Ressuscitar o Passado

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De joelhos no chão, seus olhos enxergam com certa dificuldade o seu objetivo no cume do que um dia foi um castelo e agora não passa de ruína. Sua armadura caiu por terra como nada fosse, a deixando apenas vestida em trapos moribundos, com cortes profundos por todo o seu corpo, uma lança cravada em seu peito a tornando mártir para seus seguidores, seu olho esquerdo foi arrancado, seus cabelos gotejam o sangue alheio e seus pés deixaram o rastro da sua quase misericórdia. Seus outros inimigos, os guardiões, afastaram-se por medo, recorreram a forças maiores e uma reunião de emergência para parar a tirania da mulher que um dia foi uma pequena criança que estava apenas aprendendo a viver. Os anéis que antes tatuavam seu corpo, estão cravados na sua lança que paira sob sua cabeça como uma coroa de espinhos, pronta para perfurar o próximo que tentar lhe atacar.

Se parar para olhar para trás, apenas verá crianças assustadas em pranto profundo jogadas no chão, corpo aos montes e pedaços por todos os lados, perfurados e empunhados por suas próprias armas, o céu avermelhado antes cinza, fênix ainda sobrevoando tentando achar a menor alma viva que vá contra a majestosa filha de Lótus. Os tempos são outros, a terra na qual seus joelhos tocam parece reagir ao seu clamor interno por vingança a todas as coisas que aconteceram, o vento grita por uma resposta daqueles que nada fizeram quando o perigo aniquilou famílias, povos que sempre viveram em perfeita paz por tantos anos. Para aqueles que a conhecem bem, podem dizer tudo o que quiserem sobre ela, chamando-a de monstro, de um ser sem alma, cruel, de caída, megera, bruxa, concubina de Hestow, assassina, demônio e as mais depravadas palavras. Para eles, ela não passa de uma alma solitária em busca da auto-aprovação, em busca da justiça para o seu povo, em busca do despertar da sua liberdade, tendo em suas mãos o poder para isso, agindo desde o fatídico dia, como se tudo não passasse de um grande jogo.

Erwin ─ Acabou, solte essa espada e fique de pé, mostre que ainda tem forças para continuar o seu glorioso caminho. ─ Colocando a mão em seu ombro, Erwin se ajoelha ao seu lado e toca sua mão ensanguentada para tentar retirar a espada em suas últimas pelo desgaste de poder. Os olhos do homem se encontram avermelhados despejando lágrimas a todo custo, não sabia que as marcas deixadas pelo grave dia em que ela teve que fugir, ainda decorassem o seu corpo como uma confecção de mal gosto. ─ Devia ter me mostrado tudo quando caiu no meu mundo, eu teria confiado em você da mesma forma que Levi confiou desde o começo. Não guarde mais a dor para si, minha pequena flor, você já pode chorar o quanto quiser.

S/n ─ Você fala como ele, chega a ser engraçado...

Erwin ─ Sei que não sou o seu pai, mas não sairei do seu lado e acredito que ele também nunca tenha saído e não ficaria triste por estar vingando o seu povo. ─ Retirando sua capa, ele a cobre com cuidado e a ergue do chão ainda cinza, esperançoso em anima-la para a fase em que se vê em um estado diferente, onde que terá que seguir um caminho no qual escolheu na casa das tecelãs.

Aylin ─ Restam apenas as crianças, mãe, o que vai fazer com todas elas?

Erwin ─ Espere que ela se acalme um pouco, alguma coisa me diz que ela não está totalmente aqui!

Aylin ─ Ela deve tá em transe, esse lugar ainda é carregado de memórias ruis. ─ Deixando um beijo em sua testa, Erwin a entrega para o seu filho e caminha em direção ao grupo de crianças, as assustando ainda mais ao se aproximar banhado em sangue de seus familiares.

Erwin ─ Eu não vou pedir que me perdoem, não vou pedir que entendam o meu motivo por matar os seus pais. Mas peço que entendam o lado dela, daquela mulher que está ali, completamente destruída por ter lembranças de seu passado, memórias sobre as coisas que aconteceram nessas terras. Os seus pais lhes contaram sobre o que aconteceu aqui, antes de invadirem terras que não eram deles?

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