➤ Não no meu turno

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CARTER

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CARTER

Eu fecho a cortina quando anoitece e me jogo no colo de George tentando o mimar enquanto ele e seu irmão dividem uma garrafa de bebida barata com os ânimos no chão após enfim enviar a carta tão esperada de um jeito não tão convencional pelos bruxos: o temível correio. Não suporto vê-los assim, não suporto pensar que eu sou um porquê de eles estarem assim. Me levanto de novo, apressada para sair dessa fossa e vou atrás do rádio do quarto. George me segue com o olhar, curioso e fazendo careta por eu mal ter ficado colada à ele, Fred se joga de barriga para cima encarando o teto e tentando não engasgar com a bebida. Mas eles não vão ficar assim de jeito nenhum, não no meu turno!

Ligo o rádio e vou mudando de estação, ansiosa. A melhor música que encontro tinha um toque de rock, mais suave do que você pensou. Espera, não tão suave assim. Elvis Presley nunca perde a graça, não é mesmo?

Eu pego a garrafa da mão de Fred e me animo puxando os rapazes para dançar e cantarolar com calma. Começo a pular com o olhar de George me acompanhando a todo instante, um sorrisinho teimando em crescer em seus lábios. Ele sorri docemente para mim e o brilho volta para seu olhar, ele me ajuda a obrigar Fred a ficar de pé, o outro ruivo revira os olhos sorrindo e nós tropeçamos para o centro do quarto. Eles riem, parecem gostar que eu esteja tentando.

Eu mereço isso? Que se dane, se não merecia, agora mereço. Sorrio para meu namorado e me penduro em seu pescoço, o roubando um selinho demorado, depois outro e mais outro. Meu herói, meu namorado, meu Georgie, não fica assim, não.

— Eu te amo— sussurro com nossas testas coladas, narizes lado a lado, sua respiração me fazendo cócegas assim como seus dedos nas minhas costas, por dentro da minha blusa— Você sabe, não sabe?

— Eu te amo muito mais— ele sussurra de volta e me prende em um abraço gostoso que quase me faz ronronar do mais puro deleite.

Fred saltita ao nosso redor, rouba a garrafa de mim antes mesmo que eu dê um gole e dança com coreografias diferentes, balança a cabeça bagunçando os cabelos de fogo. Ele vira um gole enorme da garrafa e seu rosto vai se suavizando conforme ele se permite embebedar. George e eu nos soltamos para o seguir e o imitar. Nossas mentes vão se esvaziando assim como a garrafa que roubamos do saguão com um feitiço de levitação após eu queimar as câmeras sem precisar de uma varinha. Eu posso me acostumar com isso, mas está foda me acostumar com a dor de cabeça, por mais que eu durma ou tente relaxar ela não vai embora.

Não quero pensar nisso agora. Se puder evitar, talvez nem nunca. A vida não acha que eu já tenho problemas demais para vir me perturbar com uma enxaqueca? Sinceramente....

A música muda, mas a noite é de festa então não paramos nessa, nem na que veio logo depois dessa, nem depois da seguinte.

A bebida e o calor da dança aquece nossos corpos, não demoramos a ficar bêbados e engraçadinhos. Começamos a rir de tudo, uns dos outros, uns com os outros. Sacudimos as cabeças, nos empurramos, pulamos, damos gritinhos, cantarolamos sem saber a letra, rindo mais um pouco quando ficamos tentando prever a próxima linha e errávamos estupidamente. Somos jovens idiotas e livres que fugiram de casa por uma só noite. Não tem guerra, nem nada de errado com o mundo.

Eu danço com George, com Fred, com George de novo, com os dois de mãos dadas em uma cirandinha animada que eu piso no pé deles e eles pisam no meu, como sempre, altamente vingativos. Cantamos com a lua cheia como lobos no cio após uma caçada. Eu começo a rodar sozinha, os gêmeos riem de mim, e cambaleantes, eles me copiam. Nós nos esbarramos o tempo todo, nos batemos umas cinco vezes antes de cairmos no chão gargalhando como se o mundo fosse uma piada ruim e muito boa ao mesmo tempo. A insanidade é só temporária, mas então, temporariamente, estamos no paraíso.

Helga abençoe a santa ignorância.

Eu caí primeiro, Fred se jogou encima de mim, e então George foi encima dele e logo minhas costelas protestaram. Eu não consegui parar de rir e tampouco conseguia respirar! Dou um gritinho.

Eu desejei tão intensamente a vida. Eu quero mais tantas noites assim, eu quero a alegria, o contentamento, o suficiente. Mais do que suficiente. Eu quero ser consumida pelos risos bêbados, pensamentos inconsequentes, vontades inusitadas, porra, eu quero transar com o George agora mesmo e nem sei se consigo ficar de pé de novo, o Fred já não disse que não ligaria? Eu esperneio para fugir do peso dos rapazes e os empurro para o lado. A gente se ajeita, nos esparramamos no chão deixando com que apenas nossas cabeças se toquem enquanto encaramos o teto giratório. O carpete é uma delícia, parece a ponto de me engolir.

— Eu amo vocês, sabiam disso?— eu levanto as mãos e tateio cegamente seus rostos, minha voz sai lerda, arrastada. Eles riem, tão loucos quanto eu— Eu amo vocês.— repito, mais séria.

— A gente também te ama, Sophia— eles falam em sincronia, minha língua fica desconfortável dentro da boca. Estou com fome e com sede.

— Gente, eu acho que... bebi muitosss— eu travo por algum motivo e então começo a rir de novo pela minha forma errada de falar. Os rapazes me acompanham e então nós choramos de rir, por algum motivo muito idiota, eu me sinto tão feliz.

Eu sinto que poderia viver esse momento para sempre. Seria cruel se eu admitisse que não sinto falta de nada agora? Também queria que essa sensação se perdurasse mais.

— Eu... amo vocêss— minha fala se embola. Fred leva a mão ao meu rosto e sem querer seu dedo entra no meu olho me fazendo chorar. Os rapazes me abraçam tentando me consolar, abraços desengonçados que mais parecem estar tentando me enforcar. Eu amo esses filhos da mãe. Nós apagamos no chão mesmo, após mais uma crise de riso com os braços emaranhados e mãos dadas, sei lá, eu só sei que estou com as melhores pessoas do mundo. Isso mais do que basta para mim por esta noite.

Sonhei com minha família de novo. Eles pareciam felizes por mim. Eu....

É isso.

HUMAN, George WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora