➤ Lugar nenhum

1.9K 294 42
                                    

Estou imersa no conforto

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Estou imersa no conforto. As coisas estão quentes, mas estou... bem. Meio acordada, meio dormindo. Me assusto com os flashes vermelhos. Acordo de uma vez, desesperada, e me sento, ofegante. Sinto o cheiro de chá de ervas e olho ao redor completamente perdida. Toco meu corpo, eu estou com roupas novas, largas, meu rosto está seco, sem feridas na minha bochecha dos murros que levei. Foi tudo um pesadelo? Eu não conheço esse lugar, fico assustada. As cores quentes nas almofadas e paredes, parece a casa dos gêmeos, mas... maior.

Deslizo para fora das cobertas. O pânico me consome.

— George!— chamo pelo ruivo, preciso urgentemente saber como ele está, onde ele está, saio correndo do quarto, o corredor espremido me dá certa claustrofobia— Fred!— me agonio. Sei que não preciso surtar, no fundo tenho plena consciência disso, mas ainda assim, parece inevitável. Alguém toca no meu ombro e eu grito socando a pessoa sem ver por onde.

— Ah! Cacete!— diz a ruiva levando a mão ao nariz, fiz mais uma Weasley sangrar, ponto para mim. Eles me trouxeram para a casa, de novo. Essa deve ser a Toca.

— Me desculpa, Ginevra!— peço, fazendo careta e segurando meu punho— E-eu... foi reflexo!

— Não. Tudo bem— é evidente sua dor, ela se apoia na parede, os cabelos ruivos e lisos deslizam no seu ombro desnudo— Eu cheguei de mansinho, dado o que rolou com vocês, eu devia ter esperado por isso...

— Sério, me desculpa— toco seu ombro pintado de sardas, ela ajeita o tomara que caia verde limão que veste. O desgosto enche meu peito, estou com tanta raiva de mim. Ódio, desprezo. Meu Deus. Eu sou puro problema e eles salvaram minha vida, de novo.

— Não se preocupa com isso, Carter, estamos bem, está tudo bem agora— diz ela com uma mão segurando o nariz e a outra dando tapinhas no meu ombro, eu desloquei o nariz dela e ela que tem que me consolar, essa cena é patética. Respiro fundo e mordo o lábio para não entupi-la com pedidos de desculpas.

— Onde ele está?— pergunto, nervosa e esfregando as mãos. Ela me olha. Gina tem um olhar de raposa como o dos irmãos, puro mel, mesmo que para ela tenha um pouco mais de verde. Ela olha diretamente nos meus olhos, não no meu rosto ou além de mim, ela tem... o olhar de George. Ela me enxerga de um jeito bizarro. É uma coisa que simplesmente dá pra saber.

— Vem comigo— ela anda na minha frente inclinada, ainda segurando o nariz, o sangue escorrendo por entre os dedos. Estou começando a ter medo de sangue, ele está por toda parte. A casa parece ranger enquanto caminhamos ignorando portas, é como se o vento fosse levá-la para longe a qualquer segundo. Gina para diante de uma porta laranja com as iniciais dos rapazes e vários outros desenhos que eu não presto atenção porque eu avanço antes que Gina sequer pisque.

O quarto é uma pura zona, como se o guarda-roupa tivesse explodido e espalhado as roupas para todos os lados. Duas camas de solteiro, Molly está sentada na beira de uma delas, ambas com um ruivo dormindo. Reconheço que Molly está enfaixando as mãos de George além de qualquer coisa. Eu me obrigo a parar de andar da metade do quarto quando a mãe do meu namorado olha na minha direção. Não entendo seu olhar.

Ela não parece com raiva, mas está magoada. Que mãe não estaria? Eu tentei mantê-los longe do perigo, mas eles me seguiram e pagaram o pato. Bum, uma bomba de pânico e tortura. Levo a mão ao pescoço dolorido. O que eu faço agora? Imploro por perdão? Vou embora de novo? Desvio o olhar de Molly e encaro George, meu mundo estremece. Me aproximo cautelosa, quero muito chegar até George, quero tocá-lo para ter certeza que está vivo, mas o olhar de Molly me acompanhando me obriga a me refrear. A mulher se levanta quando estou a um passo de distância da cama. Esperei por um tapa, nada mais justo, não é?

Mas ela me abraçou. Molly Weasley me abraçou. Depois de tudo, eu ganho um abraço de uma mãe. Fico congelada por segundos longos, mas aos poucos retribuo, indecisa, completamente remexida. A torneira nos meus olhos a ponto de se abrir de novo. Eu sinto falta da minha mãe.

Isso é muito bom. Ela passa a mão nos meus cabelos e eu deito a cabeça no seu peito.

— Que bom que está viva, menina, nos deixou preocupados— ela diz, afetuosa. Eu estou tentando não cair em prantos, mulher, facilite. Não sei o que responder. De repente, minha língua parece grande demais na minha boca. Eu esqueci como se fala, sigo com os olhos fixados no rosto adormecido de George.

Quantas vezes já não o assisti dormindo? O sono sereno dele me acalmava de um jeito mais... estranho? Não sei a palavra certa, mas quando eu o via dormir enquanto eu mesma não conseguia, me dava certa paz de espírito. Me senti justiçada. Precisei alcançá-lo então desmanchei o abraço da dona Molly e me ajoelhei ao lado da cama de George. Toquei seu braço, ele também está com roupas novas, uma blusa roxa de manga longa, não sei das suas calças já que o cobertor vermelho vai até seu peito. Arregaço sua manga, uma necessidade de sentir sua pele se supera e eu beijo seu antebraço várias vezes. Você está vivo, isso que importa. Me torno alheia à presença da sua mãe e me sento no lugar que ela estava. Apenas a ouço se afastando, provavelmente para cuidar do nariz de Gina. Me debruço sobre George e colo o ouvido no seu peito. Seu coração bate normalmente, ritmado, sonolento. Fico anestesiada por um minuto.

— Você não devia estar lá— murmuro e olho para Fred na outra cama encostada na parede. De bruços e sem camisa, deitado por cima do cobertor com a cabeça enfaixada— Vocês não deviam.... Mas obrigada— aceito a droga do favor porque eles não param de se arriscar por mim. Temos um momento de paz. Está tudo errado, mas eu estou ouvindo o coração de George e por mim isso basta— Fiquei com tanto medo de te perder— passo a mão pelo seu braço, ergo o rosto e o encaro de perto. Beijo seu queixo. Sei que ele sabe a sensação, ele estava lá.

Não devia, mas estava.

— O que nós fazemos agora, Georgie?— estamos mais do que oficialmente fodidos. Admito que pelo menos fico aliviada de estar com você— Espero que não brigue tanto comigo quando acordar— desejo tendo apenas o silêncio em resposta. O silêncio gritante da espera. No momento, não pretendo ir a lugar algum.

HUMAN, George WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora