CARTER
Eu não pergunto como eles estão, não dá para sair qualquer coisa boa disso. Vamos para os fundos da casa, cada um com uma mochila nas costas, cada um pronto para a morte. Isso seria cômico em algum momento, porém, agora eu só vejo como uma desgraça. Eu inspiro fundo, o ar puro do jardim é tão agradável.
— Vou sentir falta daqui— eu admito, de olhos fechados sentindo o sol nas minhas costas. Eu estou de mãos dadas com os rapazes, George à minha direita, Fred à minha esquerda.
— A gente vai voltar— George fala em voz baixa e entrelaçamos os dedos. Quando abro os olhos e me volto para ele, ele já está me olhando. Ele acha mesmo que eu valho a pena, dá pra ver isso quando ele sorri para mim e é sincero. Eu dou um beijo no seu ombro respirando seu cheiro.
— Eu não me despedi da Angie— Fred diz chamando nossa atenção, encarando sua casa.
— Não vai ser por muito tempo, Freddie— George o consola. Ao menos tenta. Fred olha para seu irmão e então para mim e assente.
— Espero que esteja certo.
Nós só ficamos quietos. Um acordo geral e silencioso de que não seremos pessimistas. Eu fecho os olhos de novo e esvazio a mente enquanto desaparatamos da toca. O relógio começa a correr agora.
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Está frio aqui. Não está nevando, mas está frio demais como se tivéssemos aparatado direto no Alasca.
Tem muitas casas abandonadas ultimamente, as pessoas fogem e desaparecem, todo mundo quer forjar a própria morte. O desespero ao redor do globo é assustador.
— Eles deixaram tudo pra trás— eu murmuro pegando um porta retrato empoeirado de cima da cômoda, família de três, pai, mãe e filho, sorrio quando eles sorriem e fazem careta na foto enfeitiçada, George passa atrás de mim carregando uma das armadilhas que preparamos para os comensais. Pelas pontas afiadas da coisa, eu acho que essa vai doer. Vamos morrer com estilo, levando alguns deles conosco.
— Já levaram o mais importante— o ruivo me diz, olhando a foto também— Espero que estejam todos bem— desejou e continuou no seu caminho. Eu devolvi a foto para a cômoda.
— Eu também— bufo e começo a dar um nó nos meus cachos. Em breve vai anoitecer e o frio vai se tornar mais severo. Acho que é só a base de adrenalina que eu estou funcionando. Minhas mãos tremem. Vai dar tudo certo, porra. Tem que dar.
Começaremos por uma casa qualquer no final do vilarejo, próxima a casa mal assombrada. Ambas, muito provavelmente, serão destruídas, mas imagino que a família que saiu daqui as pressas já esperava por isso. Não consigo deixar de me sentir mal por fazer isso, mas que escolha nós temos?
Armadilhas das quais eu tomo cuidado de desviar, isso vai pegar de jeito os desavisados.
— Vocês já fizeram muitas dessas, não é mesmo?— eu sigo Fred para o último cômodo, George sobe para verificar as catapultas improvisadas com poções ácidas.
— Muitos anos de treino com o Filch e os professores— Fred confirma se abaixando ao passar pela porta, eu o imito por precaução— As que a gente fazia na escola já poderiam bem ferir alguém gravemente se não montadas da forma correta, estas aqui, definitivamente não vão errar.
— Acha que virão muitos deles?— pergunto, Fred balança a mão perto do batente da porta com muita cautela e então para, olha para cima e eu o imito. Um machado está posicionado encima da porta, inclinado, escondido e perfeitamente afiado, não está nem bambo— Corda invisível?
— Sim para as duas... e se não vierem muitos, pelo menos vamos matar todos— Fred fala, aparentemente passando os dedos pela corda— É estranho se eu falar que não acho isso sinistro?
— Depois do que a gente passou, não é nada estranho— cruzo os braços e suspiro.
— Cara, eu quero muito que todos eles morram— Fred suspira, eu fico do seu lado e olho para a janela dos fundos, escancarada, nós iríamos sair por ali, bem, ao menos era o programado caso não conseguíssemos desaparatar.
— Eles certamente merecem, Freddie— balanço a cabeça.
— Eu não quero enlouquecer, Sophia— ele diz passando o braço por cima do meu ombro. Encosto a cabeça no seu peito e aperto os lábios.
— Não acha que já enlouquecemos?— questiono, sorrindo ironicamente. Fred se estica e passa o dedo pela lâmina do machado. Ele ri.
— É, pode ser— resmunga colocando a mão na minha cabeça.
Ouvimos George se aproxima devagar, passos arrastados, ele olhando ao redor.
— Olhos— Fred fala calmamente, George abaixa a cabeça ao entrar no cômodo. Ao passar para a segurança, ele olha para cima da porta e sorri para o machado.
— A gente vai para o inferno, não vai?— pergunta meu ruivo vindo para o meu lado e passando o braço pela minha cintura.
— Por matar uns demônios? Acho que não— Fred diz.
— Só vamos levá-los de volta para casa— falo como se fosse natural. Nós nos entreolhamos e então rimos.
Enlouquecemos de vez. A antiga eu jamais acharia normal uma coisa dessas. Convidar um monte de estranhos para um massacre, uma armadilha totalmente injusta.
Aquela Sophia foi morta com o resto da família. Foi-se a lufana que queria ver os dois lados da história antes de julgar, dar uma de Deus e decidir quem vive e morre. Foda-se, só... foda-se.
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Chegou a hora da parte que George mais odiou de todo o plano, eu vou sentar nas escadas e vou esperar. As pessoas vão me reconhecer, as tochas acesas por toda a ruela me deixam evidência. Eu me sento no primeiro degrau e como da barra de chocolate que Fred roubou da dispensa. O meu hino começa a tocar em minha mente, agora eu tenho uma varinha e quero muito viver. Vai ser uma armadilha que vai se voltar contra nós, pelo menos na cabeça deles, será.
Espero conseguir matar Bellatrix hoje. Pelo menos hoje ela tem que morrer.
Olho para a janela da casa por cima do ombro, George faz careta para mim, preocupado, com o rosto exposto por uma fresta da cortina branca e Fred tem que puxá-lo para fora de vista pela orelha boa. Eu vou fazer o que for necessário para que nada aconteça com eles.
Se for necessário, o que eu desejo muito, muito mesmo para que não seja. O chocolate é meio amargo, mas parece tão saboroso para uma última refeição. Eu encho meus pulmões de ar puro, eu sinto meu coração retumbar violentamente dentro do peito, minhas mãos tremem e transpiram. Eu estou apavorada.
Me recuso a pensar em tudo que pode dar de errado, em tudo que eu me recuso a perder. Eu só preciso que meus garotos saiam impunes, porque eles merecem, mesmo que nossas mãos fiquem cheias de sangue esta noite, pelo menos não será de nenhum inocente.
Está na hora, uma mulher passa por mim, gorda, pequena com uma faixa amarela envolta na cabeça, passa em passos apressados e me encara o tempo todo. Sorrio para ela e aceno. Chama eles, querida, pelo seu olhar sei que quer a recompensa. Vou dar um presente para Bellatrix essa noite, e espero mesmo que ela não goste nada da surpresa.
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HUMAN, George Weasley
FanfictionHUMANA || Se a guerra não estivesse estourando, quem sabe eu não teria conhecido ele. Não há uma parte minha que se arrependa de ter conhecido ele. Meu garoto com os olhos de raposa. Meu George Weasley.