B O Á R A
Giulia apesar de ser legal estava me saindo a cola em pessoa, depois que ela foi dormir restou Lara me tirando do sério com todo aquele papo de amor e "nós". A real é que talvez nunca tenha existido um "nós", nem mesmo quando eu pensava "seriamente" a respeito.
— Tem certeza de que está bem amor? — cara, era a décima vez que ela perguntava a mesma coisa.— Qual é Lara, tá zuando com a minha cara? — parei antes de entrar na praça de alimentação. — Eu já te falei que tô legal. — ela por sua vez, fez questão de demonstrar sua irritação. Bufou, contrariada.
— Dá pra largar de ser grossa? — cruzou os braços e desviou o olhar.
— Dá pra largar de ser grude? — a encarei.
— Talvez eu esteja exagerando, mas eu estou preocupada com você, vê se entende gatinha. — contornou seus braços no meu pescoço. — Você me prometeu uma conversa Bô. — acariciou o meu cabelo. — Já que está tudo bem a gente pode conversar agora.— Engraçado, a gente só bate um papo legal quando não tem ninguém olhando. — ri, nervosa. — Cê é mó pilantra Lara.
— Para amor, não fala assim. — fez bico, o que eu já não achava mais tão charmoso assim. — Deixa eu te explicar os meus motivos, ok.
Enquanto ela alisava o meu cabelo, mais pra frente além dela vi os moleques babacas da sala. Tom, Dario e mais uns caras sentados comemorando alguma coisa. Todos muito sorridentes, contentes e por algum motivo eu sabia do se tratava aquela merda.
— Bô! — Lara estalou o dedo na minha cara e eu voltei a encará-la. —Está me ouvindo?— Não. — tirei os braços dela do meu pescoço. — Eu tenho que ir.
— Que? Pra onde? — me olhou sem entender.
— Resolver uns lances. — falei já a caminho da mesa dos otários.
Sei lá, pensei em dizer um "oi".
— Finalmente entendeu que mulher tem que gostar de macho. — Tom, com certeza bêbado, se levantou e ergueu a caneca de qualquer coisa com álcool. — Senta aqui com a gente sapatinha. — piscou ele.— A gente soube o que aconteceu no seu quarto, vimos o corpo de bombeiros e a polícia. — disse o otário do Dario com sua falsa preocupação. — Tá tudo bem? —deu um meio sorriso.
Otários!— Hãram. — sorri ironica. — O melhor é que eu já tô ligada quem foi. — todos continuaram rindo e se divertindo as minhas custas. — E os "vacilão" vão rir muito agora. — peguei uma caneca de vodka em cima da mesa e joguei em Dario, peguei outra só que de cerveja e joguei na cabeça do imbecil do Tom que parou de rir no mesmo momento e se levantou num pulo.
— Sua puta! Enlouqueceu? — Tom me encarou furioso.
— Tu ainda não viu nada imbecil, porque aquela merda lá na minha cama eu vou cobrar caro. — ri, mas ri de nervoso.
"Um presente para você, sapatão" — era o que estava escrito no papel jogado no chão do quarto. Sempre que me lembrava daqueles escorpiões me lembrava também do maldito bilhete.
— O que está havendo aqui? —Karla chegou já me olhando. Então encarou os idiotas Tom e Dario. — Me digam que não estão bebendo. — disse séria e voltou a me encarar.— Nem olha pra mim. — ergui as mãos. — Eu só tava dando os parabéns pro Dario. — falei, séria o suficiente pra todos me olharem. — Cara, cê é muito corajoso. — encarei Dario que me fitava sem entender porra nenhuma. — Sair do armário assim na frente de todo mundo nem é fácil. Parabéns por assumir ser Gay, viado. — dei um tapa amistoso em suas costas. — Tu é o orgulho da escola. — sorri.
— O que? — Karla arregalou os olhos. — GAY? — perguntou, como se a palavra fosse um absurdo. A maluca começou a puxar o ar e os imbecis começaram a abaná-la. Saí do meio e caí fora, calma mas por dentro cheia de ira atravessada na garganta.
[...]
Foi difícil sair do quarto da Maria, a mina é gata mas surta quanto tá dormindo. Era quase meia noite e finalmente consegui me mandar pra ir encontrar os moleques. Andei por uma parte da mata que inclusive era de dar arrepios à noite, não tinha nada além de mato e se ouvia ruídos, provavelmente de alguns animais. Passei pela ponte como Duca descreveu, atravessei uma parte da mata e mais pra frente vi a tal casa velha que ele falou. Me aproximei do lugar e antes de bater na porta resolvi checar a janela que embora grande estava cheia de pó e não dava pra ver nada. O barulho da porta se abrindo me deu o maior susto, mas logo vi Duca com um cigarro na boca.
— Bô? — soltou um jato de fumaça.— Porra maluco, quer me matar de susto? —dei um soco em seu peito.
— Você demorou pra chegar, achei que nem vinha mais. — passou a mão onde eu bati.
— Aconteceu uns lances aí, por isso demorei. — adentrei a casa que por dentro tinha certa beleza, pequena e velha, mas aconchegante.
— Qual que é a fita? — perguntou Duca se sentando na poltrona velha.
— E aí Japa! — cumprimentei o cara de olhos rasgados que parecia cansado. — Abre o olho rapaz. — provoquei.
— Vai tomar no cu, Boára. — disse ele rindo.
Ao me virar pra Duca vi que Nandin comia um sanduba gigante que fez a minha barriga roncar. — E aí Nandin, e esse sanduba aí cara? — minha boca salivou só de olhar pra aquilo.
— Tira o olho! — disse ele abocanhando o sanduba.— Mané. — dei de ombros.
Contei todo o lance para os caras que pareciam um pouco bravos. — Caralho, eu vou matar aqueles mauricinhos filhos da puta! Eu juro que vou quebrar um por um! — Duca andava de um lado para o outro.
— Deixa com a gente Bô. — disse Nandin. — Essa a gente cobra.— Os mimados vão aprender como é que a gente faz na quebrada. — riu Japa.
— Ei, calma aí meu povo. — ergui as mãos. — Nada de surra valew. Deixa que isso eu vou cobrar até o fim dos tempos. — sorri. Os caras sossegaram um pouco e Duca voltou a se sentar.
— A gente trouxe uns lances aí. — disse Duca. — Tu e essa mente do mal vai curtir.
— E a minha princesa? — perguntei, ansiosa.
— Tá ali ó. — ele indicou com o dedo o objeto coberto por um saco preto em cima de uma pequena mesa. Me levantei e me apressei até o bang. Rasguei o saco e encarei o terrário como se fosse a coisa mais esperada do mundo, o abri e sorri pra minha princesa Doralice.— Tu vai abrir isso aí? — perguntou Nandin, um pouco preocupado.
— E aí princesa. — coloquei a mão no terrário. — Que saudade. Vem aqui me dar um abraço. — a jiboia relativamente longa, se enrolou na minha mão e depois no meu braço. A peguei e com cuidado a coloquei nos meus ombros enquanto o focinho de Dora tocava o meu nariz. — Sentiu minha falta, hein Dorinha?
— Mina, tu é doente véi. — Nandim estava realmente preocupado, então eu sorri.
— Nem acredito que o Ed deixou cês trazer ela. — fiz bico pra linda cobra.
— Sabe como é né. Nada como um chá de ameaças. — disse Duca. Olhei pro Japa e o cara já estava dormindo então, voltei a brincar com Dora.
— Tô ligada. — deixei a cobra subir meu rosto. — A gente vai tocar o terror né princesa? — sorri.
Ah, a gente vai.
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Maloqueira
RomanceDizem que existe uma pessoa para cada pessoa. Alguém que vai chegar pra trazer o caos, te encher de dúvidas, te sacanear de vez em quando, te enlouquecer, acabar com o seu dia e te fazer chorar. As vezes essa mesma pessoa também vai te trazer paz e...