➤ Deixe-a ir

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CARTER

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CARTER

Um beijo na testa de despedida é tudo o que posso oferecer. Meu obrigada e meu pedido de desculpa. Eu o olho quando o dia está amanhecendo.

— Vou sentir sua falta— sussurro. Seus olhos se agitam sob as pálpebras, mas o sono é mais forte e ele não acorda. Sorrio para o ruivo e admiro as sardas espalhadas pelo seu rosto, só espero que ele não fique com raiva de mim por muito tempo. Logo ele vai entender que é o melhor para todos nós. Eu tenho certeza que é.

O feitiço de Angelina impede invasores, não quem quer partir, então isso não é problema. Roubei uma mochila dos gêmeos, espero que desculpem essa também, mas não tem como eu usar uma trouxa enorme e a carregar de um lado para o outro. Não vou chamar atenção, pelo menos não assim. Eu tento não entrar em pânico ao deixar a casa dos gêmeos. O frio da assombrosa Londres me recebe de mau humor na alvorada.

Cerro os punhos parada diante da porta, preparando-me para enfrentar um mundo que não me quer há tempos. Não vou deixar o medo me domar, mas de jeito nenhum. Chega de ter medo, eu não era assim. Não, eu não sou assim.

Eu era uma garota feliz. Comum, corajosa. Eu era forte, porra! Se não vou fazer isso por mim, que seja pela segurança dos rapazes. Eu avanço, minhas pernas estão duras, querendo resistir aos meus comandos. Começo com uma caminhada apressada, e logo começo a correr.

Por alguma sorte a mochila já tinha feitiço de expansão. Eu tinha os equipamentos para ir embora desde sempre, eu não devia ter demorado tanto. Me sinto mal cada vez mais, conforme vou mais longe, a sensação em meu peito se agrava. Mas estou mal por George, além das outras preocupações. Me perguntando se devo voltar, e rezar que ele ainda esteja dormindo, para que tudo seja esquecido e superado como uma pequena pedra no caminho... Não, não, foco!

A gente podia ter tido algo a mais, de verdade, poderíamos, mas em outros tempos, se os comensais não achassem que eu era uma pedra no seu sapato. Eles não gostam de pontas soltas, e eu estou viva há tempo demais, as pessoas estão começando a se perguntar? Gostaria de saber. Não cai bem para um vilão deixar alguém escapar. O Escolhido é a prova disso, controvérsias não são aceitas. Bellatrix não vai querer que seu Lorde saiba que ela falhou em algo tão simples... Ela deve estar caçando por mim, vai querer me achar o quanto antes. Merda, eu precisava do Profeta!

Eu ando por um dia inteiro, sem chegar a lugar algum. Escondo meu rosto, ando de cabeça baixa, ninguém me dá a mínima, ninguém repara em mim. Eu fico invisível, nem sei se acho isso bom. Não sei para onde ir e além de tudo preciso deixar um rastro para que os comensais saiam do pé dos Weasley. Eu não posso deixar isso para depois, mas também não posso fazer com que eles me encontrem tão logo. Quero viver mais um dia. Só mais um. Mas como diabos...?

Tenho um clique.

Eu preciso que alguém me veja e alguém pronto para falar da garota desaparecida.

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WEASLEY
(O outro Weasley)

— Oi, tudo bem?— George me pergunta quando me assusto com sua presença ao acordar, respiro fundo, ainda sinto umas pontadas nos pulmões, porra, eu estou quebrado. Crucio não é como uma experiência catastrófica no escritório, nem uma surra da dona Molly me arrancaria o couro desse jeito. Ah, eu não gostei, mas nem um pouquinho. Não sei como Angie tem a audácia de me chamar de masoquista, eu não gosto de dor de jeito nenhum!

— Eu estou ótimo— sorrio, é mais fácil mentir, não quero preocupar ninguém, além de irrelevante não precisa de drama, eu vou sobreviver. Meu estômago ronca, eu me apoio no meu cotovelo pronto para me levantar e então sinto algo na minha mão direita, um tecido. O encaro, franzindo a testa. A pulseira está preta, rompida. Olho para meu pulso, confuso, eu arranquei enquanto dormia? Não é a minha. Ah. Levanto o olhar de novo, George encara a pulseira e a pega da minha mão, estou dividido se ele está com raiva ou triste enquanto passa os dedos por ela. Os dois ao mesmo tempo, imagino. Cacete. Eu faço careta ao me sentar, Angelina está dormindo do meu lado e se remexe procurando pelo meu calor— A Soph...— eu sussurro, olhando meu gêmeo com cautela. Eu não pedi para ela não ir embora? Ela não me ouviu ou eu já estava sonhando?

George se levanta e vai até a janela, a abre sem demora e joga a pulseira fora antes que eu raciocine direito.

— Cara!— eu reclamo me levantando com pressa demais. Minha pressão tem uma queda e eu tenho que me sentar na mesa de cabeceira para que minha visão retorne. Tento me lembrar de como se respira, George toca meu ombro, me dando um suporte.

— Volta para cama.— ele diz em um tom que soa mais como uma ordem do que uma sugestão amigável, eu bato na sua mão e cambaleio até a janela, não tem nem vislumbre da pulseira. Pego minha varinha debaixo do travesseiro pronto para usar accio, mas George segura meu pulso, me barrando.

— Eu quero a pulseira de volta!— falo, irritado. Sophia a deixou para mim, ele sabe que não tem o direito de fazer isso comigo. Nem ela, na verdade, é assim que se despede de mim, porra? É, eu também estou zangado com ela, eu quero a maldita pulseira, eu quero minha amiga de volta, cadê ela?

— Ela escolheu deixar a gente, Freddie— George diz com uma mascara fria, não esboça nada. Ele só fica assim quando sabe que estamos muito fodidos e não tem nem como mentir para nos safarmos. Não sei lidar com esse George. Nunca me acostumei com ele, ele sempre ia embora de qualquer jeito, mas dessa vez ele parece... bem mais a vontade.

— George...

— Deixa ela ir— ele me solta e me encara como se me desafiasse, está me dando a escolha de contrariá-lo. Eu imagino a pulseira solitária ficando suja e rolando no chão, arrastada pelo vento. Sophia também. Seguindo sem rumo. Eu não quero isso, mas George está me pedindo. Como ele...? Eu baixo a varinha e, em silêncio, fecho a janela. George sorri sem humor por um segundo, um mero instante. Sabe que eu faço o que ele pedir além de qualquer coisa.— Volta para cama, Freddie. Eu vou cuidar da loja hoje.

Eu obedeço. Posso ser minutos mais velho, mas é ele que sabe o que é melhor para nós. George sempre sabe o que faz. Espero que tenha a mesma certeza de sempre quanto a isso, mas não tem como ele já ter deixado ela ir. George nunca foi de soltar o brinquedo fácil assim.

HUMAN, George WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora