E M I L Y
Horrível! Foi horrível, achei que de alguma forma tinha sido picada por aqueles escorpiões, o medo me paralisou de tal forma que se não fosse a Bô eu provavelmente teria sido ferida.
Como aqueles animais foram parar na cama dela? Será que alguém os colocou lá? Não faz sentido, quem faria uma coisa tão horrível? A maloqueira podia ter se machucado ou até...
— Não, seria horrível se acontecesse algo de mal com a maloqueira. — meus pensamentos falaram alto.— Pensando em mim ursinha? — senti um arrepio me tomar toda a espinha ao ouvir a voz da margem dos meus pensamentos. Boára com as mãos postas nos bolsos da calça me analisava, pela primeira vez sem aquela arrogância e malícia no olhar.
— Você não tem educação? — tentei colocar a minha armadura ao cruzar os braços. A maloqueira se sentou colocando os pés no banco e os braços sobre os joelhos.
— Cê não me respondeu. — ela parecia chateada, sequer me olhava nos olhos.
— É claro que não. — parei para repensar a resposta. — Quer dizer, sim e não. — me sentei no banco, de frente para os pés dela.
— Não do jeito que você pensa. — me adiantei. Ela deu um meio sorriso.
— Que jeito que eu penso? — voltou a debochar de mim.
— Daquele jeito escroto. — suspirei. — Quer saber, eu vou embora tá. — me levantei um pouco irritada e assustada com a variedade de sensações que aquela garota me trazia. Sensações novas das quais eu nunca sonhei sentir, e devo confessar que admitir algo assim mesmo que só pra mim, era um caminho perigoso.
Parei assim que olhei para trás e vi o olhar perdido da maloqueira, sem aquele brilho que ela geralmente carrega. Olhei para o pôr do sol e então voltei a olhar pra ela. Caminhei a passos lentos de volta para o banco, e ao chegar em seu campo de visão fechei os olhos por uma fração de segundos e me sentei.— Você podia ter se machucado. — baixei o olhar. — E, eu também.
— É. — respondeu, apenas.
— Obrigada. — o agradecimento saiu num sussurro resignado.
— Pelo o que? — senti então seus olhos sobre mim, de novo.
— Você me tirou de lá, me ajudou. — mordi o lábio inferior. — Acha que alguém colocou aqueles escorpiões na sua cama?
— Sei lá. — deu de ombros. — Eu só tô ligada que tava rolando o maior amasso. — ela se sentou em posição de índio e se aproximou um pouco. — E a gente foi interrompida. — um vislumbre daquele brilho no olhar apareceu.
— Nossa, você consegue estragar até um agradecimento sincero. — revirei os olhos.
— Se liga só na ideia... — se aproximou mais. — A gente faz uma aposta. — sorriu.
— Aé? Que aposta? — olhei de relance para os lábios mais provocantes que eu já tinha visto.
— Eu aposto que tu num diz um "não" enquanto eu tiver te beijando. — a língua dela passou lentamente em seus lábios, deixando-os levemente molhados.
— Há! — soltei uma gargalhada. — Tá bom. — falei ironica enquanto me levantava mas fui puxada novamente para o banco.
— Só um beijin ursinha. — a mão da maloqueira pousou sobre minhas coxas. — Se tu disser um "não" eu fico na minha e nunca mais te encho.
— Você consegue cumprir uma promessa como essa?
O frio na barriga.
— Paga pra ver. — ela tirou o boné e jogou o cabelo para trás, os mesmos fios voltaram para frente dando um charme, mas essa não era a intenção dela. Os dentes marcaram de leve a pele em meu ombro, a boca subiu lentamente até chegar à minha, sem o atrevimento de tocá-la. A maloqueira estava esperando um "ok", qualquer vestígio de um "sim". — Um só. — o frio na barriga aumentou.
Então, mais uma vez resignada fechei os olhos sabendo que aquilo significaria um "sim". Resolvi não resistir mais, talvez fosse o cair da noite ou o fato de estar vulnerável e a maloqueira também.
— Bô! — uma voz nos tirou do transe, e quando abri os olhos Lara já havia me puxado e se sentado no banco em meu lugar. — Você está bem? — perguntou ela, parecia preocupada.—Ain, Bô! — Giulia chegou e fui lançada contra a parede, acho que ela nem percebeu a grosseria, talvez ela nem tenha percebido minha presença. — Eu soube o que aconteceu, como você está?
— Bom, então... — olhei novamente para a cena em que Lara e Giulia verificam cada parte do corpo da maloqueira safada, que me olhava piedosa. — Eu estou indo tá bom. — mordi o lábio inferior a espera de ao menos um tchau por parte de Giulia e até mesmo de Lara. — Não se preocupem comigo, eu vou ficar bem. — continuei a falar sozinha. — Foi só um susto.
A maloqueira tentava tirar Lara de cima dela enquanto Giulia pegava em sua mão.
Idiota, é isso o que eu sou. E pensar que estive a ponto de deixar a babaca me beijar. — me retirei como pude, com a cara no chão e o coração na mão. Não entendi o motivo da minha decepção mas, mais uma vez me permiti sentir, o que eu podia fazer? Não dá pra controlar meus sentimentos.
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Maloqueira
RomanceDizem que existe uma pessoa para cada pessoa. Alguém que vai chegar pra trazer o caos, te encher de dúvidas, te sacanear de vez em quando, te enlouquecer, acabar com o seu dia e te fazer chorar. As vezes essa mesma pessoa também vai te trazer paz e...