☆ 04 ☆

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...

Assim que atravessei as portas de vidro, o cheiro dela me atingiu, ela estava na casa, em algum lugar.

"ainda está, venha para a sacada, ela gosta de olhar as luzes" - As sombras, elas começaram e se mover mais frenéticas, tinha um tom diferente nelas, antecipação, era isso, elas me faziam sentir frio na barriga, não preciso de muito, de olhos fechados a encontraria.

- Tem alguém aí? - Ela olha para o corredor escuro, estou bem no meio dele, olhando para ela, ela olha diretamente para mim, mas não me vê. - Azriel? - Tem certa incerteza, mas ela aperta os olhos tentando ver na escuridão, descido aparecer, minhas sombras recuando para as minhas asas, eu tento parecer calmo. - Graças a Mãe é você.

- Sinto muito... A assustei? - Me recosto no portal e ela na amurada.

- Sou eu quem deve desculpas... Nestha me deu passe livre para a casa, me deu até um quarto. - A forma que as mãos se movem, é quase como se ela estivesse regendo uma música, por fim ela passa as pontas dos dedos no lábio inferior, inconsciente que eu atendo isso como provocação. Meu corpo senti um pequeno arrepio pela proximidade. -Tudo bem Azriel? - Ela dá um passo pra frente e eu dou dois pra trás, transpareço o que não devia, e causo preocupação, ela nem imagina o que causa em mim... Uma fome visceral. Ela fica envergonhada e segura algo por baixo do tecido do vestido próximo ao colo, o brilho da corrente dourada me chama a realidade. - Eu não queria, eu, bom, desculpa.

- Gwineth, você não fez nada... - Eu tentei me aproximar, o animal em mim rugia por mais, e eu não domei esse monstro, ainda, como conter esse desejo, o cheiro dela é doce, algo entre flores e frutas, ainda não da pra distinguir, eu precisaria estar mais perto, talvez passar a língua sentindo o gosto para ter certeza.

- É... bom... Porque esta me olhando assim? -Ela sorri esta nervosa, o rubor em suas maçãs se evidencia, merda tinha que ser tão irreal.

- Sinto muito, eu só, um pouco de dor de cabeça e insônia. - Concluo.

- Dessa vez está com sua adaga de estimação?

- Estou! Sempre.

- Então bons sonhos Azriel. - Ela estava me dispensando? Ou ela pensa que me incomoda? O que ela pensa?

- Az... Meus amigos me chamam Az.

- Certo, Az... -Ela sorriu e morde o lábio, merda, mil vezes merda, maldita inocência, maldita seja. - E os meus chamam-me Gwyn, Gwyneth parece que estão me repreendendo.

- Gwyn, Gwyn... - Ela fechou os olhos, seria possível que ela sentisse o mesmo? A mãe estava me testando? - Devia ir para seu quarto... Gwyn!

- Meu quarto está a duas portas desta varanda, Az! É praticamente meu quarto.

- Praticamente... Então talvez seja melhor eu me retirar do seu quarto Gwyn, o que poderiam pensar? - Minhas mãos em minhas costas, ela sorri, e olha para o céu, meu tom cheio de diversão.

- Isso é verdade... O que pensariam? -Ela deu dois passos para minha direção, não brinque com meu controle pequena, só não brinque. Se existir algo faltando a minha imaginação sobre como ela ficou vendo o colar agora, não mais. Eu precisava me mover, eu precisava sair, sua mão branca e delicada, perfeita, passou pela volta do meu braço. - Já que somos amigos, acho que posso o conduzir até o limite do meu quarto, que é bem ali, e como devo presumir que Cassian e você compartilhem dos mesmos conceitos... Aqui é o momento em que me deseja boa noite e se vai quando eu fechar a minha porta.

- Boa noite, Gwyn... - Ela precisa elevar seu queixo para me encarar devido a nossa proximidade, como eu deixei isso acontecer? Eu só não resisto, e seu cabelo parece implorar por ser tocado, macio, concluo após pegar a mecha entre meus dedos e levar até o nariz, cheiro seu cabelo, ela fica com a boca entre aberta, seus olhos se abrem como pratos, sua garganta se mexe, não era medo, nem de longe era, meus olhos em seus olhos. - É aqui o momento que desejo bons sonhos. - Ela se sobressalta com os dois tons mais roucos da minha voz, minha vontade era outra.

- Az... - Que eu tenha força, foco, meu corpo parece pesado para me virar e ir, meu nome em seus lábios e quase uma indecência.

- Gwyn? - Ela engole em seco e se possível fica ainda mais corada, seus olhos tem um aro azul esverdeado o resto está engolido pelo negro das pupilas. Maldita visão feérica. - Me mande embora. - As minhas sombras se remexem, eu sacudo minha cabeça, eu só queria que isso parasse, talvez ela tenha sentido minha angustia, sua mão toca delicadamente minha face, era tão quente, tão bom, fecho meus olhos ao seu toque.

- Tudo bem Az! - O que está te fazendo sofrer assim? - Era um fio de voz, um sussurro, e minha mente atormentada me fez quase ficar louco, eu diria que é você, eu a queria, ela estava aqui diante de mim, e ainda assim, eu temia que ela me odiasse se me conhecer como sou, quem sou.

- Diga que preciso ir. - Sussurro, tão baixo que penso que ela não devia ter escutado.

- Precisa ir! Az... Por favor... Vá dormir...

- Desculpe... - Após ela me pedir, meu corpo me obedece, e sigo para meu quarto. Sinto vontade de voltar, encaro a porta por muito tempo, merda eu estou congelado no meio do quarto, mova-se seu merda.

"Ela também sentiu, Azriel!"

"Não fique triste, escute seu coração."

" Ela sabe que você precisa dela."

- Quietas... Preciso pensar. Me deixem pensar. - Começo a me despir é metódico lento são tantas amarras, tantas cintas para as facas, meu pensamento recai no quarto no andar de baixo, na fêmea ali, nem em mil anos poderia prever ela ser a minha parceira, o que fiz? Quando ela segurou aquele pingente eu segui um fio que me levou até uma constatação, que ferrei tudo antes mesmo de começar.

O maldito colar que Elain recusou, Gwyneth era apenas uma pessoa comum, em meus pensamentos jamais pensei que lhe presentear com um presente rejeitado me custaria caro. Mas pensei que a sacerdotisa gostaria de receber aquele colar e o valorizaria, bem mais que sua dona que o abandonou sem muito esmero. Talvez Rhysand tenha conversado com ela como fez comigo, talvez ela apenas interpretou toda a situação de forma certa... Elain não errou, pelo caldeirão, Gwyn não errou, o errado era ele que tinha seguido uma ideia, doesse a quem doesse... Agora era ele quem recebia o que plantou...

Era justo se Gwyn nunca mais quisesse olhar em sua cara, que Nestha e Emerie lhe dessem uma surra, e Rhys, pelo Caldeirão ele iria sempre me lembrar disso, Cassian com certeza faria piada atras de piada, claro que com um humor ácido, já que também me cobrira de porrada, magoe a Gwyn e sentira sua ira, imagina ele que fez isso com duas irmãs da Nestha, por a Mãe, ele tinha esquecido da Feyre e Mor, Amren, seria varrido, zombado, longe de ser ajudado, não era ele que tinha cagado na cabeça de Rhys dias atrás juntamente com Cassian? Uma surra de arrancar sangue, e o irmão nunca disse que se arrependeu da porra da barganha, sem Feyre ele preferia morrer, eu tinha gritado "e o Nyx, ele merece viver em um mundo sem os dois pais?" Isso tinha feito Rhys repensar. Merda... Nem a pau ia dormir.

Se não bastasse Gwyn ser infinitamente perfeita, única, pura, linda, deliciosa. Cada curva ele já tinha decorado, em cada treino, fosse em suas manhãs, ou fossem em seus encontros noturnos ele já tinha visto, o que Cassian teme tanto, como se fosse o irmão mais velho, de fato ele era, se eles eram irmãos Gwyn era agora muito mais deles. Ia arrancar os cabelos da cabeça de tanto que os puxava, fora o buraco que estava prestes a abrir no chão de tanto que tinha ido e vindo no mesmo lugar, foda, era foda, que situação de merda.

Gwyn que tocou seu rosto e em um só toque varreu um pouco da escuridão, entendia Nestha agora completamente, ela era aquilo que nos toca e alivia como um bálsamo, mas em mim além do alívio das dores, ela age como uma droga luxuriosa. Mesmo agora longe dela seu cheiro ainda zombava do seu controle.

Corte Segredos Das Sombras - GWYNRIELOnde histórias criam vida. Descubra agora