Eu coloquei a mão em seu rosto, e ele fechou os olhos por alguns momentos. Quando os reabriu, continuou:Arthur: Eu tinha quatorze anos quando vim morar no Rio com a minha mãe, vim jogar na escolinha do flamengo. Não sei se você sabe mas eu sou de Conduru — Eu balancei a cabeça — Tinha dois meses que estava no Rio quando ela foi morar no prédio ao lado do meu. Ela e sua mãe se mudaram para o apartamento da avó. Ela era linda. E selvagem. Eu não era um santo, pode apostar, mas Ana... ela tinha uma fúria dentro de si. — Ele parou por um tempo.
Eu queria dizer algo, mas não conseguia encontrar as palavras certas. Era óbvio que aonde quer que esta história levasse, não ia acabar bem. Então esperei até que ele estivesse pronto.
Arthur: Sua mãe era viciada em drogas. Ela não ficava por perto muito tempo, desaparecia por meses, e, quando reaparecia, era só por tempo suficiente para roubar sua mãe e ferrar com a Ana de novo.
Carla: Eu sinto muito.
Arthur: Fazíamos coisas normais de adolescente selvagens, como pular na piscina comunitária, pegar o trem para pular no rio, ou roubar uma garrafa de licor do armário da sua avó e entrar no metrô com ela escondida em um saco de papel marrom. Merda de adolescentes. Mas Ana estava sempre querendo mais. Parecia piorar cada vez que sua mãe aparecia. Vivíamos em prédios de apartamentos um ao lado do outro. Estavam próximos, mas não conectados. Havia talvez três metros e meio entre os nossos telhados. Quando sua mãe aparecia, Ana vinha para o meu apartamento, saltando de telhado em telhado. Ela ficava em cima saltando, não pensando duas vezes sobre a queda de dez metros abaixo dela. Ela foi de selvagem para perigosa.
Havia uma sensação de vazio na boca do meu estômago ao ouvi-lo falar sobre Ana. Por muitas razões. Eu conheci Marcelo na mesma idade que ele tinha conhecido Ana. Eu sabia como minha história terminou, e agora eu sabia que a sua não ia ser bonita também.
Arthur: Eu poderia passar horas falando das merdas que passamos juntos ao longo dos anos, mas prefiro avançar e lhe dar a versão resumida para que você possa entender por que eu perdi a cabeça hoje.
Carla: Ok.
Arthur: Quando estávamos nos formando no ensino médio, Ana seguiu os passos da mãe, descobriu as drogas e rapidamente passou de experimentar para usar altas doses diariamente. — Arthur soltou uma risada sem humor. — Você devia ver os olhares que você ganha quando anda às duas horas da manhã de metrô com alguém de dezoito anos que você tirou de uma casa de crack e uma mulher de setenta anos de idade, em um roupão e bobs no cabelo. Havia noites em que eu tinha que jogar Ana em cima do meu ombro porque ela não podia andar, e a pobre Marlene andava bem perto de mim. — Arthur fez outra pausa, e suas próximas palavras me bateram duramente. — Eu a odiava pra caramba, mas não podia parar de amá-la.
Eu cruzei meus dedos com os dele e os apertei.
Arthur: Eu passei para as duas melhores faculdades do país, a Universidade de São Paulo e Rio de Janeiro, mas queria ficar por perto. No último ano, fiquei entre o Clube do Flamengo e a Universidade. Meu pai estava me empurrando para que eu fosse um jogador profissional e todos nós sabíamos o porquê, eu vim de Conduru, justamente pra isso. Quando Ana desapareceu por seis semanas antes que eu tivesse que me comprometer com uma faculdade, eu estava tão chateado com ela que aceitei a Universidade de São Paulo. Depois que fui embora, continuei em contato com Marlene, que me mantinha informado sobre Ana, mas eu comecei a seguir em frente.
Carla: Isso é compreensível. Parece que você já tinha feito muito.
Arthur: Nas horas vagas da faculdade eu jogava, eu deixei o clube do meu coração para jogar no Santos. No verão entre meu ano de calouro e o segundo ano, eu vim para casa. Marlene teve um ataque cardíaco, e isso parece ter acordado Ana. Ela estava limpa e trabalhava meio período em uma loja de música que ela adorava. Passamos muito tempo juntos, e eu odiava ter que voltar para a faculdade no fim de agosto. Eu senti como se tivesse de volta a menina por quem tinha me apaixonado, e estava com medo que ela fosse desaparecer novamente quando eu fosse embora.
Arthur: Marlene sentiu que eu estava pensando em não voltar, então decidiu que ela e Ana voariam para a São no fim de semana do regresso para me ver jogar. Dessa forma, eu ia vê-la de novo em apenas três semanas. — Arthur parou de novo. — Eu prometo. Vou acabar logo de jogar toda essa história horrível em você.
Carla: Leve o tempo que precisar. Sem pressa. — Ele assentiu.
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Aulas, Cria!!
FanfictionSinopse: Na primeira vez que encontrei Arthur Picoli ele estava no vestiário masculino. Foi a minha primeira entrevista como jornalista esportiva profissional. O famoso Atacante do Flamengo decidiu me mostrar tudo. E, por tudo, não quero dizer que e...