EMILY
— Droga!
Não pode ser. Além de ter que vê-la no caminho para o colégio, no colégio e na rua eu ainda tenho que me esbarrar nela numa festa. Sério, na mesma festa? Isso só pode ser brincadeira.— Tô achando que isso é destino. — disse ela como se tivesse escutando os meus pensamentos.
— Argh que destino horrível o meu. — cruzei os braços.
— Tu não vai pensar assim depois que a gente bater aquele papo. — a mão boba da maloqueira se embrenhou no meu cabelo atrás da nuca e me puxou pra tão perto que me faltou o ar.
— Que isso? O que você pensa que está fazendo? — a freei com uma de minhas mãos. Não foi o bastante para afastá-la, mas foi o suficiente para impedi-la de continuar.
— Tentando colar o velcro, mas tá difícil.
Meus olhos arregalaram ao entender a vulgaridade de suas palavras.— Você é uma... — a empurrei. — Quer saber, por que você não vai ficar com a sua namorada e me deixa em paz?
A maloqueira ergueu uma sobrancelha como se não tivesse entendido.
— Ãh? — perguntou, sem entender.
— Olha, eu vou deixar bem claro uma coisa, eu não gosto de você e eu tenho certeza que você também não gosta de mim, mas adora implicar comigo. Pra mim você não passa de uma maloqueira ridícula, uma babaca! Eu não te suporto entendeu? — disparei metade daquilo que estava entalado na minha garganta.Seu olhar finalmente mudou, passou de um ambiente caloroso para um ambiente hostil. Seus olhos passeavam pelo meu rosto, analisando algo internamente, talvez pensando numa resposta ou talvez pensando em me matar, mas antes que ela pudesse dizer ou fazer algo, decidi sair o mais depressa possível caso ela tentasse me alcançar. Não foi o que ela fez, me virei para trás e a maloqueira estava nos braços de alguém, beijando a mesma garota que a havia sequestrado, a garota de cabelo azul. Tive a impressão de que aquela era a resposta para o que eu disse, e se não fosse de certa forma me atingiu como uma agulha.
— Ei sardentinha, você viu a Giu? — Pedro ressurgiu de algum lugar com um copo cheio de alguma coisa. Peguei o copo de sua mão, tirei o cabelo do meu rosto o jogando para trás e fiz o mesmo com o copo, o virei sem dó na minha boca sentindo o líquido amargo e quente rasgar a minha garganta. — Vai com calma gata, isso é veneno. — alertou ele.
— Humm... — gemi de desgosto. — Não tinha um veneno mais doce? — pousei a mão no peito e logo em seguida tapei minha boca e sorri.
— Emy, você viu a Bô? — Giu apareceu também de algum lugar. — Emy? — a cabeça da Giu ficou grande e o rosto dela embaçado então eu acabei rindo. Rindo muito e sem parar.
[...]
Minha cabeça parecia uma panela de pressão, meu estômago estava roncando mas eu sabia que tinha algo errado já que ao mesmo tempo me sentia enjoada, eu não podia abrir os olhos porque sabia que tudo doeria mas me vi obrigada a abri-los ao ouvir o som estranho que parecia próximo, talvez fosse o ronco do meu estômago. Minha visão ainda turva tentava assimilar as coisas e o lugar, abri e fechei os olhos algumas vezes a visão foi melhorando, antes não tivesse melhorado, eu preferia continuar cega ao ver um garoto deitado na minha cama, ou pior, ao me ver deitada na cama dele. Passei a mão no rosto e voltei a olhar ao meu redor, as coisas estavam ficando claras demais e as poucas lembranças foram me tomando de tal forma que me assustei.
— Ai meu Deus! — me afastei do cara que não me era estranho e acabei caindo da cama. — Aaai! — ao sentir minha bunda dolorida percebi que eu estava apenas de camiseta. — Ai meu Deus, o que eu fiz? O que... — coloquei as mãos no rosto e comecei a chorar.
— Sardentinha! — ouvi a voz conhecida e finalmente me dei conta de que a pessoa que estava ali era Pedro, foi aí que me desesperei.
— Seu desgraçado! — me levantei furiosa e comecei a bater em seu peito nu. — Seu escroto! O que você fez?
— Ei, calma! — ele segurou os meus braços enquanto ria.
— Pedro, você é um filho da...
— Oh, sem colocar a mãe no meio. — disse se divertindo. — Calminha gata, não aconteceu nada. Não rolou nada! — senti meu rosto suavizar aos poucos e senti o maior alívio da minha vida.
Não, eu não sou virgem mas ele é o melhor amigo do meu ex-namorado, ou era, sei lá. E mesmo se não fosse, não faz o meu estilo transar com qualquer pessoa.
— O que aconteceu com a minha roupa? — procurei em todo canto, até no meu corpo, mesmo sabendo que eu vestia apenas uma camiseta enorme, me cobri com o lençol e voltei a olhar para o cara de olhos expressivos.
— Você vomitou nela e a Mariana colocou uma roupa minha em você. — ergui uma sobrancelha, o questionando. — Mariana é a moça que trabalha aqui. — explicou. — Acho que se eu te levasse pra casa teu pai ficaria uma fera então eu te trouxe.
Tentei novamente lembrar o que tinha acontecido, pequenos flashes tomavam a minha cabeça mas nada fora do normal.
— Pedro, o que aconteceu ontem? — ele disfarçou o olhar.
— Você não lembra?
Eu apenas balancei a cabeça em negativo. Pedro disfarçou o olhar e coçou a nuca.— Quer que eu comece pelo streep encima da mesa ou pelo beijo sacana que você deu na Giu? — meus olhos se arregalaram.
— O que? — perguntei mais pra mim do que pra ele. Pedro desfez a cara séria e deu lugar a expressão divertida. Ele estava tirando uma com a minha cara.
— Seeu babaca! Desgraçado! — bati nele novamente e ele voltou a rir.
Eu me lembrei de uma única coisa, aliás de uma pessoa. A culpa foi dela. A culpa foi daquela maloqueira idiota!
Não... a culpa foi minha.
Ai meu Deus, o que está acontecendo comigo?
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Maloqueira
RomanceDizem que existe uma pessoa para cada pessoa. Alguém que vai chegar pra trazer o caos, te encher de dúvidas, te sacanear de vez em quando, te enlouquecer, acabar com o seu dia e te fazer chorar. As vezes essa mesma pessoa também vai te trazer paz e...