Capítulo 48

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                        E M I L Y

Começou a última aula e Lara ainda não voltou, não posso dizer que aquele plano idiota da maloqueira tenha dado certo porque o celular da Lara está comigo e não é possível que ela tenha falado com o pai dela. O problema é devolver o celular, como vou explicar pra Lara que o celular dela está comigo?

— Emy! — Giu me tirou dos meus pensamentos. — Tá tudo bem? — se sentou na carteira ao meu lado.

— Desculpa eu estava pensando nas provas. — menti.

— Você sempre pensa nas provas até quando elas não existem. — Giu abriu seu caderno na última página, onde havia um croqui desenhado.

— E como você está? — eu quis saber, sinceramente.

— Ah, eu to bem. — ela sorriu. — Sabe, estou animada com as férias.

— Eu também não vejo a hora. — suspirei.

— Sério? Garota, eu sempre achei que você fosse se casar com o colégio. — brincou ela.

— Obrigada por jogar na minha cara que eu não faço nada de interessante na vida além de estudar. — ergui uma sobrancelha.

— Imagina. Jogar a verdade na cara das vadias nerds? É isso o que eu faço. — ela olhou do caderno pra mim e sorriu. Revirei os olhos em tom de brincadeira, e confesso que aquele breve momento de intimidade me fez sorrir também.

Começamos então a fazer os nossos deveres, enquanto eu copiava o que estava escrito na lousa, Giu continuava a desenhar o vestido que inclusive estava ficando lindo. Cogitei em dizer a ela o lance da Lara mas talvez não fosse uma boa ideia, pelo menos não por enquanto.


[...]

O sinal indicando o fim da última aula tocou, a sala foi ficando vazia até que só restamos Giulia e eu, não demorou muito tempo e Lara adentrou a sala de maneira estranha como se tivesse fugindo de alguém. Giulia e eu nos encaramos e voltamos a olhar para Lara que pegou seu material de cima da carteira e o colocou na bolsa.

— Lara, tá tudo bem? — Giulia a encarava.

— Vocês viram o Tom? — perguntou ela, mal-humorada.

— Achei que vocês estavam transando em algum banheiro por aí. — disse Giulia cruzando os braços, enquanto que Lara nem deu bola.

Antes que Lara finalmente saísse da sala uma música dos backstreet boys começou a tocar, o barulho fazia eco na sala mas parecia vir de algo pequeno como um toque de celular. Percebi então que se tratava do celular de Lara dentro da minha bolsa. Eu o tirei e não demorou muito para que a dona estivesse ao meu lado.

— O que você tá fazendo com o meu celular? — ela pegou o aparelho da minha mão. Senti o olhar de Giulia sobre mim, mordi o lábio inferior enquanto pensava no que dizer.

Legal, a maloqueira armou tudo e nem sequer voltou pra sala, e ainda me deixou numa saia justa. Sério, eu odeio essa garota.




[...]

— Não vai me responder? — Lara me fitava como se eu fosse uma ladra.

— Eu... — uma das mil respostas prováveis entalou na minha garganta e eu não consegui falar.

Não, eu não sei mentir e quando tento, ou entala ou piora a situação.

— Fala garota! — Lara deu um passo a frente, ameaçadoramente.

— Eu ach...

— Larga de ser idiota Lara, é óbvio que a Emy achou o seu celular e ía te devolver. — Giu se pôs a minha frente.

— A conversa não chegou no galinheiro. — Lara deu mais um passo ao mesmo que Giulia colocou as mãos na cintura afim de enfrentá-la. — Sai da minha frente garota.

— Quer saber, chega ok! — me pus ao lado de Giu. — Lara eu... — o barulho de algo se chocando contra a cadeira desviou nossas atenções.

A maloqueira havia entrado e jogado sua bolsa na cadeira, olhou para nós três e para o celular na mão da Lara. Enquanto caminhava em nossa direção arrumava o boné com a aba para trás.

— Ah, então a ursinha te entregou o telefone. — o ar de deboche pode ser perfeitamente notado em sua expressão.

— Como assim? — Lara perguntou.
— Eu...

— Achei lá no banheiro e soltei na mão da ruivinha, pra ninguém me chamar de mão leve. — ergueu as mãos. — Toma cuidado com as coisas gata, esse lance de esquecer qualquer coisa no banheiro dá prejuízo, tá ligada? — Lara semicerrou os olhos na direção da maloqueira que apenas sorria vitoriosa.

— Boára, eu... — o telefone de Lara voltou a tocar e bufando ela o atendeu. — Alô. — deu para ouvir alguns gritos mas nada que pudéssemos entender. — Pai? O que... — Lara parecia não entender nada, assim como nós três que apenas observávamos a expressão no rosto dela. — Pai! Calma, eu não estou entendendo. — ela pegou sua bolsa e sem nos olhar foi andando em direção a porta. — Espera papai, eu não to entendendo nada e você não pode me ameaçar assim, calma... — fez uma pausa. — Pai! — reclamou mais uma vez antes de finalmente deixar a sala.

Finalmente pude dar um suspiro de alívio.

— Alguém mais sente vontade de bater nela? — Giu ergueu levemente os ombros e sorriu, como uma criança animada.

MaloqueiraOnde histórias criam vida. Descubra agora