CARTER
Eu subo as escadas depressa porque de repente preciso mesmo verificar meu estado, espero não estar sangrando como algumas colegas minhas relataram ter após sua primeira vez. Fico meio perdida por um momento, muitas portas para entrar e por conta da pressa acabo invadindo o quarto errado. Deparo-me com Gina sentada na cama, abraçada a um travesseiro com o olhar desfocado. Ela olha na minha direção, parece triste e eu começo a recuar.
— Desculpa, eu me perdi do banheiro— me explico, meio embaraçada por invadir sua privacidade.
— Tudo bem— Gina dá de ombros e volta a fungar no travesseiro.
— Você está bem?— não posso deixar de perguntar. Ela hesita por um momento respirando fundo balançando a cabeça.
— Sim, eu só... fiquei com saudade do Ron— ela dá de ombros mais uma vez. Eu estou um pouco dolorida, mas sinto que preciso me solidarizar com ela. A carinha de cachorro abandonado grita por um consolo. Não consigo dar as costas para ninguém em um mal momento, mesmo que a pessoa queira ficar sozinha.
— Eu sei como é— entro no quarto fechando a porta atrás de mim e vou me sentar do seu lado, tento disfarçar a careta ao me sentar e viro o rosto para que Gina não veja. Não demoro para entender que este deve ser o quarto do Ron. Tão bagunçado quanto o quarto dos gêmeos só que menor, uma cama solitária, guarda roupa pequeno, parece até um pouco assombrado; abandonado— Querer que ele estivesse aqui é totalmente compreensível.
— Eu sinto muito, eu nem devia falar disso com você— ela sussurra para mim colocando a mão sobre a minha. Apenas balanço a cabeça, não quero que o assunto se vire para mim, me repreendo e volto toda minha atenção para a ruiva.
— Eu também sinto, faz tempo que não o vê, não é?
— Faz... parece uma eternidade, eu sinto falta daquele idiota, cabeça quente— ela sorri, suas expressões são tão reais quanto as de George, você pode ver o quanto eles sentem— Mesmo sendo insuportável a maior parte do tempo, ele faz muita falta. Menos na hora de dividir a comida— ela ri e eu a acompanho sem resistir.
— Não se divide a comida com ninguém, com certeza.
— Isso é muito impossível aqui em casa.— ela balança a cabeça, o olhar esverdeado vago e distante, suspeito que se lembrando de outros tempos, quando todos os irmãos estavam em casa e o mundo não era um caos, tão perturbador— Gosto de sentir o cheiro dele quando estou com muita falta, mas ele já está sumindo— ela coloca o travesseiro de lado.
— Ele vai voltar para casa, Gina, logo não precisará mais abraçar só os travesseiros— garanto. É nessas horas que uma mentira nunca machuca. Não deixa de ser verdade também, sei lá. Tudo é tão incerto.
— Espero que esteja certa.— e aos poucos, um sorriso doce nasce nos lábios da ruiva— Ele vai gostar de você, Ron gosta de se exibir para as namoradas dos nossos irmãos, babava o ovo da Angelina, assim como o de Fleur, elas o tratam como irmão mais novo, os gêmeos vão zoar ele muito quando ele tentar impressionar você te vencendo em uma partida de xadrez.
— Ele é melhor do que você?— levanto as sobrancelhas, surpresa.
— Ele que me ensinou, por isso eu deixo ele ganhar, as vezes— ela ri e então suspira sonhadora— Estou ansiosa para quando tudo acabar.
— Eu também.— nós apertamos nossas mãos.
— Vai ficar tudo bem— ela diz— A gente cuida um do outro e vai ficar tudo bem.
Queria acreditar 100% nas suas palavras. Minha vida seria mais fácil se eu fosse minimamente otimista, logo terei que conversar com George para irmos para outro lugar. Não vai dar para confiar que ficaremos bem parados aqui até o fim.
— Promete não falar para ninguém?— Gina me pergunta, quebrando o silêncio tranquilo que havia se instalado, tão rápido havia me afundado em pensamentos.
— Claro, o que seria?— fico curiosa.
— Eu... — ela reluta e morde o lábio, não parece querer dizer em voz alta.— Eu sinto mais falta do meu irmão do que de Harry. Eu fico pensando... que se eu tivesse que escolher só um para voltar para casa talvez eu nem hesitasse em escolher meu irmão. Isso me faz uma pessoa cruel? Eu tenho me perguntado muito isso ultimamente.
— Você está assustada, Ginny.— falo— É normal achar que algum momento teria que escolher, é uma guerra e tudo parece pronto para se colocar contra você, mas não é assim. E mesmo que fosse, é completamente compreensível colocar a família na frente de alguém por quem você está apaixonada.
— Como sabe que eu sou apaixonada pelo Potter?
— Acho que isso é meio óbvio para todo mundo, Ginny— nós rimos— Ah, sem contar que Fred é um tagarela quando está trabalhando em casa.
— Ah, aquele filho da mãe! Ele me paga.
— Não desconta nele, eu também fiz as perguntas certas— nós nos encostamos na parede, acomodadas— Não se preocupa com o que você pensa por causa do medo, ok? Você não é uma covarde por isso.
— Queria poder estar com eles.— ela murmura e deita a cabeça no meu ombro— Me sinto uma inútil presa aqui em casa, uma bebezona impotente. Eu não sou assim.
— Eu sei bem como se sente— levanto as sobrancelhas— Só cuidado para ter o controle, não deixa as suas emoções te domarem e você não vai perder a cabeça. A luta ainda está rolando, dê uma chance para amanhã ter aquela virada de jogo, sabe? A gente pode sair dessa.— eu não sou quem está falando, mas eu deixo a Sophia compreensiva e esperançosa fazer o trabalho.
— É bom ter alguém diferente para falar sobre isso— ela admite.
— Sabe que seus irmãos não te julgariam se se abrisse com eles— eu sussurro.
— Eu sei, mas eu já sou muito protegida por eles, isso é meio sufocante, eu não quero ser cuidada, eu quero cuidar pra variar. É um saco ser a mais nova. Fico feliz que você possa não me ver só como uma pirralha.
— Claro que não, eu odiaria se fizessem isso comigo e você pode falar comigo sempre que precisar, Ginny.
— Obrigada, Sophia. Você é a namorada perfeita para George, vocês dois estão bem mais na merda que eu e ainda tentam me consolar como se fosse eu que precisasse desabafar— uma risada me escapa com sua sinceridade.
— Touché.
— Você também pode falar comigo sempre que precisar, prometo escutar— ela olha para mim, sardas no rosto, bochechas e nariz, uma fofura no olhar de compreensão.
— Eu estou bem— digo.
— George cuida bem de quem ele ama— um sorriso bobo cresce nos meus lábios— Mas saiba que tem mais de um amigo aqui em casa. Meus irmãos te amam, eu também te amo, Sophia.
Eu fico toda sensível de um minuto a outro!
— Não é possível que todo Weasley queira me fazer chorar em algum momento— eu dou risada, nervosa e emotiva, ela me acompanha e então me puxa para um abraço que eu retribuo de muito bom grado.
— Não queremos substituir ninguém— ela sussurra no meu ouvido— Mas espero que tenha noção que está em casa. Somos sua família agora, Sophia.
— Eu estou mais do que grata— falo. Mais sincera impossível. Eu sinto mesmo como se estivesse. O lar está onde a família está. Que clichê mais amável. Eu estou em casa.
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HUMAN, George Weasley
Fiksi PenggemarHUMANA || Se a guerra não estivesse estourando, quem sabe eu não teria conhecido ele. Não há uma parte minha que se arrependa de ter conhecido ele. Meu garoto com os olhos de raposa. Meu George Weasley.