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Agora
Sua lança rapidamente passa por si, o som que emerge da ponta da lâmina ecoa para os seus ouvidos com os gritos das almas que foram sugadas por ela durante o trajeto no caminho em que percorreu. A ponta gelada excomunga a fumaça quente do atrito com os corpos e o chão, dos raios vindos da energia oculta no solo negro desbravado pelo sangue vermelho vivo. Diante do solo antigo do seu povo, ela avista a única sobrevivente dentre a destruição, a flor que marcou o seu desespero quando pequena, enraizada aos confins de uma esperança que deverá ser cavada com todo o fulgor que há em uma alma pela metade.
De todos os reinos que caíram aquele dia, o seu é o mais silencioso dentre todos, o que guarda a magoa verdadeira, o amargor da incerteza. No entanto, os legítimos podem sentir no fundo ao longe em seu ser, um grito agonizante no meio do silêncio barulhento, uma criança desesperada para ser salva no meio dos escombros que restaram do fatídico dia. Para aquela que tem os direitos de nascença, as respostas concretas, as certezas das sus descobertas, estão diante de seus olhos e com um só passo, tudo será revelado para si, como ler o último capítulo de um livro ansiando para ler o próximo para dar a cartada final.
S/n ─ O que você consegue ouvir? O silêncio desse lado é de querer arrancar os ouvidos, arrancar a alma do lugar, não é? Até mesmo a lança não sabe onde deve ir, ficou perdida na mesma direção. ─ Com uma fronteira separando as duas da terra, S/n encara a tia com tristeza, não há mais fúria em seu coração sombrio, fazendo Elentari perguntar a si mesma, onde foi parar a mulher amedrontadora de pouco tempo atrás.
Elentari ─ O que vai fazer agora? Nem mesmo eu posso pisar ai.
S/n ─ Você é um membro da família, claro que pode pisar aqui... No entanto, eu irei primeiro afinal, foi eu quem pisou aqui primeiro depois que tudo acabou. ─ Desarmando todas as suas barreiras, a verdadeira face de S/n brilha em meio ao caos que banha o seu ser interior. Uma guardiã de olhos roxos como uma galáxia perdida, longos cabelos brancos ultrapassando seus pés tocando o chão, o corpo nu sem qualquer toque de seda ou pano, em suas costas a marca da flor de LótusLírius em vermelho, em seus pulsos as runas de invocação de suas armas sagradas, em seu pescoço o colar de pedra azul escancarado com seu brilho intenso, em sua cabeça a cora de ossos feita de seu próprio corpo. Uma imagem sagrada profana, por viver tempo de mais e não ser de legítimo sangue, não mais.
Elentari ─ Por que você está se parecendo com ela, por quê está se parecendo com sua mãe?
S/n ─ Chame isso de... Castigo divino. ─ S/n a olha no fundo dos olhos procurando algo necessário, vendo sem querer um alguém finalmente sorrir. Em frente aos seus caminhos, em frente a sua árvore, lá está ela, esticando seu braço para uma única direção possível.
Elentari ─ Me deixe ir com você, eu tenho esse direito!
S/n ─ Tem coragem de atravessar todo esse vale?
Elentari ─ É o meu dever como guardiã desse mundo, desse reino e não posso deixar que cometa mais erros até que o reforço chegue! ─ Arrumando-se diante da sobrinha, Elentari abaixa suas armas, despe de suas roupas e se deixa embebedar pela emoção do momento. Ignorando seu orgulho, S/n toca a mão fria da mulher ao seu lado entrelaçando seus dedos para que a mesma tenha apoio e de certa forma, tenha também um conforto momentâneo para não cair em tentação.
S/n ─ Não solte a minha mão de modo algum, mesmo que não pareça, a pior parte vem agora. ─ Ao colocarem os pés para dentro da divisa do reino, ambas são engolidas por uma pressão extremamente forte as levando para baixo com um peso surreal. A energia ruim que flui de todos os lados como correntes de ar, despeja nelas a sensação de terem seus ossos sendo esmagados por pedras gigantes que caíram em velocidades absurdas. Suas pernas mal se mexem, de suas bocas saem gritos dolorosos de angustia e dor, os mesmos gritos que S/n ouviu enquanto corria para salvar sua vida a pedido de seu pai. Suas vozes se misturam ao vento feroz que vem do sul, que é acompanhado por um rugido de puro ódio, que se mistura ao estrondo do trovão que ecoa no céu ainda meio avermelhado, seguido de mais um raio acovardado no oeste silenciado. ─ E-eu... não posso, não posso... ─ A mulher berra entre dentes tentando produzir sons que a encorajem a dar um passo atrás do outro. Suas mãos tremem, seus olhos choram e seu peito arde como a brasa das chamas que queimaram seu corpo um dia.
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Paths Of The Guardians | Destinies | S/n + Levi | Aot
FanficCair dos céus em meio a uma batalha de titãs, não torna um alguém, um anjo salvador. No máximo, se ganha com o feito, espadas apontadas para sua cara com lâminas afiadas, expressões de curiosidade, horror e agressividade, dispostas a fatiar cada mem...