CARTER
Escolhas e destinos. O que eu deveria esperar? É um porre saber que ele está certo. É, inferno, eu sei. Mas sou egoísta e penso mais ainda como eu preciso do toque dele. Ele tem que me privar disso e sabe como vai me deixar louca. Ele não para de falar comigo. No boca a boca está tudo normal, mas ele levou a sério o distanciamento. Fazem horas que eu não consigo tocar nele nem de raspão. Malditos sejam todos os reflexos de batedor!
Seja racional, Sophia, tenta entender o lado dele, eu fico me cobrando mentalmente. Respiro fundo e me abraço, a água quente do chuveiro banha minha cabeça e deixa o lado de fora no mudo. Fico sozinha, solitária, por conta própria, o que der para definir. Todos me deixaram. Mas obviamente eu não posso me deixar, e é isso tudo o que eu quero. Sair desse corpo, apagar minha memória para escolher o final feliz com o melhor cara que eu poderia ter me encontrado nesse mundo todo.
As coisas perderam o sentido. Parece que eu não tenho emoções se não estou perto do meu ruivo. Isso é um bom sinal ou um péssimo? Fala sério, como poderemos ser felizes se o mundo está acabando? Isso sequer existe hoje em dia?
Eu preciso dele. Preciso muito. Só passaram horas e eu estou cogitando ir implorar por misericórdia, um abraço seu, mas eu tenho que pensar duas vezes antes de fazer qualquer movimento, porque eu não tenho tanta certeza assim se estou disposta a... superar.
Os gritos ainda me perseguem no silêncio. Parecem meio vagos, como se não passassem de uma memória distante. Parte de mim quer muito enterrar todo o caos, afogar todos os meus demônios e seguir em frente. Eu quero esquecer de tudo, mas com tudo, eu perderia também as coisas boas. Mas eu não consigo lembrar de nada bom sem que isso se torne uma tortura. Estou presa num loop infinito de luto, eu tanto quero sair daqui, intensa e desesperadamente.
Além dos gritos, as risadas dela me assombram sem o menor descanso. Aquela... eu não tenho nem palavras. Não existe xingamento o suficiente para explicar que tipo de monstro Bellatrix Lestrange é. Não foi só ela, mas digamos que sua alegria me marcou bem mais afundo do que o que os outros fizeram. O jeito como ela se divertia, como não se importava... Ela estava pouco se fodendo se tinham crianças na casa. Pouco lhe importava saber que eram pessoas boas.
Ela é meu pesadelo. Eu tenho tanto medo dela, eu a odeio com todas as minhas forças. Eu só quero que ela morra, que pague pelo que fez. Quero que eu seja aquela quem vai fazer com que Bellatrix Lestrange pereça.
Desligo o chuveiro e me sento na banheira, abraço minhas pernas e fico parada, sozinha e vulnerável. Eu tenho que parar de esperar que os outros me salvem. Fred me salvou aquela noite, eu não sabia para onde ir. George me salvou nesses dias todos desde então, ele brilhou para mim, sua bondade e zelo para comigo mexeram com meu coração de manteiga.
Não é obrigação deles, eu não devia estar aqui. Encaro a pulseira de amizade que Fred me deu e sorrio para ela. Melhores amigos. Ele gosta de mim, assim como eu gosto dele. Fred é um bom rapaz, assim como George, eu quero ter os dois comigo para sempre. A pulseira aperta meu pulso como se tivesse vida própria. Fica completamente vermelha. Tombo a cabeça de lado, curiosa, seria algum tipo de consolo? Fred é genial. Nunca tinha visto feito esse feitiço, mas boa parte dos lufanos sabem fazê-lo, é claro. É uma pulseira da amizade. Vai mudar de cor quando um precisar do outro. Fico confusa por um momento. Fred precisa de mim? A pulseira dele que deveria mudar de cor...
Eu saio do banho, começando a me alarmar, molho todo o chão e me enrolo na toalha com pressa. O ruivo foi trabalhar, estamos só eu e George de novo e eu vou logo procurar por ele. Meu cabelo está molhado, eu o enrolo e o jogo para trás, descendo as escadas descalça e deixando uma poça d'água a cada passo que dou. A pulseira aperta mais meu pulso.
— George!— eu chamo, quase um grito. Ele está na cozinha, sorri para mim ao me ver e me mede de cima a baixo.
— Tentando me seduzir, moranguinho? Pensei que levaria mais tempo— ironiza com um sorriso largo e malicioso brotando nos teus lábios rosados. Ele veste uma blusa de frio de camurça e uma touca fofa. Está frio como em todos os dias anteriores.
— Não, George. Tem alguma coisa errada— eu ergo o pulso, mostrando a pulseira vermelha— Ela está me apertando muito— ele franze a testa e larga os pratos que lavava, minha mão está ficando vermelha pela precariedade da circulação de sangue. Está escuro lá fora, o dia passou rápido, mas pareceu ter durado uma eternidade para chegar até esse ponto. George olha o relógio. Era para Fred estar fechando a loja nesse momento. Nós nos encaramos, a pulseira se aperta ainda mais, está começando a me machucar— George...— eu murmuro apertando meu antebraço. O ruivo se agita e dá a volta por mim tirando a varinha do bolso.
— Se isso for uma brincadeira, eu juro que mato ele— George resmunga marchando para a porta, corro para segurar seu pulso. Ele me olha, confuso.
— Aonde você vai?
— Atrás do Fred— ele diz o óbvio.
— Agora? É, hm... Tá bem. Tá...— minha respiração se acelera, eu começo a tremer tanto que fico dividida se é o frio ou o medo do pior ter acontecido— Deixa eu me arrumar— eu agarro a toalha em meu peito quando ela ameaça cair.
— O que? Não. Você fica— ele refuta imediatamente.
— Fred pode estar em perigo, você não pode ir sozinho— me estresso. O semblante dele muda, a preocupação se sobressaí, palavra errada. De novo, puta merda, Sophia.
— Não tenho tempo para discutir isso, Sophia! Você fica— ele sai pela porta sem mais demora, eu tento a abrir, mas sei que ele não passou só a chave. Bato na droga da porta com o punho cerrado.
— Inferno!— eu resmungo, irritada e furiosa por ser deixada de lado. A pulseira aperta ainda mais meu pulso, o sangue vai parando de vez de circular, eu tenho que tirar isso, mas logo fico dividida, isso pode cortar o feitiço? Como saberei o que aconteceu depois que George saiu?
Maldita hora de não ter minha varinha. Merda, tomara que eu esteja enganada.
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HUMAN, George Weasley
FanfictionHUMANA || Se a guerra não estivesse estourando, quem sabe eu não teria conhecido ele. Não há uma parte minha que se arrependa de ter conhecido ele. Meu garoto com os olhos de raposa. Meu George Weasley.