Capítulo 36

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                       BOÁRA



Deixei Giulia em casa e apesar da treta ela parecia estar de boa. A única gata naquela escola que curti real foi ela, talvez pelo jeito desinibido de ser ou por ter sido legal desde o começo. Me senti impotente por não ter segurado aquele tapa antes de acertar o rosto dela, eu só queria ter feito alguma coisa.

[...]


— Não vai jantar? — o velhote entrou no quarto.

— Não tô com fome. — me ajeitei na cama cobrindo com a coberta dos pés ao pescoço.

— Está doente? — ele se aproximou da cama e pousou a mão na minha testa.

— Não. — respondi. Senti a necessidade de saber o motivo da pergunta, então o questionei. — Por que?

— Você já está deitada e não está com fome, isso é novo pra mim. — ele se sentou na cama, do meu lado.

— Tu esqueceu que me colocou de castigo? — fiz questão de mostrar um pouco do ressentimento. — Eu não posso sair.

— Não esqueci. — suspirou. — Mas você pode fazer outras coisas, como por exemplo jogar xadrez com o seu avô.

— Cê trapaça pra caramba e eu não tô afim. — me virei pro outro lado, o ignorando completamente.

— Tudo bem. — suspirou mais uma vez. — Você não toma jeito mesmo, não é? — fechei os olhos. — Amanhã vamos conversar sobre as suas notas, quero saber como está indo no colégio. — fez uma pausa. — Boa noite. — beijou o topo da minha cabeça. Ouvi sua respiração ficar distante e o barulho da porta se fechar.

Me levantei na maior pressa, coloquei rapidamente uma luva sem dedos somente em uma das mãos, coloquei também o meu boné, me olhei no espelho rápido só pra garantir que tava tudo em ordem. Achei que uma calça jeans um pouco colada mas nem tanto, uma blusa larga branca e uma camisa listrada vermelha por cima bastavam pra uma noite aparentemente calma, ou não. Arrumei os travesseiros por baixo do edredom, apaguei o abajur e olhei envolta pra saber se não tinha me esquecido de nada.
Claro que não! Não faço o tipo que leva bolsinha pra lugar nenhum, o máximo que carrego é a minha mochila escolar que vez ou outra acaba ficando no carro do Duca.

Será que a ursinha vai ter coragem de cair nesse rolê comigo? Na moral, quanto mais ela me rejeita maior a minha vontade de beijá-la.
Se ela tiver coragem, se ela vier comigo... — dei dois tapas de leve na minha cara pra ter a real certeza de que tava tudo certo e pra que eu despertasse.

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