HUMANA || Se a guerra não estivesse estourando, quem sabe eu não teria conhecido ele. Não há uma parte minha que se arrependa de ter conhecido ele. Meu garoto com os olhos de raposa. Meu George Weasley.
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WEASLEY
Fred não é muito tranquilo em geral, mas quando ele quer se vingar, ele pode ser mais do que insuportável. Eu conheço a peça e sei que ele não gosta de ser surpreendido como ele surpreende os outros. Hipócrita? Um tanto.
Isso é o que mais nos difere em minha humilde opinião fora minha beleza superior; a vingança. Fred nunca deixa passar uma pegadinha que fazem contra ele, mas ele deixou passar a que fizemos um tempo atrás porque Sophia ficou rindo muito ao atacá-lo com tinta e ele sabia que ela precisava se divertir, ele agiu contra os princípios mais rígidos dele aquele dia e ficou numa boa, mas agora, nessa segunda vez ele não vai deixar barato. Eu já passei por isso muitas vezes, ele fica esperando que eu aprenda a lição e também pare de mexer com ele e eu estou pouco me fodendo porque ninguém o conhece melhor do que eu, a gente sempre empata e quando fica insuportável para os dois pedimos uma trégua que ele sempre quebra pouco depois e a guerra recomeça.
As coisas começam bem pequenas, implicâncias de criança, Sophia pode deixar passar algumas e sei que ela até tenta se desculpar no primeiro momento, mas com meu irmão não é bem assim que funciona. Por mais que ele te ame, ele vai se vingar de você. É a fase que eu chamo de Freddie Maluco. Ele não muda de personalidade nem coisa do tipo, irá agir normalmente para que você não saiba quando ou de onde vai vir o próximo golpe, mas ele fica meio louco, sim.
Se ele fica fodido de raiva com quem ele gosta, imagine com quem ele não gosta. Ah, eu até teria pena dos comensais se Fred pudesse ficar perto deles por um mês direto sem morrer.
Eu não me envolveria nisso, sem sacanagem, não precisava de uma competição de infantilidade agora por mais que isso sempre tenha me divertido, mas não dá para não ser bombardeado também, Fred não costuma ser justo e Sophia é minha namorada, então eu devo me meter para manter meu irmão na coleira, em pouco tempo eles estariam se estapeando e eu já ficaria zangado por ter meu irmão empatando minha foda e atrapalhando meu sono. O filho da mãe dorme e acorda mais cedo que eu e Sophia só para não nos deixar relaxar para dormirmos até tarde. Assim que amanhece ele parece a porra de um galo. Como não temos muito o que fazer a não ser esperar, ele inventou projetos para nos manter ocupados, quer dar uma volta na região e vai arrastar um de nós a força, se necessário, quer correr, quer comer em restaurantes diferentes, quer que a gente assista o que ele quiser a hora que ele quiser, até quando ele quiser. Se a gente estiver começando a tolerar o filme ele coloca outro e ainda fica falando o tempo todo, fritando nossa paciência.
Estaria tudo bem por mim até aí, SE ele não estivesse se metendo entre mim e Sophia o tempo todo. Passou só três dias desde que ele declarou A guerra e eu já vou afundar a mão na sua cara. Eu não posso dormir, não posso comer o que quero e não posso sossegar com minha namorada! Que porra, eu vou surtar! Ele está até dormindo entre nós, de cabeça para baixo, o chulé do caralho de um dia andando para lá e para cá na cidade bem nas nossas caras. Ser chato e inconveniente é só a preliminar dele. Todo mundo odeia as preliminares do Freddie Maluco.
No momento estamos comendo crepes numa lanchonete e Fred parece mais concentrado na sua comida do que em nós, por enquanto ou por sorte. Quase me sinto normal em meio aos trouxas, Sophia se diverte em me falar o que é o que e como não devemos agir, que roupas seriam menos chamativas e etc. Eles não são tão diferentes de nós quanto imaginei, bem, são humanos apenas mais sem graça, mas ainda somos parecidos. Rá! Mal posso esperar para contar para o meu pai de tudo que eu aprendi. Frigobar, maquina de café, ar condicionado, o controle da TV que por enquanto ainda é um desafio... Já estou com saudade de casa.
Eu não gostei tanto assim da comida de hoje, mas surpreendentemente não consigo parar de comer, termino meu crepe salgado antes que Sophia e ameaço roubar dela, mas a garota falta me matar ao olhar na minha direção. Sorrio e aproximo minha cadeira dela pronto para barganhar um pedacinho, mas o nosso rádio bruxo nada discreto dá sinal de vida após um leve toque que lhe dou com o cotovelo e nós três olhamos para ele, rapidamente fisgados. Ele não funciona muito bem no mundo trouxa então não estávamos com tantas esperanças. Sophia fica relutante e a lista de nomes já estava rodando, não sabemos dizer se demoraram muito para atualizá-la ou o quanto a gente perdeu, nenhum de nós costuma acompanhar o rádio, mas finalmente eles vão anunciar nossos nomes, isso se não já anunciaram. Espalhamos até um pouco de sangue falso pela casa, resta esperar que os comensais não tenham inventado de investigar a fundo logo o nosso caso e deixem a casa como está, sempre adorando deixar para trás os vestígios de sua perversidade sem que ninguém mais possa mexer nela. Aguardamos inclinados na direção do rádio, sem piscar nem respirar. Não é em ordem alfabética então nossa ansiedade fica maior.
— Merda, será que perdemos?— Fred faz careta.
— Sophia Carter— diz a mulher, o rádio a deixa travando e robótica, entediada. É o antepenúltimo ano e o rádio muda de estação sozinho após os pêsames que a mulher dá, tudo meia boca.
— Se falaram meu nome já devem ter falado o de vocês— Sophia dá de ombros e desliga o rádio e eu e meu irmão nos encaramos sérios por um longo momentos. Agora nossa família sabe, eu acho. Afundo-me na cadeira de ferro e me sinto um pouco perdido. Deu certo, oficialmente. Olho para o céu cinzento e sinto a mão de Sophia na minha coxa. Agarro a mão dela e olho nos teus olhos.
— Vamos voltar para o hotel— falo, me levantando. Não quero ficar num lugar público agora, não quero ficar mal na frente de tantos estranhos.
Que porra, eu não tenho muita certeza sobre como me sinto.
