BOÁRA
Patricinha idiota, a minha vontade é de dar uma na cara dela. Oxe quem ela pensa que é pra me rejeitar e pisar em mim assim? Ela é pior do que todas as outras patricinhas da escola, pior até que a Lara. Essa mina não passa de uma idiota fútil
"Ai, os meus sapatos favoritos", "Ai eu não consigo correr", "Eu nunca mais quero te ver entendeu?" — fiz uma imitação falhada dela na minha mente.
Na boa, não suporto gente assim, não suporto! — comecei a subir até a janela do meu quarto, resmungando baixinho pro coroa não me ouvir, porque apesar de velho o cara ainda ouve muito bem.
— Se isso tudo é pra evitar que eu descubra, pode entrar pela porta. — a voz do meu velhote me fez parar na hora e fechar olhos por um instante. Respirei fundo e desci da árvore que tem próximo a minha janela. Olhei pro vovô que estranhamente não parecia bravo, só conformado e decepcionado.
Entrei em casa do lado dele. — Seu pai ligou e quis falar com você. — disse ele ao me ver subir as escadas.
— Ah é? Disse pra ele que aqui não mora ninguém que tenha pai, ou mãe?
— Ele vai ligar daqui a uma hora, e você terá que dizer isso a ele. — vovô saiu em direção ao escritório.
O que é que ele quer? Provavelmente tá afim de machucar alguém e como eu não tô lá... Ele é a pior pessoa que eu já vi, um verdadeiro mané cheio de tiranias e quanto a tal de mãe, essa poderia ser considerada pior que ele porque não dá a mínima pra pessoa que ela colocou no mundo, ela só pensa no dinheiro e no poder do tirano. Eu tenho nojo deles, eu tenho nojo!
[...]
Dormi o sábado inteiro e fui acordar cinco da tarde, minha testa estava um pouco dolorida por conta da queda e o meu corpo nem se fala. Tomei um banho rápido e coloquei uma roupa velha com a intensão de voltar pra cama a qualquer momento.Meu estômago deu um ronco, pensei por um momento que ele falaria. Então saí do quarto e desci correndo até a cozinha, tentei fazer o mínimo de barulho pro vovô não me ouvir ou me ver, pois sei bem o que aquele velho tá louco pra me dizer e sinceramente não tô de bom humor.
— Roberto... — ouvi a voz do velhote que vinha do escritório. — Você não pode fazer uma coisa dessas, eu vou falar com a Bô, ela virá te atender. — fui até a porta do escritório que tava aberta, vovô andava de um lado para o outro com o telefone na orelha e me parecia preocupado. — Por que você é tão cabeça dura Roberto? — então ele está falando com o tirano. Vovô se virou e me viu encostada na porta. — Espere um pouco que ela vai falar com você. — ele se aproximou de mim e me estendeu o telefone.
— Eu não vou falar com esse cara! — falei em alto e bom tom pra que o tirano pudesse ouvir.
— Ele é seu pai e quer falar com você mocinha, se tiver qualquer coisa de desagradável para dizer a ele, então diga você mesma. — vovô me entregou o telefone e saiu do escritório, me deixando sozinha, como sempre. Olhei para o telefone em minha mão e cogitei a ideia de desligar a porcaria na cara do babaca mas repensei e resolvi atender.
— Sentiu saudade? — perguntei ao colocar o telefone na orelha.
— Você ainda não aprendeu a me respeitar? — seu tom de voz autoritário não me causava nenhum pingo de medo.
— Não. — respondi.
— Então você não está aprendendo nada neste colégio em que te enfiei? Talvez você queira ir para um colégio interno na Espanha. Quem sabe assim, essa sua arrogância não se dissipe. — disse ele com aquela voz autoritária e calma, aquela de arrepiar.
Não liguei pra ameaça do colégio na "Espanha" e sim para o que aquilo realmente queria dizer.— O que cê quer? — perguntei
— Quero saber como vai o colégio, como andam os estudos? Arrumou algum namorado? — seu tom de voz agora era ameaçador.
— Cê sabe que...
— Não! Se diz "VOCÊ". Quando é que você vai começar a falar corretamente?
— Quando um tijolo acertar a tua cabeça e tu morrer! — disparei.
— Espero que você mude de atitude logo Bô, você sabe perfeitamente que não sou tão paciente quanto o seu avô. — ele fez uma breve pausa. — Sabe bem do que eu sou capaz, não sabe filha? — fez novamente uma pausa e agora seu tom de voz me assustou, conhecia bem aquela maneira de falar. — Bôô... você sabe bem do que eu sou capaz não sabe? — perguntou novamente e me lembrei daquele olhar psicopata assustador.
— Me deixa em paz seu maluco! — desliguei o telefone e o deixei cair no chão. Não deu pra evitar a primeira lágrima e as outras vieram sem o meu consentimento.
É, eu sei bem do que ele é capaz, eu sei muito bem! Mas isso não vai me intimidar, porque se ele é bom pode ter a total certeza de que eu sou melhor ainda. Se ele tentar fazer algo, eu juro...
Juro que acabo com a raça dele, eu juro!
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Maloqueira
RomanceDizem que existe uma pessoa para cada pessoa. Alguém que vai chegar pra trazer o caos, te encher de dúvidas, te sacanear de vez em quando, te enlouquecer, acabar com o seu dia e te fazer chorar. As vezes essa mesma pessoa também vai te trazer paz e...