Capítulo 62 :

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João destravou o freio da cadeira e começou a levá-la em direção à porta.

Marlene: Espere! — Ela levantou a mão. — Eu preciso dos meus dentes.

Arthur: Você já está com eles. — Eu beijei a testa de Marlene.

Ela fez a checagem de costume, levantando a mão e batendo o dedo no dente da frente.O que havia com aquelas coisas? Ela nunca confiava que eu estava dizendo a verdade sobre os dentes, mas alegremente aceitou as milhares de mentiras com as quais eu a tinha alimentado sobre sua neta durante anos. Às vezes, acreditamos nas coisas não porque sabemos que elas são verdadeiras, mas porque as mentiras são mais fáceis de aceitar.

João acenou para mim enquanto tirou Marlene do quarto, fechando a porta atrás dele. Olhei pela janela por um bom tempo. Havia tanta coisa que eu queria gritar para Ana, mas estava tudo preso em minha garganta, obstruindo as palavras. Eventualmente, foi ela quem falou.

Ana: Como tem passado? — ela perguntou em voz baixa.

Deixei escapar um riso irônico.

Arthur: Bem pra caralho. — Esta merda não podia estar acontecendo. Virei-me para encará-la, dando-lhe um olhar mortal. — O que você quer aqui, Ana?

Ana: O que você quer dizer? Eu vim ver minha avó.

Arthur: Já se passaram seis anos, porra. Por que agora? — Ela olhou para suas mãos, que se apertavam.

Ana: Eu senti falta dela.

Arthur: Mentira. Do que você precisa? Dinheiro? — Eu peguei minha carteira no bolso e puxei um maço de notas, jogando-as sobre a cama. — Vou poupar o trabalho de roubá-la. Pegue. E saia, porra. Estamos bem sem você.

Ana: Você veio vê-la toda semana durante todos esses anos. Eu vi na folha de registro de visitantes.

Arthur: Alguém tinha que vir. — Ela olhou para mim. Havia lágrimas em seus olhos, e eu tive que desviar o olhar. Eu estava irritado pra caralho para deixá-la me manipular novamente.

Ana: Era eu que deveria ter estado aqui. Obrigada por cuidar dela para mim.

Arthur: Eu não fiz isso por você.

O ar no quarto foi se tornando difícil de respirar. As janelas não abriam e meus pulmões estavam constritos, a pressão no meu peito me fazendo sentir como se ele estivesse prestes a explodir.

Eu precisava dar o fora dali. Sem me preocupar em dizer adeus, deixei as flores e o presente que eu tinha trazido para o aniversário da Marlene na cama e me dirigi para a porta. Sua voz me parou quando eu alcancei a maçaneta. Não me virei quando ela falou.

Ana: Estou sóbria há onze meses.

Arthur: Boa sorte para você, Ana. — Sai sem olhar pra trás.

CARLA DIAZ

Carla: Está tudo bem? — Arthur empurrava o frango em volta do prato com o garfo.

Terça-feira ele disse que não estava se sentindo bem e cancelou sua visita. E, nos últimos dias, se manteve bem quieto. Hoje à noite, o seu humor era algo que se assemelha a mal-humorado.

Carla: Você não gostou do macarrão?

Arthur: Sim. Está tudo bem. Desculpe, meu bem. O macarrão está delicioso. É que estou cansado.

O resto da noite foi praticamente o mesmo. Eu senti como se estivesse forçando-o a responder as perguntas. Normalmente, ficar em silêncio era tranquilo para mim; nunca fui uma pessoa que sentia necessidade de falar o tempo todo para se sentir confortável. O problema era que o silêncio não era confortável esta noite.

Mais tarde, tentei assuntos diferentes. Nada parecia interessá-lo o suficiente para falar. Arthur também bebeu no jantar, algo que era igualmente fora do normal para ele quando estava treinando.

Fez uma forte mistura de vodca e Coca-Cola, o que eu achei estranho, ele beber vodca ao invés da sua cerveja. Ele sentou-se no sofá, olhando para o copo enquanto rodava o líquido.

Carla: O que você acabou comprando quando foi fazer compras no outro dia? — Ele tomou um gole de sua bebida e olhou para mim com a testa franzida.

Arthur:  Humm?

Carla: A amiga da família para quem você estava comprando um presente na semana passada.  Você estava em uma loja de presentes quando te liguei e você disse que estava fazendo compras para o aniversário de uma amiga. Lembra?

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