Capítulo 76 :

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ANA

Desejo. Deve haver uma razão para que depravada comece com a mesma sílaba. Eu estava literalmente sentada no leito de morte da minha amada avó, e meu coração acelerou no minuto em que Arthur voltou para o quarto.

Vestido com uma calça jeans e uma camiseta térmica justa, ele virou o boné que ocultava sua identidade, e eu tive que forçar minha boca a fechar. Com o boné do Flamengo para trás e o cabelo saindo, ele parecia com o atleta por quem eu me apaixonei.

Arthur: Alguma novidade? — Arthur perguntou. Eu balancei a cabeça.

Ana: Eles a trouxeram de volta há alguns minutos. Estavam resolvendo as coisas e a enfermeira disse que os resultados já viriam também. — Ele pegou algo do bolso e estendeu a mão com a palma para cima, segurando um cartão magnético ou algo do tipo.

Arthur: Sua vez. — Minha testa enrugou. — Minha casa fica a apenas quatro quarteirões de distância. Você disse que mora na zona leste. Eu peguei na loja de presentes do hotel uma camiseta e uma daquelas calças de ioga que as mulheres usam e deixei no banheiro para você, caso queira se trocar.

Ana: Loja do hotel?

Arthur: Eu moro no Copacabana Palace.

Ana: Sério?

Arthur: Sim. Durante a temporada. Eu fico na cabana no resto do ano.

Ana: A cabana? Você ainda tem a cabana? Está terminada? — Ele sorriu.

Arthur:  Ainda estou trabalhando nela, mas está chegando lá.

A cabana afastada da cidade foi a primeira grande aquisição de Arthur quando se tornou profissional. O terreno era lindo, mas a casa estava um desastre. Ele queria reconstruir tudo sozinho. Eu só a visitei uma vez, mas as lembranças tinham ficado comigo.

Era uma das últimas boas semanas que tive antes que eu ficasse fora de controle da última vez. Nós tínhamos batizado cada quarto em nossa semana lá. Uma memória, em particular, se repete muitas vezes em minha mente.

Nós tínhamos acabado de fazer amor na frente da lareira com vista para o lago, e conversávamos sobre como gastar as pausas das temporadas juntos lá, consertando o lugar. Ele me disse que iria construir outra lareira no quarto porque amava o jeito como meus olhos pareciam no brilho do fogo. Arthur e eu tínhamos um monte de memórias, mas essa, o tempo na frente da lareira, me fazia lembrar de como me senti total e completamente amada.

Arthur: Vá. — Ele me puxou de volta para o presente. — Nós provavelmente iremos ficar aqui outra vez esta noite. É a cobertura dois.

Ana: Tem certeza de que você não se importa?

Arthur: Eu não iria oferecer se me importasse. Vá. Eu vou ficar aqui por um tempo. Além disso, você não pode deixar tudo aqui fedido, né? Esse é o meu trabalho.

Eu nunca tinha estado em uma cobertura antes, mas, basicamente, parecia como eu esperava que fosse: grande, aberta, limpa e extravagante. O que ela não parecia era com a casa de Arthur.

Algumas faixas com o logotipo do Flamengo descansavam na ponta da mesa na sala de estar. A mesa da sala de jantar tinha algumas correspondências e uma camiseta do time dobrada. Mas pouco mais demonstrava que alguém vivia lá quatro meses por ano.

Passei pelo quarto principal. O espaçoso closet estava cheio de roupas e sapatos. Em um lado inteiro estavam as camisetas e as calças de treino, camisas e agasalhos. Devia ter, pelo menos, vinte pares de tênis e chuteiras alinhados neste lado do armário.

Abri algumas das gavetas embutidas, e tudo estava dobrado, limpo e arrumado. Arthur sempre foi bagunceiro, o que o tornava o típico homem. Com certeza outra pessoa arrumava sua roupa. A ausência de roupas femininas no armário me fez pensar que esse alguém era uma empregada doméstica, em vez de sua namorada.

Atrás de uma parede estava um grande banheiro principal com uma pia dupla e um enorme chuveiro. Sem xampus e condicionadores extravagantes, sem perfume ou maquiagem. Nenhum sinal de que uma mulher passasse as noites ali frequentemente, embora houvesse jatos de água suficientes e espaço no chuveiro para se fazer uma pequena festa. Isto me fez pensar se Arthur se entretinha com frequência.

Enquanto eu me dirigia para fora da suíte master, não conseguia parar. Eu já estava ultrapassando fronteiras da espionagem, então, resolvi seguir nisso. Deslizei a mão e abri a mesa de cabeceira. Dentro, havia um conjunto de fones de ouvido, um iPod, alguns cartões de visita e uma pilha de papéis dobrados.

Eu mexi os papéis para o lado, revelando uma caixa meio vazia de preservativos e uma garrafa quase no fim de lubrificante. Bem, isso respondia a essa pergunta. Ele devia se entreter muitas vezes.

Havia outro banheiro menor no corredor, onde estavam as roupas que Arthur mencionou ter comprado na loja de presentes. Sentindo-me ainda mais suja do que me sentia quando cheguei, me obriguei a tomar um rápido banho e me repreendi mentalmente por violar a confiança de Arthur quando ele tinha sido tão gentil comigo. Mais uma vez.

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