➤ Eu venci a batalha

1.3K 210 42
                                    

Arrastamos os pés, perdidos e inchados

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Arrastamos os pés, perdidos e inchados. Quando finalmente conseguimos sair da porra do subsolo já é manhã. Como eu deveria me sentir? Há um hino de vitória tocando bem no fundo da minha mente. Saímos devagarinho do esconderijo para correr para outro. Os poucos moradores da vila se indignam pelas casas queimadas e não farão nada a respeito. Nós três nos esprememos em um beco e observamos as pessoas. Tudo parece perdido, mas porra, nós conseguimos.

Eu sinto... eu sinto um peso saindo dos meus ombros. Eu sou capaz de respirar debaixo d'água, eu não vou me afogar. Apoio-me na parede de tijolos vermelhos, minhas mãos sujas dos restos da lareira, são cinzas e terra. Eu estou todo sujo, mas ainda assim ela me abraça.

Seus braços envolvem minha cintura enquanto ela me abraça por trás. Olho para a cacheada por cima do ombro, os olhos castanhos de Sophia me questionam sem que ela precise abrir a boca. Há marcas de fuligem em sua bochecha, ela está com os cabelos soltos, uma total zona.

— Está tudo bem— eu digo baixinho enquanto Fred se abaixa para remexer nas nossas mochilas em busca de uma garrafa d'água, o canto de sua boca sobe sutilmente e ela observa cada detalhe do meu rosto.

— Queria ainda poder te dizer que você pode correr em outra direção, mas agora nós estamos numa merda bem séria.— ela sussurra, fica na ponta dos pés para que nossos rostos fiquem mais perto um do outro.

— Quando é que nós não ficamos numa merda séria?— rebato, seu sorriso se expande. Tenho vontade de apertá-la e chorar um pouco. Meu coração ainda não voltou a bater normalmente.

— Você é surreal, sabe disso, não sabe?

Minha vida foi ladeira abaixo a partir do momento em que eu acolhi Sophia Carter em minha casa, mente e coração. Foi uma bagunça do cacete. Meus dias foram de mal a pior, eu quase me perdi, matei pessoas e não me senti mal porque meu senso de justiça grita que eles mereceram. Nem me lembro de quem eu era antes dela. E... quando olho em seus olhos, vejo seu sorriso, suas cicatrizes internas e externas, a sua garra e toda a maldita teimosia disfarçada de bravura, eu me apaixono mais um pouquinho.

Ela não para, não posso negar que gosto de a ajudar a permanecer de pé a cada momento, mas não é como se ela precisasse de mim. Sophia é humana na sua forma mais pura, ela chora, ela sente dor, ela ri como se não estivesse ferida. Ela é... como eu. Bem lá no fundo, eu sou como ela. A gente consegue ser diferente e parecido ao mesmo tempo. Eu me vejo nos olhos dela como se ela fosse uma parte de mim, como lhe falar isso? Como botar em palavras o quanto eu a sinto? Isso é tão intenso, uma onda de dopamina, eu estou viciado pra caralho. Eu perdi tanto por ela, e perderia ainda mais. Esse amor é tão louco, eu estou morto e eu não me arrependo de nenhuma de minhas atitudes, no fim do dia. Não sei quem eu sou agora graças á ela, mas não vou dar pra trás, porque não odeio essa nova versão. Requer apenas adaptação.

Apenas sorrio para Sophia. Ela me abraça com um pouco mais de força, sabe o que eu estou pensando, amor?

— Não me façam ficar mais carente do que eu já estou— Fred reclama amassando uma garrafinha de água e a jogando de volta para a sua mochila, nem vi em que momento ele tomou toda a água. Eu e Sophia estendemos as mãos na direção dele— Não me toquem, sebosos, estão todos sujos— ele faz careta, como se estivesse lá muito mais polido. Não sei como conseguimos rir, mas conseguimos. A risada é fraca no começo, quase como se nossos corpos estivessem se esforçando para reproduzir tal som satisfatório, mas depois é tudo tão mais natural. Eu morri com minhas duas pessoas favoritas em todo mundo. Meu coração e minha razão. Adorável. Eu puxo para Fred a força para o abraço e ele esperneia como um cachorro querendo fugir, no entanto, eu e Sophia ignoramos sua birra até que ele pare de fingir que não quer.

— Eu amo vocês, rapazes.— Sophia diz, a voz abafada por ser menor e estar espremida entre nós dois. Fecho os olhos com força e respiro fundo, aproveito meu corpo vivo. Os corações deles também estão batendo.

A gente vai ficar bem.

HUMAN, George WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora