Arthur: De qualquer forma, dois dias depois que eu voltei para a faculdade e começamos a treinar novamente, Ana deixou de atender o telefone. Isso nunca foi um bom sinal. Conversei com Marlene, e ela disse que Ana não tinha voltado para casa por todo o fim de semana. Estávamos treinando seis horas por dia, olheiros estavam começando a vir aos treinos, e tudo que eu queria fazer era voltar para casa. Mas não podia. Eventualmente, Ana apareceria novamente, provavelmente porque teria acabado o dinheiro, e nas próximas três semanas ela brincou com as fraquezas de sua avó.— Eu realmente não esperava que ela aparecesse no fim de semana, mas Marlene de alguma forma conseguiu colocá-la no avião. Ela tinha boas intenções, pensou que levá-la para longe dos fornecedores e voltar para perto de mim poderia ajudar. Mas conseguir drogas em um campus universitário é muito mais fácil do que algumas pessoas podem pensar.
— Depois do regresso para casa, Ana desapareceu, e Marlene e eu passamos uma semana procurando por ela, mas os viciados em drogas que eu ameacei para que me ajudassem a encontrá-la tinham mais medo de perder a sua fonte do que da surra que eu podia lhes dar. Pessoas que não têm nada não são fáceis de encontrar.
Eu tinha medo de perguntar como ela finalmente apareceu, mas, como não tínhamos chegado a Anderson ainda, eu sabia que o pior estava por vir.
Carla: Eu nem sei o que dizer.
Arthur: Você não precisa dizer nada, eu sim, lhe devo uma explicação e um pedido de desculpas. Se você me ouvir até eu terminar de explicar, espero te dar um pedido de desculpas múltiplo por um longo tempo.
Mesmo no meio de uma obviamente dolorosa história, Arthur era... Arthur. Isso me fez sorrir, pela primeira vez desde meus momentos nas arquibancadas dessa tarde.
Carla: Bem, então, termine a história para que possamos chegar ao pedido de desculpas — provoquei. Naquele momento, nós precisávamos de um pouco de leveza.
Arthur: O Anderson era calouro. E também jogava na base, tínhamos nos encontrado no primeiro dia de treinos em agosto, e eu não gostei dele imediatamente. Ele vivia contando vantagem e constantemente falava sobre as mulheres como se fossem objetos sexuais. Sem mencionar que ele tinha um pavio curto que era facilmente aceso. O cara ainda é um idiota. — Antes, Arthur parecia que estava perto de quebrar, mas, ao falar de Anderson, o tom mudou.
— De, qualquer forma, uma noite, alguns dos caras da minha sala me arrastaram para uma festa. Era fora do campus, e eu realmente não estava com vontade ir. Quando chegamos lá, não era o padrão de festas de barril e copos de plástico da faculdade. O lugar era um inferno, e havia algumas pessoas que procuravam uma porcaria para fumar em um cachimbo de vidro e plástico que cheirava a queimado. Anderson já estava lá com alguns dos outros calouros da equipe.
— Ele estava comentando sobre uma garota com quem ele ia ficar. Ela estava se drogando com seu amigo, e ele poderia dizer que ela estava a fim, que a festa ia ficar boa. A maneira como ele estava falando sobre a mulher me fez mal. Eu falei que, se a mulher estava drogada demais para saber o que diabos ela estava fazendo, o que ele ia fazer era estupro, porra.
Carla: Eu sabia que tinha que ser algo ruim para você reagir dessa forma hoje.
Arthur: Essa não é nem a metade da história.
Isso estava ficando pior a cada momento. Minha suposição inicial de que dois homens haviam brigado sobre compartilhar algumas garotas na faculdade estava começando a parecer um sonho.
Arthur: Eu era o motorista da rodada, e alguns dos rapazes queriam ficar por um tempo, então fui forçado a ficar mais do que queria. Mais e mais pessoas estavam aparecendo, e eu não gostava da aparência da maioria delas. Eu queria dar o fora de lá antes que a polícia chegasse. Eventualmente, eu disse aos caras que tinha que ir ao banheiro e, em seguida, saí. Eles poderiam vir comigo ou encontrar sua própria forma de voltar ao campus. Havia pessoas em todo o lugar, portanto, à primeira vista, não parecia estranho que dois rapazes estivessem esperando fora de uma porta fechada ao lado do banheiro. Enquanto eu estava esperando a minha vez, perguntei o que estavam fazendo, e um dos rapazes disse que seu amigo estava lá dentro com alguma viciada em crack quente.
Carla: Não...
Arthur: Eu não sei por que, mas não somei dois e dois na hora. Eu fui para o banheiro, saí e vi os dois rapazes ainda de pé lá. No meio da escada, ouvi um dizer ao outro: "Qual é o nome da garota que está com o Anderson?". O outro idiota respondeu: "Eu não sei. Hanna, Raia, Maria? Não sei".
Carla: Ah, Deus. — Minha mão foi para o meu peito.
Arthur: Eu vou te poupar dos detalhes, mas Ana não estava em condições de tomar a decisão de ficar com ninguém. Ela mal podia falar. Eu tive que carregá-la para fora de lá.
Carla: Isso é estupro.
Arthur: Quase foi. Felizmente, ele nunca chegou tão longe. Anderson alegou que eles estavam brincando, e então ele percebeu quão fora de si ela realmente estava e tentou ajudá-la. Com a porra da calça aberta, ele estava tentando ajudá-la.
Carla: Alguma coisa aconteceu a ele?
Arthur: Além do meu punho quebrando seu nariz, não. Eu fui à polícia, mas era praticamente a minha palavra contra a dele. Ana não se lembrava de nada e desapareceu novamente no momento em que a investigação terminou. A coisa toda foi em sigilo, e eu tive que treinar com ele por mais dois anos. Pensei que estava finalmente livre do babaca, até a negociação do Flamengo no meio da temporada.
Carla: E então ele me usou para ferrar com você, fazendo o comentário sobre compartilhar.
Arthur: Eu sinto muito que ele tenha dito alguma coisa para você.
Carla: Não é culpa sua.
Arthur: Talvez não seja, mas sinto muito pela maneira como agi. E por não vir direto para você depois que o treinador me chamou de imbecil.
Carla: Você foi suspenso?
Arthur: Eu não vou saber até amanhã. A multa é certa, mas estou esperando que seja apenas essa a punição. O treinador estava muito mais calmo quando eu saí.
Carla: Aonde você foi depois que falou com ele?
Arthur: Eu precisava de algum tempo para clarear a mente e me recuperar antes de vir te ver. Não quero que o passado faça parte do meu futuro nunca mais.
Carla: Eu aprecio isso. Realmente aprecio.
Arthur: Você me perdoa?
Havia muito mais que eu queria saber. Para dizer o mínimo, tudo sobre o que aconteceu com Ana. Ela era ainda uma parte da sua vida? Mas, olhando nos olhos de Arthur, naquele momento, vi o que contar a história tinha feito a ele. Ele realmente precisava de uma pausa.
Carla: Eu acho que ainda não posso perdoar você.
Arthur: Não?
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Aulas, Cria!!
FanfictionSinopse: Na primeira vez que encontrei Arthur Picoli ele estava no vestiário masculino. Foi a minha primeira entrevista como jornalista esportiva profissional. O famoso Atacante do Flamengo decidiu me mostrar tudo. E, por tudo, não quero dizer que e...