Capítulo 67 :

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ARTHUR

Arthur: Em posição. — Eu acenei com a cabeça. João tinha criado uma barricada com cones de aviso amarelo em uma seção do chão enquanto secava o lobby principal.

Pegando dois deles, corri pelo corredor e deixei-os a pouco mais de um metro de distância um do outro.

Arthur: Nada de errar passes ou então a bola vai para a minha enfermeira favorita, Marta. — Eu pisquei para Marta, que balançou a cabeça enquanto sorria. — Voce usa avental com pequenos jogadores de futebol aos domingos. Você os usou neste domingo, Marta? — Ela riu.

Marta: Claro que sim. Tinha até os brincos combinando.

Arthur: Viu isso? Estou pensando que eu não deveria mesmo lhe dar a chance de ganhar essa bola, meu velho. Você usa brincos de futebol?

João: Basta jogar a bola já, caramba. — Grouper deixou cair o esfregão e correu em direção aos cones.

Por meio segundo, considerei lançar a bola sobre a cabeça para que ele a perdesse, então me lembrei que ele provavelmente passou o domingo jogando damas com Marlene enquanto torcia por mim, então chutei a bola para uma captura fácil em sua direção.

João: Eu ainda consigo apanhar. — Ele agitou o punho enquanto caminhava.

Arthur: Sim, você conseguiu, tudo bem. Hemorroidas, artrite...

João: Não me lembre. Tive isso também. O seu dia vai chegar. E eu mal posso esperar para ver o rosto de garoto bonito ter alguns bons sinais da idade. — Eu ri.

Arthur: Marlene está em seu quarto ou na sala de visitas?

João: Acho que ela está em sua suíte. Sua neta bonita está lhe fazendo companhia novamente esta manhã. Eu não vou ter de interceder lá, vou?

Entre a vitória no domingo, que nos colocou em primeiro lugar, e o tempo gasto de comemoração dentro da Carla na segunda-feira, eu pensei que nada poderia estragar meu humor. É uma merda que eu estivesse errado. Pensei em me virar e ir embora, mas era terça-feira, o dia que eu passava aqui há anos.

Anos durante os quais ela não tinha sequer dado a mínima se sua avó estava viva. Eu estava farto de permitir que ela interferisse em minha vida. Pelo menos desta vez, eu estava preparado para vê-la. Ou pelo menos achava que estava. Ana se virou quando a porta se abriu, e meu coração parou de bater.

Eu a odiava.

Eu a odiava pra caramba.

No entanto, quando meu coração começou a bater novamente, eu não consegui impedi-lo de acelerar.

Ana: Oi. — Ela sorriu, hesitante, e aqueles grandes olhos olharam para cima por debaixo de seus longos cílios.

Eu te odeio.

Eu também odiava que ela ainda estivesse linda como sempre. Levantei o queixo na direção dela como minha única resposta e caminhei para Marlene.

Arthur: Como está minha senhora favorita hoje? — Beijei-a na testa.

Marlene: Arthur. Você chegou bem a tempo. Pegue um bloco de papel. — Franzi a testa.

Ana: A Roda da Fortuna está prestes a começar — explicou. — Lembra como nós três fazíamos... Olhei diretamente para aqueles olhos grandes.

Arthur: Eu sei quando os programas dela começam. E nós não vamos fazer isso.

Seu rosto brilhante vacilou. Isso deveria ter me feito sentir melhor, mas, em vez disso, causou o oposto.

Marlene: Você não quer jogar? — perguntou Marlene.

Arthur: Eu vou sentar e ficar fora deste.

Marlene pareceu desapontada, mas, no momento em que o apresentador apareceu na TV, seu rosto se iluminou de volta. Se ao menos todos nós tivéssemos algo que fizesse tudo ficar bem, mesmo que apenas por poucos minutos... Roubei um olhar fugaz para Ana.

Ela costumava ser a minha parceira de jogo. Quando o primeiro enigma começou na TV, as duas entraram em um túnel do tempo. De volta aos tempos em que nós três sentávamos no grande sofá coberto de plástico da sala de Marlene. Tínhamos que escrever as nossas escolhas antes que os competidores mostrassem a deles e manter o controle de quanto nós ganhamos se eles adivinhassem a nossa carta.

O que Marlene não sabia era que Ana e eu tínhamos secretamente jogado com favores sexuais. Quem ganhasse mais no final do show tinha que fazer tudo o que o outro estava no clima naquela noite. Na maioria das noites, deixei Ana vencer, apenas para que eu pudesse ouvi-la me dizer o que ela queria que eu fizesse com ela.

As imagens vieram à tona. Ana aos dezesseis anos olhando para mim enquanto meu corpo pairava sobre o dela. Seus lábios inchados depois de beijar por horas.

Eu te odeio.

Ela sentada, seu cabelo uma bagunça selvagem, enquanto ela tirou sua camiseta branca. Sem sutiã por baixo. Meu polegar puxando o lábio inferior, que ela chupou entre os dentes nervosamente.

Eu te odeio.

Ao som da minha cadeira deslizando abruptamente pelo piso de cerâmica, Ana deu um salto.

Arthur: Banheiro. — Foi tudo o que eu disse.

Recusando-me a perder o meu tempo com Marlene, fiquei um pouco mais, em silêncio, sentado e tentando evitar qualquer interação real com Ana. Quando chegou a hora do almoço, ajudei Marlene em sua cadeira de rodas e a levei para a sala de jantar.

Arthur: Eu tenho que ir. Tenho treino esta tarde.

Marlene: Vocês dois trabalham muito. — Na mesa habitual, o almoço de Marlene estava esperando por ela.

Tive a certeza de que ela estava confortável e me despedi antes de voltar para sua suíte e pegar minha jaqueta. Ouvi a porta abrindo, mas não me virei enquanto o vesti.

Ana: Eu fiz cupcakes — Ela disse suavemente.  — Veludo vermelho com cobertura de chantilly. — Eu olhei para fora da janela.

Arthur: Não estou com fome. — Ela deu dois passos em minha direção e parou. Eu podia ver seu reflexo na janela.

Ana: Você quer que eu evite certos dias?

Arthur: Faça o que você quiser. Não faz diferença para mim. — Ela assentiu.

Ana: Eu vi o jogo ontem. Sabia que você ainda comemora do mesmo jeito quando faz um gol? Como quando estávamos na escola.

Eu odiava que ela pensasse que sabia muito sobre mim. Eu a odiava. Ela não sabia nada sobre mim. Tive a certeza de que ela saberia antes que eu saísse pela porta.

Arthur: Eu celebrei dentro da minha namorada naquela noite, não no campo.

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