Capítulo 77 :

1.2K 69 19
                                    


ANA

Uma hora depois, voltei para o hospital e o médico finalmente entrou. Sua expressão partiu meu coração antes mesmo que ele falasse. Arthur estava sentado do outro lado da cama da vovó e ficou de pé, então fiz o mesmo.

De repente, me senti tonta, mas não podia me mover e voltar a sentar. Minha mão estendeu para pegar meu colar. Eu tinha um hábito nervoso de brincar com ele sempre que estava com medo. Só que não o encontrei ali. Então, apertei as mãos em volta da minha garganta e esperei.

Dr: Os resultados dos exames de confirmação chegaram. — O médico fez uma pausa e respirou fundo. — E eu gostaria de ter notícias melhores. — Ele olhou para Arthur e depois para mim. — Sua avó sofreu um forte acidente vascular cerebral que afetou o fluxo sanguíneo através da artéria cerebral média principal. O sangue ficou basicamente acumulado em uma área, fazendo com que o outro lado do cérebro fosse completamente privado de sangue.

Ana: Fosse? Isso quer dizer que parou? — Agarrei-me à palavra apenas potencialmente positiva que ele falou.

Dr: É mais lento, mas o dano é extenso. As áreas que foram privadas de sangue estão inchadas. O cérebro é envolto pelas paredes do crânio e o inchaço está causando pressão intracraniana grave. Esta pressão evita que o sangue flua, o que, por sua vez, provoca mais dano. É um ciclo vicioso.

Arthur: O que pode ser feito? — perguntou Arthur.

Dr: Bem, a maneira mais eficaz de tratar o enorme inchaço do cérebro é com um procedimento cirúrgico chamado de hemicraniectomia. Nós iríamos remover uma parte do crânio para permitir a expansão para além dos limites do osso. Mas, no caso da sua avó, é altamente improvável que ela sobreviva ao procedimento. Como você sabe, nós a entubamos para ajudar a respirar quando ela entrou em coma.

— Infelizmente, seu corpo não está tentando respirar sozinho. E a reatividade de suas pupilas abrandou. Vamos continuar monitorando suas funções cerebrais de perto, mas você precisa se preparar para o pior. Lamento muito.

Acho que nós dois estávamos paralisados. Tantas perguntas passaram pela minha mente, mas, quando o médico perguntou se eu tinha alguma pergunta, eu só olhava para ele como se eu não falasse sua língua.

Eventualmente, ele se virou para Arthur. Os dois falaram baixo por alguns minutos. Eu ouvi o som de vozes diferentes, mas não conseguia registrar as palavras.  Era um sentimento com o qual eu estava familiarizada: o nevoeiro induzido por drogas.

Um desejo, que finalmente começou a diminuir nos últimos meses, voltou como um barril repleto de vingança. Minhas mãos agarraram os braços da cadeira, me impedindo de desabar. O médico fechou a porta quando saiu, nos dando privacidade.

Arthur: Você está bem? — Arthur foi até mim e se ajoelhou ao lado de onde eu estava sentada.

Ana: Não. — Ele cobriu uma das minhas mãos com as dele.

Arthur: É muito para lidar, eu sei. — Uma risada saiu muito amarga.

Ana: Você sabe o que eu estou pensando aqui sentada? Depois de tudo o que o médico disse? — Eu olhei Arthur no olho, e ele segurou o meu olhar até que eu continuei. — Que eu quero dar o fora daqui para que possa encher a cara de drogas. Minha avó, que me acolheu e nunca perdeu a esperança em mim, está morrendo. E o que eu quero fazer? Fugir. Como de costume.

Arthur olhou para baixo por um bom tempo. Eu imaginei que ele estava tentando engolir o ódio que tinha por mim. Mas, quando falou, ele me surpreendeu.

Arthur: Isso é normal. Você está com medo e por isso deseja fugir. — Eu zombei, me odiando.

Ana: Eu devo ficar assustada muitas vezes, então.

Arthur: Sabe o que eu acho, Ana? Acho que você está com muito medo. Eu não sou psiquiatra, mas as pessoas têm duas opções quando estão com medo. Correr ou lutar.

Você viveu uma vida difícil antes de Marlene. Correr era um instinto de sobrevivência para você. — Olhei para minha avó sem vida.

Ana: Eu não quero correr agora. É o mínimo que posso fazer.

Arthur: Então, não corra.

Ana: Você diz isso como se fosse fácil.

Arthur: Não é. Nada disso é fácil. — Eu cobri sua mão com a minha e olhei para ele.

Ana: Obrigada.

Arthur: De nada. Nós vamos vencer isso. Apenas lute comigo.

Comentem

Aulas, Cria!!Onde histórias criam vida. Descubra agora