Capítulo 2 :

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CARLA DIAZ

Foi a minha segunda vez cobrindo o brasileirão, mas a minha primeira no vestiário. Eu fiquei do lado de fora, em pé, com dezenas de outros jornalistas, e tentei parecer tão indiferente quanto eles. O grande problema era, eu tenho 1,53, baixinha demais, os demais me esmagavam.

A grande porta azul estava fortemente espancada, provavelmente vítima da frustração de um jogador.

Várias vitórias do campeonato enquadram a porta de grandes dimensões; o sinal da vitória do Flamengo do ano passado está estampado orgulhosamente no meio sob o logotipo da equipe.

Depois de alguns minutos, um segurança abriu a porta e fez sinal para que todos entrassem. Alguns repórteres levantaram suas credenciais enquanto passaram; outros, aparentemente, não precisavam de identificação. Caio, como o nome desgastado em seu uniforme de guarda indicava, saudou-os por seus primeiros nomes.

Alguns repórteres perguntaram como sua filha estava se sentindo. Aparentemente, Alice  havia recentemente quebrado o braço jogando basquete. Este era um grupo muito unido.

Eu estava ansiosa para entrar, mas certamente não com pressa. A multidão se dispersou rapidamente, deixando apenas quatro de nós no corredor.

Respirei fundo e andei para a porta, tentando não transparecer o meu medo.

Carla: Oi. — Eu sorri e levantei meu crachá, apontando para o dele. Caio Afiune.

Caio: Oi. CD — Ele balançou a cabeça.

Bom trabalho em não mostrar o meu medo. Eu passava a divagar quando estava nervosa. Ele olhou para mim, as sobrancelhas franzidas. Em seguida, pegou meu crachá, deu um tapinha no peito como se estivesse procurando os óculos de leitura, então suspirou e segurou o meu cartão a uma distância para ler.

Caio: Tem um nome do meio, Carla Diaz?

Carla: Carlinha. — Ele sorriu. — Carolina.

A troca boba fez com que eu me acalmasse e deixei escapar a respiração que não tinha percebido estar segurando. Caio me estendeu de volta o meu crachá.

Caio: Você é a filha do Carlos, certo? — Eu assenti. — Trabalhou aqui por trinta anos. Eles não poderiam gostar mais dele. Um dos melhores atletas que já esteve nesta sala. Sem ego. Um verdadeiro cavalheiro. Sinto muito pela sua perda. Foi uma perda para todo o esporte.

Carla: Obrigada. — Ele apontou para dentro do vestiário.

Caio: Esses meninos? Nada além de ego. Não os deixe atingir você, ok, Carolina?

Carla: Não deixarei. — Peguei minhas credenciais de volta com um aceno de cabeça e um sorriso esperançoso.

A primeira coisa que me surpreendeu quando me dirigi para o interior do santuário esportivo foi o seu tamanho. Eu tinha visto fotos suficientes para saber que os vestiários eram grandes, mas, ao ver tudo por dentro, a grande extensão instantaneamente me impressionou.

Largos armários estavam alinhados ao redor; a parte central era na maior parte de conceito aberto, com algumas áreas de estar localizadas. Cada área de estar tinha quatro poltronas largas de couro e uma mesa de vidro entre elas.

Tudo estava muito imaculado e organizado. Uma prateleira iluminada mostrava os nomes em cima de cada armário, e os jogadores estavam conversando com repórteres em todo o lugar.

O clima era leve e agradável, muito provavelmente devido ao placar no final do jogo: Flamengo ganhou por 2x0.

Ninguém pareceu notar a mulher solitária no centro da sala. Ou, se notaram, não pareceram incomodados. Meus ombros tensos relaxaram um pouco.

Encontrei Vinicius, meu cinegrafista, que já estava lá dentro, e vi que um dos atacantes Bruno Henrique não estava ocupado, então me dirigi a ele para fazer algumas perguntas. Ele ainda estava de uniforme, enquanto falávamos. Foi uma primeira entrevista fácil de conseguir e isso me deixou confiante.

Carla: Obrigada pelo seu tempo, Bruno — eu disse quando a câmera foi desligada.

Bruno: A seu dispor. E de nada. Você substituiu Frank Munnard, certo?

Carla: Isso mesmo.

Bruno: O cara era horrível. Fico feliz que tenha se aposentado. Ele falava metade dos nomes errados mesmo que estivessem escritos bem acima da nossa cabeça. — Ele inclinou o queixo até a enorme etiqueta acima do seu armário.

Carla: Obrigada, pela a entrevista. — Fiz um joinha a Vinicius assim que o jogador se foi.

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