Capítulo 66

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                        E M I L Y


Horrível! Foi horrível, achei que de alguma forma tinha sido picada por aqueles escorpiões, o medo me paralisou de tal forma que se não fosse a Bô eu provavelmente teria sido ferida.

Como aqueles animais foram parar na cama dela? Será que alguém os colocou lá? Não faz sentido, quem faria uma coisa tão horrível? A maloqueira podia ter se machucado ou até...

— Não, seria horrível se acontecesse algo de mal com a maloqueira. — meus pensamentos falaram alto.

— Pensando em mim ursinha? — senti um arrepio me tomar toda a espinha ao ouvir a voz da margem dos meus pensamentos. Boára com as mãos postas nos bolsos da calça me analisava, pela primeira vez sem aquela arrogância e malícia no olhar.

— Você não tem educação? — tentei colocar a minha armadura ao cruzar os braços. A maloqueira se sentou colocando os pés no banco e os braços sobre os joelhos.

— Cê não me respondeu. — ela parecia chateada, sequer me olhava nos olhos.

— É claro que não. — parei para repensar a resposta. — Quer dizer, sim e não. — me sentei no banco, de frente para os pés dela.

— Não do jeito que você pensa. — me adiantei. Ela deu um meio sorriso.

— Que jeito que eu penso? — voltou a debochar de mim.

— Daquele jeito escroto. — suspirei. — Quer saber, eu vou embora tá. — me levantei um pouco irritada e assustada com a variedade de sensações que aquela garota me trazia. Sensações novas das quais eu nunca sonhei sentir, e devo confessar que admitir algo assim mesmo que só pra mim, era um caminho perigoso.

Parei assim que olhei para trás e vi o olhar perdido da maloqueira, sem aquele brilho que ela geralmente carrega. Olhei para o pôr do sol e então voltei a olhar pra ela. Caminhei a passos lentos de volta para o banco, e ao chegar em seu campo de visão fechei os olhos por uma fração de segundos e me sentei.

— Você podia ter se machucado. — baixei o olhar. — E, eu também.

— É. — respondeu, apenas.

— Obrigada. — o agradecimento saiu num sussurro resignado.

— Pelo o que? — senti então seus olhos sobre mim, de novo.

— Você me tirou de lá, me ajudou. — mordi o lábio inferior. — Acha que alguém colocou aqueles escorpiões na sua cama?

— Sei lá. — deu de ombros. — Eu só tô ligada que tava rolando o maior amasso. — ela se sentou em posição de índio e se aproximou um pouco. — E a gente foi interrompida. — um vislumbre daquele brilho no olhar apareceu.

— Nossa, você consegue estragar até um agradecimento sincero. — revirei os olhos.

— Se liga só na ideia... — se aproximou mais. — A gente faz uma aposta. — sorriu.

— Aé? Que aposta? — olhei de relance para os lábios mais provocantes que eu já tinha visto.

— Eu aposto que tu num diz um "não" enquanto eu tiver te beijando. — a língua dela passou lentamente em seus lábios, deixando-os levemente molhados.

— Há! — soltei uma gargalhada. — Tá bom. — falei ironica enquanto me levantava mas fui puxada novamente para o banco.

— Só um beijin ursinha. — a mão da maloqueira pousou sobre minhas coxas. — Se tu disser um "não" eu fico na minha e nunca mais te encho.

— Você consegue cumprir uma promessa como essa?

O frio na barriga.

— Paga pra ver. — ela tirou o boné e jogou o cabelo para trás, os mesmos fios voltaram para frente dando um charme, mas essa não era a intenção dela. Os dentes marcaram de leve a pele em meu ombro, a boca subiu lentamente até chegar à minha, sem o atrevimento de tocá-la. A maloqueira estava esperando um "ok", qualquer vestígio de um "sim". — Um só. — o frio na barriga aumentou.

Então, mais uma vez resignada fechei os olhos sabendo que aquilo significaria um "sim". Resolvi não resistir mais, talvez fosse o cair da noite ou o fato de estar vulnerável e a maloqueira também.

— Bô! — uma voz nos tirou do transe, e quando abri os olhos Lara já havia me puxado e se sentado no banco em meu lugar. — Você está bem? — perguntou ela, parecia preocupada.

—Ain, Bô! — Giulia chegou e fui lançada contra a parede, acho que ela nem percebeu a grosseria, talvez ela nem tenha percebido minha presença. — Eu soube o que aconteceu, como você está?

— Bom, então... — olhei novamente para a cena em que Lara e Giulia verificam cada parte do corpo da maloqueira safada, que me olhava piedosa. — Eu estou indo tá bom. — mordi o lábio inferior a espera de ao menos um tchau por parte de Giulia e até mesmo de Lara. — Não se preocupem comigo, eu vou ficar bem. — continuei a falar sozinha. — Foi só um susto.

A maloqueira tentava tirar Lara de cima dela enquanto Giulia pegava em sua mão.

Idiota, é isso o que eu sou. E pensar que estive a ponto de deixar a babaca me beijar. — me retirei como pude, com a cara no chão e o coração na mão. Não entendi o motivo da minha decepção mas, mais uma vez me permiti sentir, o que eu podia fazer? Não dá pra controlar meus sentimentos.

MaloqueiraOnde histórias criam vida. Descubra agora