➤ Meu sangue

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CARTER

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CARTER

Está bem, eu estou cedendo! Quando amanhece e eu sinto que não tem como ficar mais faminta, meu estômago se estremece dolorido e eu finalmente jogo a toalha. Bandeira branca, meus amigos! Eu desmaiei na rua e acordei congelando com um gato me cheirando e lambendo meu rosto com sua língua áspera. Me levanto e cambaleio como uma bêbada procurando ansiosa por qualquer fonte de alimento. Minhas moedinhas preciosas vão embora em breve, eu tenho que comprar uma comida que eu possa racionar. Água. Por Merlim, no meio da minha fuga eu devia ter pensado melhor e roubado umas comidas também, talvez eu não me sentisse tão mal por tirar mais isso dos gêmeos, mas... É, eu me sentiria.

Estou com vontade até mesmo de uma garrafa de Fire Whisky. Eu nem gosto de beber. Ficar bêbada parece uma ótima ideia para uma garota sozinha e desarmada, vai em frente, Sophia! Você não para de ter ideias brilhantes!

Por que eu faço isso comigo mesma? Eu tenho que seguir com o plano, chega de me ser covarde. A corrida vai ter que começar depois do meu café da manhã.

Eu relutei, e não sei porquê demorei tanto em agir. Eu sei o que preciso fazer, mas o medo se instalou em minha espinha e eu preferi me adaptar às sombras, mas passou do tempo de bater no peito e gritar para o mundo que eu posso fazer isso.

Nada é impossível para um Carter, era o que meu pai dizia mesmo que nenhum de nós tenha enfrentado qualquer dificuldade extrema alguma vez na vida. Naquela nossa vida perfeita e de cercas brancas polidas. Nós éramos os vizinhos com a grama mais verde....

Eu não quero pensar sobre isso. Meu estômago ronca tão alto que eu aposto que podem ouvi-lo do outro lado da cidade. Eu preciso comer alguma coisa, estou fraca e vulnerável. Uma vítima perfeita, se soprassem em minha direção, eu cairia.

Santa Helga, eu precisava de um plano ideal, mas as ideias me escapam como o demônios foge da cruz. Eu preciso de tempo.

Empurrando uma porta de vidro e fazendo um sino soar sobre minha cabeça, eu invadi um estabelecimento que vendia doces. Doces são tudo o que tenho acessibilidade. Não é lá uma Dedos de Mel, mas quem sou eu para reclamar? Permaneço de cabeça baixa enquanto pego os doces, roubando alguns ao jogá-los para dentro de minha manga, pegando com obviedade aqueles que eu pagaria para não causar tantas suspeitas assim já que eu não estou me garantindo em uma corrida.

Roubar não dá certo se o vendedor cravar os olhos em você. Se você agir de forma suspeita, se estiver sozinha com uma mochila nas costas, se parecer que está fugindo.

Fugitivos chamam a atenção em tempos de guerra. Do que você está tentando se esconder, garota? Posso ouvir a voz rouca do vendedor velho me questionar quando eu chegar ao balcão. Com muito contragosto, eu devolvo alguns que não tinha como pagar. Meus bolsos estão quase vazios quando me aproximo do balcão sem olhar nos olhos do atendente.

É quando vejo que estou sendo procurada. Bem ali, colado no balcão tem uma folha com meu nome e a minha cara. O cartaz mostra como se eu fosse uma vilã extremamente perversa fugindo de Askaban. Meu sorriso neutro parece apenas psicótico, como se eu fosse uma pessoa dissimulada. Lobo em pele de cordeiro. Eu só tenho fotos sorrindo.

Pisco rapidamente e minha respiração se desregula. Eu sabia que eles estariam atrás de mim, mas agora é a confirmação. Uma prova. Vão fazer os moradores procurarem por mim, como fizeram os meus antigos vizinhos abrirem o bico sobre os ruivos que removeram os corpos.

— Você a conhece?— pergunta o homem, batucando o dedo sujo nas folhas amareladas, prontas para serem distribuídas. Sacudo a cabeça em negação, a touca que cobre meu rosto ameaça cair.

— O que ela fez?— pergunto em voz trêmula. Frágil como a de uma garotinha assustada.

Que é o que eu sou agora.

— Estão dizendo que ela matou a própria família e agora está fugindo dos comensais— ele se debruça no balcão e baixa o volume da voz. Para não agir como uma tonta tento o distrair com o dinheiro. Olhe para as minhas mãos como um truque de mágica, ignore meu rosto, não se concentre demais em mim, por favor— O jornal disse que ela roubou algo dos comensais e os pais descobriram e quiseram um pouco, mas ela não gostou nada, nada disso... não perdoou nem o próprio irmão, pobrezinho. Ele não era nem bruxo para se defender.— ele comenta com pouca empatia, contando as moedas, arrastando-as no balcão de madeira.

Não. Não foi isso o que aconteceu, eu quero lhe falar, mas mordo a língua e forço um sorriso.

Isso não é verdade, não foi o que aconteceu. Eu não matei os meus pais, eu não matei o meu irmão!

— Obrigada— murmuro me apressando para sair dali, acho que vou vomitar. Praticamente corro para longe da loja socando os doces nos bolsos. Tudo começa a girar.

Eles estão dizendo que eu matei minha família. Eu matei minha família e roubei algo deles. O mundo todo parece olhar para mim enquanto eu cambaleio na rua em direção aos becos mais isolados possíveis. Eu vomito até minha alma no chão, até sair um pouco de sangue pelo esforço machucando minha garganta. Eu não tinha muita coisa na barriga e agora, oficialmente, eu estava vazia. Eu cambeleio mais afundo ainda no beco sujo e começo a chorar, porque parece que esse é meu mecanismo automático quando eu passo dos meus limites. Eu os matei.

Eu não matei minha família, eu não sou um monstro, por que eles fizeram isso? Por que estão fazendo isso comigo? Eu choro compulsivamente, fico tremendo e me encolho no chão. Eu não sou a vilã. Eu jamais mataria minha família, por favor, alguém acredita em mim!

Minha garganta se veja e tudo se escurece, começo a soar frio. Meu coração acelera e parece que vai explodir, minha respiração desregulada só me deixa mais desesperada, eu não tenho qualquer amparo. Era disso que Katie Bell estava me poupando aquele dia quando tocou fogo no Profeta. Ela sabia. Ela não acreditou no que leu, não pediu para os rapazes terem cuidado comigo... Pediu?

Basta olhar para mim e saberá! Meu histórico, minha vida! Eu jamais me voltaria contra minha família, jamais roubaria os comensais da morte!

Eles... eles me fizeram ser o monstro da história. Minha cabeça dói. Mais do que nunca, eu estou fulminando de ódio. Ódio da minha dor, da minha impotência, da vida. Eu quero gritar até perder a voz, quero esmurrar o concreto até quebrar minhas mãos, mas não é isso que eu faço. Pelo contrário, fico imóvel e espero. Minhas mãos emaranhadas em meus cachos, puxando-os da raiz com força. Meu rosto está molhado e tudo na minha vida está acabado. Eu não posso deixar que acabe assim. Minha visão volta muito lentamente, sem pressa e eu encaro o chão, pouco mais de um metro na minha frente está meu sangue em meio ao meu vômito. Meu sangue.

Eles tiraram tudo de mim. Eu não tenho literalmente mais nada.

Eles me pagam.

HUMAN, George WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora