➤ O vilão

3.5K 483 47
                                    

WEASLEY

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

WEASLEY

Eu estou sorrindo como um idiota simplesmente porque a garota está olhando para mim, sentada no sofá perto de minha escandalosa mãe e minha irmã, ela me pede por socorro de uma maneira não tão discreta. Pode estar sendo um dia muito bom só para mim, pode me chamar de egoísta. Gina está trançando os cabelos cacheados dela para baixar o volume e minha mãe a distrai perguntando-a sobre a escola e a vida antes da guerra estourar. Todo mundo evita educadamente mencionar sua família ou, no mínimo, os comensais que a destruíram. Eu, Fred e Angie estamos sentados no chão, Katie foi usar o banheiro e está emburrada comigo, mal olha na minha cara, mas também não é como se eu fosse pedir desculpas.

— Posso fazer suas unhas, Sophia?— Angie pergunta aos pés da garota.

— Ah, por favor, não se dê o trabalho— Sophia fala, franzindo a testa, uma careta tensa pelos puxões que Gina dá para lhe fazer uma trança embutida me faz rir baixinho, ela me fulmina com seus olhos castanhos, seguro-me para não lhe mandar um beijo.

— Não é trabalho algum— Angelina garante tirando as meias de Sophia. Claro que elas trouxeram um kit de embelezamento, pelo menos não vai sobrar para mim e meu gêmeo menos lindo, da última vez eu fiquei magnífico e até coloquei uma peruca para me gabar da maquiagem, Fred me imitou (como sempre) e ainda usou um vestido da mamãe. Amarelo não é a cor dele. Vivo o falando que com ele as cores não brilham, mas ele não entende. Teima em achar que é o mais gostoso, faz favor, né!

Fred aperta meu ombro e se aproxima para cochichar no meu ouvido.

— Você ficou com ela, né? Gina me contou— ele sussurra e se afasta para analisar minha expressão com um sorriso malicioso. Reviro os olhos.

— Aquela linguaruda— resmungo— A mamãe ouviu também?

— Bem... ela não sussurrou— ele dá de ombros— Estava bem puta por você ter dito que ela quebrou a mesa— Que maravilha, todo mundo sabe que eu beijei a garota. Me irrito só de pensar o que minha mãe vai falar dela quando forem embora, claro que vão julgar como se tivesse sido fácil, mas não do jeito normal da palavra, e sim como se Sophia fosse uma oferecida. Foi uma coisa simples, do jeito bom da palavra, eu gostei da garota, ela gostou de mim, eu beijei a garota e ela retribuiu. Não há complicações para coisas assim se nós dois estamos solteiros e, bem, somos estupidamente lindos, é... atração. Pura e mutua, coisa que um cego poderia ver. Bufo impaciente, minha mãe pode ser boa, mas também é muito falsa, eu nunca gostei disso— Foi bom?— Fred pergunta, eu o encaro um tanto cínico.

— Cuida da sua vida, cuida— dou um tapa na sua testa, ele retribui e nós nos estapeamos atoa. Maior crianção, nem sei como essa mente fraca ocupou o mesmo útero que eu e ainda teve sorte de nascer com a minha cara. É claro que foi bom, por sinal, eu quero de novo. Volto a olhar Sophia, porra, como eu nunca tive a chance de falar com ela na escola? Talvez fosse o pensamento de que ela fosse me julgar? Sempre me pareceu tão certinha, a vida é sempre uma caixinha de surpresas.

Katie está voltando para nosso círculo no exato momento que há uma batida na porta, seca e oca, como se tivessem jogado um livro na mesma, olho para Sophia, cauteloso como todo mundo, ela encara a porta, Katie decide abri-la e se abaixa para pegar o que eu temia. O profeta diário. Sophia se esquiva das outras e se levanta, alerta, eu a imito porque simplesmente penso que a última coisa que ela precisa ver é a porra da Rita Skeeter falando da sua família massacrada.

Katie lê o jornal e franze a testa voltando a encarar Sophia.

— Esta é você?— ela pergunta, não, não! Corro para pegar o jornal da mão da loira que já não está indo muito com a minha cara hoje.

— Ninguém precisa ver isso, vou jogar fora— falo, irritado.

— George, me deixe ver— Sophia avança para mim, mas Fred fica entre nós, certamente está do meu lado nessa— Rapazes, vamos, eu quero ver!

— Isso só vai te ferir ainda mais— argumento, ela sorri sem humor.

— Acho que não é possível eu ficar mais machucada— fala e estende a mão trêmula na minha direção, pedindo pelo jornal.

— Soph, se poupe disso— Fred tenta argumentar com um tom de voz manso e baixo, mas eu mesmo vou desistindo. Não quero que ela sofra mais, mas como impedir? Tentar protegê-la só vai fazer com que ela queira mais ver do que se trata.

— Georgie, por favor.— ela pede.

— Não.— Fred pega o jornal da minha mão e vai para perto da lareira. Sabia que eu não ia conseguir. Eu fico grato por isso.

— Parem de me tratar como se eu fosse uma criança!— Sophia vai se estressando— Eu já vi eles mortos, carbonizados e podres, QUE PORRA SERIA PIOR DO QUE ISSO!?— ela grita com Fred, um silêncio perturbador nasce e se instala com uma adaga amaldiçoada se impreginando no solo. Minha mãe está com a mão no peito, Gina me questiona com o olhar preocupado, e Katie está se aproximando aos poucos de Fred. A loira agarra o jornal e meu irmão é pego desprevenido porque também estava prestes a ceder quando Angie vai para o lado de Sophia. Katie joga o jornal na lareira e aponta a varinha para ele.

Incendia!— é o que ela grita. Logo as páginas começam a pegar fogo.

— Não!— Sophia grita tenta avançar na direção do fogo, mas Angelina a agarra por trás num abraço de ferro. Eu já levei um soco dela, mesmo na brincadeira, sei como Angelina é forte— Não, não, não— Sophia fica repetindo, os olhos arregalados, desesperada para se soltar. As páginas vão queimando, o cheiro de fumaça se espalha, nem imagino o que esteja passando na cabeça da garota nesse momento. Quando as folhas se contorcem, a última coisa capaz de se ver é a imagem de Sophia se mexendo e sorrindo, uma foto tirada na escola, retratada como desaparecida ou sobrevivente, a gente não vai saber. Olho para Katie, ela já está me encarando e assinto, um agradecimento silencioso, ela retribui, deve ter lido o suficiente em um minuto. A raiva se torna visível no rosto de Sophia quando ela olha na direção de Katie— Quem você pensa que é!? Você não tinha o direito de fazer isso!

— Mas eu fiz, me agradeça mais tarde— Katie rebate, Sophia reage muito rápido, dá uma cotovelada na barriga de Angelina que a solta com o susto e parte para cima de Katie dando um tapa na cara dela, nem espera para nós termos uma reação e corre na direção da porta, penso rápido e vou na frente dela barrando sua saída. Ela bate no meu peito com os punhos cerrados.

— Sai da minha frente, Weasley!— ela fala, ameaçadora.

— Não, você não pode sair assim.

— ISSO NÃO É DA SUA CONTA!

— AGORA É!— rebato— Não vou te deixar sair assim!— Ela bufa e balança a cabeça, seus olhos correm pelo cômodo, ninguém está a seu favor, ela fecha os olhos, parece se concentrar, não tem como desaparatar e ela ainda não sabe. Não demora para entender também. Ela me encara, uma divisa entre traição e raiva.

— Vocês querem me prender!?

— É para seu próprio bem, querida— minha mãe fala se levantando. Sophia trinca o maxilar, se segurando para não responder. Me olha nos olhos e balança a cabeça.

— Vai se foder— ela diz entredentes e sai correndo para o andar de cima. Ótimo, ela está com raiva de mim, claro, obrigado universo por me fazer o vilão depois do ótimo momento que estávamos tendo. Eu odeio magoá-la, mas também não me arrependo.

HUMAN, George WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora