas de camiseta e boxer.

— Sua imbecil! — joguei uma caneta com a intenção de acertá-la mas com a minha péssima pontaria a caneta voou longe dela.

A maloqueira fingiu não me ouvir e se pôs a dormir. Indignada com o que ela havia dito fiquei com um bico do tamanho do mundo, por um tempo.



[...]

Nada como uma manhã de sábado fria em um lugar maravilhoso pra me fazer sentir relaxada apesar dos problemas e dos desafios. A noite foi péssima e incômoda, mas eu poderia esquecer tudo e passar um dia maravilhoso, contanto que estivesse longe daquilo que me fazia mal.

Alguns alunos foram fazer trilha com a professora Karla mesmo no frio, outros assim como eu ficaram com o professor Tobias. Fomos passear e ver as flores mais bonitas da estação, andamos de bonde urbano, teleférico e paramos para tomar café num chalé maravilhoso com a mesma arquitetura do lugar, no estilo Suíça.

Campos do Jordão é tão anos 80 e isso me cativa, já visitei uma vez antes mas não olhei com tanta atenção como olho agora. É um lugar turístico e talvez isso seja um ponto negativo mas ainda assim é lindo e tem um ar tão gostoso.

Não é possível que você não goste disso Lara. — pensei ao olhar pra toda aquela maravilhosa paisagem pela janela do chalé enquanto sorvia um gole ou outro do meu chocolate quente.

— Você parece mais calma hoje. — a mão de Gustavo estava onde deveria estar, acariciando a minha mão e não as minhas pernas. Ele se sentou no banco acolchoado ao meu lado.

— É, acho que eu precisava respirar de verdade. — sorri.

— Não se preocupe, eu vou falar com aquela garota e ela vai parar de te perturbar. — levou minha mão a seus lábios.

— Não. — balancei a cabeça lentamente e dei de ombros. — Não vamos falar dela, ok? — mordisquei o lábio inferior no intuito de frear meus pensamentos. — Infelizmente ela está aqui, mas eu quero curtir a viagem então... — dei de ombros novamente. — Só, não fala dela por favor. — fechei os olhos por um breve instante e entendi que aquela garota me afetava mas que apesar disso, a viagem seria perfeita.

— Tudo bem. — disse Gustavo apertando levemente a minha mão. — Que tal se fizermos um programa legal mais tarde, só nós dois? — passou o braço por cima dos meus ombros. — Eu fiz um lance legal e eu acho que você vai gostar. — falou manso no meu ouvido.

— Que "lance" é esse? — o olhei desconfiada.

— É surpresa. — beijou minha testa. — Diz que topa. — ele fez aquele bico que sempre me convencia.

— Ok. — assenti uma vez, indecisa me perguntando se seria certo.

— Prometo que não vai se arrepender. — me envolveu num longo selar de lábios.

Sexo ainda é algo significativo pra mim, apesar de não ser tudo aquilo que eu imaginava. Gustavo foi o primeiro e o único, mas não estamos mais juntos e algo se partiu desde que ele foi embora, não importa o quanto nos falemos por mensagem ou por telefone, tem algo em nós dois que talvez tenha mudado pra sempre e esse foi o motivo pelo qual concordei sem realmente concordar.

MaloqueiraOnde histórias criam vida. Descubra agora