Capítulo 38

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                       BOÁRA

Cara, tá frio pra caralho! Eu devia ter colocado uma blusa mais quente. E a ursinha que não aparece? Será que a chata vem? — Duca esperava impaciente dentro do carro. Qual é a dele? Eu é que tô passando frio e ele é que fica impaciente?

21:10 — a filha da puta já tava atrasada dez minutos.

Se ela me deixar plantada eu subo naquele quarto e roubo o beijo que eu tô tentando pegar na honestidade. É isso aí, lasco um beijo naquela boquinha rosa e delicada dela.
Ouvi um barulho e olhei para trás, a ursinha estava saindo de fininho pelo enorme portão da sua casa e ela não me viu por conta da árvore onde eu estava escondida. Assoviei e ela me olhou.
A ursinha se aproximou e quanto mais perto ela chegava mais eu sentia seu cheiro doce e suave. Ela usava um vestido preto um pouco solto do busto pra baixo e um sapato da mesma cor, por cima um sobretudo branco aberto. O cabelo solto voava contra o vento e suas sardas pareciam maiores o que a deixava ainda mais gata.

— Então tu veio. — abri um sorriso, não teve outro jeito.

— Eu vim pra dizer que eu não vou a lugar nenhum com você. — ela ergueu o queixo, mas não parecia muito decidida.

— Hum, ah é? — dei alguns passos em sua direção e ao me aproximar ela deu um passo pra trás. — E tu tá gostosa assim só pra me dar um toco?

— Eu... — ela me olhou, procurando palavras eu acho. — Eu vou sair.

— Ah, tu vai mesmo. — dei um passo a frente. — Tu vai, mas vai comigo. — em seus olhos pude ver a indecisão e um certo medo.

— Se eu fosse com você, pra onde nós iríamos? — cruzou os braços.

— Isso tu só vai saber quando a gente tiver lá. — estendi a mão e ela a encarou por um tempo, mordeu seu lábio inferior deixando transparecer sua indecisão mas lentamente estendeu sua mão e a colocou sobre a minha.
Ela arrancava mais sorrisos meus do que qualquer pessoa, o que não significava nada em especial só, era algo diferente.

Apertei sua mão e a puxei um pouco mais pra perto, ela tentou se soltar mas eu fui insistente.

— Calma ursinha, eu só quero te dar um cheiro. — meu rosto encostou no dela e pude sentir o cheiro adocicado. Senti sua pele um pouco fria por conta do vento gelado mas ela se afastou com a respiração quase tão ofegante quanto a minha.

— Que fique bem claro que eu só estou indo com você pra sei lá onde, porque eu preciso sair da minha casa. — ergueu o dedo indicador. — Então, se ficar com essas idiotices eu dou um jeito de ir pra outro lugar bem longe de você.

— Na boa... — ela olhou com atenção. — Cê fica um tesão toda bravinha. — sorri e ela revirou os olhos.

— E então, nós vamos a pé ou vamos pegar o táxi? — disse impaciente.

— Nem um e nem outro.

Ela bufou ainda mais impaciente.

— A gente vai nessa belezinha aqui. — passei a mão sobre a caranga velha do Duca que deu uma buzinada não muito alta.

— Vam'bora Bô! — apressou ele.

— Quê? Nós vamos nisso aí? — ela olhou cética.

— Achou que a gente ía de que? De jegue? — abri a porta de trás. — As patricinhas primeiro. — fiz menção ao banco de trás.

A ursinha se deu por vencida e entrou no carro. Antes de entrar na frente, me inclinei na janela e olhei pra ela com um sorriso idiota na cara e dei uma piscadinha que a fez sorrir sem graça.

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