A mudança repentina de clima me deixa imersa por um segundo enquanto eu aperto as mãos dos rapazes com força. Sinto uma estranha e intensa sensação de déjà vú e até fico tonta. O cheiro de maresia, o som das se ondas quebrando a metros de distância, sinto-me balançar suavemente... Isso é tão familiar... Por que?
— Moranguinho— George me chama e eu abro os olhos quase me cegando pelo clarão. O sol torra sobre nossas cabeças. Eu quero tirar a blusa por causa do calor. Os olhos de George se tornam ainda mais claros aqui. O vento vem bagunçar seu cabelo, ele está sério enquanto me encara. Muito sexy, a testa franzida e olhar preocupado— Você está bem?— ele pergunta, retribuí o aperto na minha mão com mais delicadeza, eu solto sua mão e a de Fred.
— Desculpa, viajei um pouquinho— suspiro e sorrio o tranquilizando, minha cabeça latejando, nós olhamos em direção uma casa relevo abaixo, saindo uma fumaça branca pela chaminé, dois andares, pintada de amarelo e azul como se fosse se camuflar no mar e na areia. Tem um túmulo do nosso lado esquerdo, mas os ruivos nem parecem notar, é pequeno então não deve ser tão importante para lhes atrair a atenção. Não deve ter um Weasley anão.
Os rapazes se entreolham e largam as mochilas no chão não se aguentando de ansiedade, eles tiram os tênis e deslizam na areia. Ficaremos um pouco com seu irmão mais velho sem nem ter o avisado que estávamos vindo e ainda em dúvida se Molly chegou a receber sua carta a esta altura. Eu fico um pouco para trás para que eles tenham esse momento sem interrupções que em breve ocorreriam. Eu podia imaginar, eles chorando e se abraçando para suprimir a saudade, e então George olha pra mim e me aponta "ah, e ela é o motivo de tudo isso". Ele não faria isso, é óbvio que eu sei, mas eu não deixo de imaginar acontecendo. Será que Bill vai me odiar por ter-lhe tirado dois irmãos mesmo que por apenas alguns dias? Fico embaraçada só de pensar na possibilidade.
Tiro a mochila a deixando deslizar para o chão junto a deles e tiro a blusa de frio ficando apenas de regata. Olho para o pequeno túmulo com uma meia velha e gasta sobre as pedras, Dobby, eu leio de longe esculpido na madeira torta que seria sua lápide, um elfo livre.
Um elfo. Ah. Que fofo e triste. Pelo menos não tem nada a ver comigo desta vez e eu consigo me desvencilhar da culpa.
É insuportável, tem morte para todos os lados, eu não aguento mais isso, por que o mundo tem que ser assim?
— Oi, Dobby.— sussurro e passo a mão nas pedras do túmulo, um breve cumprimento ao falecido que deve ter significado muito para aqueles que o enterraram já que mais de oitenta por cento do mundo bruxo os tratava como se fossem nada— Espero que esteja descansando em paz, amiguinho.
— BILL!— Fred grita quando eles já estão perto da casa, eles param na frente das escadas, de longe posso sentir sua ansiedade, sua agonia se remexendo em seu âmago.
— BILL!— George chama. Eu me sento na areia, longe da família e de seu reencontro. Enquanto esperam, George olha na minha direção e parece confuso, acena para que eu me junte à eles, porém finjo não entender e apenas aceno de volta— SOP— ele bate com a língua nos dentes quando a porta da casa amarela se escancara bruscamente. Os gêmeos congelam. Não posso ouvi-los com clareza de onde estou. Um ruivo altíssimo saí de dentro da casa em passos lerdos, caminhando na direção de algo que ele não acreditava estar vendo. A cena remexe meu mundinho, os gêmeos erguem as mãos e só posso vê-los mexendo a boca sem parar, os dois falando ao mesmo tempo, provavelmente explicando tudo com exatidão já que estão acostumados a completar a fala um do outro. Bill avança mais um pouco, desce os degraus com as pernas bambas e então caí de joelhos diante dos rapazes que correm para abraçá-lo. Eles ficam no chão, não sei se estão falando ainda, se estão chorando de alívio ou de pura dor.
Poderia chutar muitas coisas, mas eu nunca vou saber essa sensação que é de perder a família só para então reencontrá-los depois de uns dias. Eu vi os corpos carbonizados dos meus, eles não forjaram nada ali. Sinto minha garganta se embolando, minha cabeça dói mais e meus olhos ardem. Olho para o céu azul e sem nuvens, sinto uma lágrima escorrendo pela minha bochecha. A coisa é que eu estou feliz pelos gêmeos e tão triste por mim ao mesmo tempo. O pânico tenta me dominar, a sensação apavorante no meu peito, mas eu não posso me permitir sentir isso. Hoje é um dia bom.
Tem que ser, porque nós merecemos isso. Estamos tão cansados.
Um vinco se forma em minha testa enquanto encaro o céu, o sol me forçando a desviar o olhar.
— Eu vou ver vocês de novo— falo esperando que eles me ouçam. Esperando não estar agindo como uma louca. Olho por cima do ombro ao ouvir passos cada vez mais próximos de repente, me deparo com um rapaz moreno que aponta a varinha para mim, eu o reconheço tão logo, gelo é injetado no meu peito, será que a todo tempo nós temos que correr para o perigo?— Você...— murmuro perdendo as palavras.
Ele parece com raiva, seus olhos verdes me fulminam por trás dos óculos redondos, os cabelos negros e bagunçados balançam com a brisa, ele com certeza está muito mais maduro do que eu me lembrava da última vez que olhei na sua direção, nos tempos de escola, não que em qualquer memória minha ele já tenha sido ingênuo ou infantil.
— Quem é você?— ele sibila entredentes— Sai de perto do Dobby!
Olho para o túmulo confusa e recuo sentada na areia.
Cacete, que belo começo.
Nota da autora:
Francamente, paz não foi feita para Sophia Carter. Amores, vocês já leram DUTY, minha fic do Regulus Black? Ela está concluída no meu perfil e é minha história favorita do momento. Adoraria te ver por lá.
VOCÊ ESTÁ LENDO
HUMAN, George Weasley
Fiksi PenggemarHUMANA || Se a guerra não estivesse estourando, quem sabe eu não teria conhecido ele. Não há uma parte minha que se arrependa de ter conhecido ele. Meu garoto com os olhos de raposa. Meu George Weasley.