Capítulo 43

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EMILY

Isso não pode estar acontecendo. Quer dizer, eu não posso beijar uma garota, isso é surreal, é...

Bom! E como é bom!

Os lábios dela são tão macios que a sensação é que estou beijando uma nuvem com gosto de tequila e halls, talvez. A pele lisinha, diferente de qualquer outra pele que eu tenha tocado dessa maneira. O cheiro de loção masculina mas que nela fica suave e tão gostoso. É um conjunto de descobertas sobre uma pessoa só em tão pouco tempo. — meu coração tão acelerado mostrava uma ansiedade jamais sentida antes. A língua da maloqueira, tão aveludada tocava os meus lábios e até minha própria língua com maestria. As mãos dela subiram mais um pouco levantando a barra do meu vestido e acho que isso me assustou, porque caí na real e desnorteada me afastei como um gato se afasta da água.

O que eu estou fazendo? — me perguntei ao tentar me levantar, mas ainda confusa caí ao lado da maloqueira, que parecia sonhar ou coisa assim mas que finalmente se deu conta de que eu tinha me afastado, então olhou pra mim e aquele sorriso se abriu.

— Sua.. — tentei mais uma vez me levantar e dessa vez consegui. Minha respiração não estava normal então não consegui completar a sequencia de ofensas que eu pretendia soltar.

— Aê ursinha, não para agora não mew! — ela se levantou. — Porra, tá mó frio e a gente tava se esquentando. — disse ela, meio sem fôlego assim como eu.

— Pois vai se esquentar em outra pessoa ok! — finalmente falei, mas não fui tão dura quanto pretendia ser. — Como você pode? Como... — passei a mão nos meus lábios. — Você é uma idiota. — o tom da minha voz saiu baixo, sinal de que a minha sanidade não estava cem por cento. Me virei de costas pra ela pois mal conseguia olhá-la.

— Pôh ursinha, tu tava curtindo que eu sei. — senti sua presença logo atrás de mim. — Que tal a gente continuar de onde parou, só que sem roupa? — sussurrou no meu ouvido e me abraçou por trás, mas tirei suas mãos de mim antes que eu fizesse besteira.
— Eu quero ir pra casa, agora! — tentei soar o mais brava possível quando na verdade eu estava assustada.

— Na real, tu é a maior chata! — disse irritada. A olhei incrédula. — É isso aí. Como tu pode ser tão idiota?

— Olha aqui sua babaca, chata é a tua avó, entendeu? — apontei o dedo. — E quer saber? Eu não aguento mais olhar pra sua cara então eu vou embora com ou sem você! — senti dor nos braços e na minha perna esquerda, percebi que estava arranhada e suja, e que a maloqueira também. — Quando eu chegar na minha casa eu vou esquecer que você existe.

— FFalô! Eu também nem vou me lembrar dessa merda de noite e desse teu beijin sem graça. — ela pegou o boné que estava jogado perto da árvore e quando ela o colocou na cabeça percebi que sua testa estava sangrando.

— Você tá machucada. — meio que sem perceber demonstrei certa preocupação e me aproximei para ver o ferimento mas ela se desvencilhou e se afastou.

— "Num" foi nada.

— Bôôô! — alguém a chamou e ao nos virarmos ao mesmo tempo para saber de quem se tratava, vimos Duca.

Finalmente.

O carro teve problemas durante o caminho mas nada tão sério, então pudemos seguir sem problemas maiores. Bô não falou mais comigo e nem eu com ela.

Essa maloqueira nojenta. Como se atreve a me beijar? Como ela se atreve?

— Ei. — chamei Duca. — Você bem que poderia colocar uma música né, tipo Avril Lavigne. — pedi e tanto ele quanto Bô soltaram um bufar disfarçado de sorriso.

— Ah tá. — disse Duca.

Me encostei novamente no banco e voltei a ficar calada, demorou meia hora para chegar em casa e já estava amanhecendo, nem percebi que tinha passado a noite inteira fora. Enfim cheguei no portão de casa, e olhando pelo retrovisor do carro vi que eu estava completamente destruída, minha roupa estava extremamente suja como eu já havia percebido antes, meu cabelo totalmente bagunçado e cheio de plantas, a minha maquiagem por mais leve que estivesse tinha borrado, o que fazia de mim no momento a irmã mais nova do Coringa. Saí do carro e olhei pra minha casa, respirei fundo e fui indo em direção ao portão como se estivesse indo em direção á forca.

— Quer ajuda pra subir a sacada? — perguntou Bô meio emburrada ao sair do carro.



[...]


— Não, obrigada. Meu pai já deve saber que eu não estou em casa e eu vou ouvir de qualquer jeito. — falei conformada. — Bô... — a chamei quando ela se virou pra ir embora.

— Manda. — aquele "manda" era na verdade um "vai pro inferno!".

— Você é uma idiota e tosca. — ela revirou os olhos sem paciência. — Mas, obrigada por ter tentado me animar hoje, acho que foi a única coisa boa que você fez. — a olhei fixamente.

— Eu acho que não foi a única coisa. — se aproximou. — Tá ligada aquele momento que... — nem terminou de falar e me beijou. Me beijou com a mesma intensidade que antes e por mais que eu quisesse evitar, não consegui deixar de sentir aquilo de novo. — Pronto, agora eu vou vazar e nem vou me lembrar desse teu beijo sem gracinha. Fui! — entrou no carro.

— Beijo sem gracinha? — nem tive tempo de me defender pois Duca arrancou com o carro. — Eu beijo muito bem, ninguém jamais reclamou. — cruzei os braços enquanto me explicava pra mim mesma.

Tratei de tirar a maloqueira dos meus pensamentos e me concentrei numa estratégia para entrar em casa sem ser vista e em caso de emergência (que era o meu caso) pensar numa desculpa muito boa pra ter passado outra vez uma noite de sexta inteira fora e sem avisar. Ao abrir a porta me deparei com um pai zangado e extremamente perplexo que me encarava com aquele olhar tempestuoso.

— Posso saber onde você estava? — perguntou num tom desaprovador e até mesmo ameaçador.

— Saí com uns amigos. — falei como se nada demais tivesse acontecido.

— Saiu com os amigos? — gritou. — Saiu com os amigos? Custava muito me avisar, custava muito vir pedir a minha permissão? O que aconteceu com você Emily? Você não é assim, eu esperava isso do teu irmão menos de você.

— Você sempre espera coisas da gente e não percebe que somos humanos e não máquinas. — disparei.

— Como é que é? — perguntou afim de que eu disfarçasse o que eu havia dito. — Eu não sei do que tanto reclama papai, juro que não sei o que você quer da gente se puxamos exatamente esse seu jeito impulsivo de ser. — falei e ele me olhou sem entender. — Vejamos, você simplesmente arrumou uma namorada e decidiu se casar, assim, do nada. — ele ía dizer algo mas eu o cortei. — Eu sei. Eu estou de castigo. — depois que terminei de falar as lágrimas surgiram e antes que pudessem descer freneticamente pelo meu rosto subi correndo para o quarto.

MaloqueiraOnde histórias criam vida. Descubra agora