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Carmem;

Agarrei no braço do meu pai enquanto passávamos pela multidão. O som tão alto que eu mal conseguia ouvir ele falar, muita gente chegando a cada segundo. Vidigal é uma loucura!

Meu pai parou falando com alguém, um cara que eu nunca tinha visto. Não muito alto, pretinho do sorriso bem branco, nenhuma tatuagem aparente. Encarei o cordão simples com uma sigla, um vulgo ou sei lá, não consegui reparar. Sorri para ele como comprimento e ele sorriu de volta, virando para frente e dizendo algo.

Meu pai passou pela abertura e eu passei logo atrás. Observando o pequeno espaço privado, divido por uma grade.

Tião: Carminha. - Me chamou e eu olhei para ele ajeitando meu cropped, verificando se não estava mostrando demais. - Esse é o Lemos, pô. Dono da comunidade.

Desviei o olhar para o Moreno que se inclinou trocando beijo na bochecha comigo.

Lemos: Satisfação. - Falou sorrindo e perto o suficiente para mim ouvir, os dentes completamente brancos e alinhados.

Carmem: Tranquilo? - Perguntei e ele se aproximou dando a entender que não ouviu. - Tranquilo?

Repeti e ele riu de afastando um pouco, percebi muito bem o olhar dele nos meus peitos. Ele fez que sim com a cabeça e olhou para o meu pai, os dois voltaram a conversar e eu cruzei meus braços, esperando eles terminarem.

Dei uma olhada em volta, observando os rostos desconhecidos e as encaradas totalmente desnecessárias dos caras presentes. Um deles sentado em uma cadeira disse algo que eu agradeço muito por não ter entendido completamente, mas foi sobre o meu corpo.. Revirei os olhos me virando um pouco para o lado e porra!

Giane: Carminha! - Ela ergueu a mão lá no fundo sinalizando para mim. - Vem cá!

Respirei fundo engolindo em seco e fui caminhando devagar. Ela sentada em uma cadeira de frente a mim e dois homens de costas para mim.. Reconheci o Pedaço de longe, com uma camisa polo branca e o cabelo cortado e descolorido. Meu Deus..

Afastei os pensamentos e sorri me aproximando, o Pedaço conversava com o cara quando eu cheguei. Me inclinei um pouco, ainda de costas para ele para dar um beijo na Giane. Voltei a posição normal e sorri de leve em cumprimento a ela e ao outro cara, tal do Gateu.

Giane: Você tá linda! Que bom que veio, senta aqui comigo mana. Tenho tanta fofoca. - Segurou minha mão.

Eu olhei para ela e me xinguei mentalmente pelo o que rolou..

Carmem: Não, não vai dar amiga. Eu tô com o meu pai e tenho que voltar lá. - Falei alto por conta do som. - Desculpa.

Giane: Seu pai vai ficar aqui. - Apontou para as outras cadeiras. - Não tem caô não amiga, pode ficar. Ele mesmo pediu pra mim tomar conta de tu por aqui.

Deu um risada e me puxou.

Carmem: Ah. É que eu queria ir dançar um pouco. - Apontei para trás, a multidão do outro lado da grade. - Ok?

Giane: Tem certeza? É meio perigoso amiga.. - Alertou soltando meu braço e eu olhei para trás. - Fica aqui, curte com a gente. Bebe, dança, se diverte.. Aproveita que o chato do Brown não tá!

Ela sorriu de um jeito tão sincero e amigável, eu concordei e sentei na cadeira. Assim que sentei olhei para frente, cruzando o olhar com o do Pedaço, desviei para a mão da Giane que segurava um copo.

Carmem: O que é? - Perguntei e ela apontou para a garrafa de whisky no chão. - Valeu.

Agradeci sentindo o olhar do Pedaço e do amigo dele em mim, evitei não olhar mas algo me obrigava.. Nossos olhares sempre se cruzando, minhas mãos tremendo de nervoso e um medo do caralho da Giane perceber algo.

Eu sei que o relacionamento deles não é só entre eles mas eu também sei, que tem limites. E eu estou entre esses limites. Não quero quebrar nossa amizade e muito menos a confiança dela mas o jeito que ele me olha, como ele tá me olhando agora.. Tá fazendo meu corpo ferver e minha mente está me sabotando..

Giane: Tu viu aquele barzinho que abriu na barra? Tô querendo descer lá mas esse bosta não quer ir comigo. - Bufou chutando o Pedaço. - Vamos nós duas?

Carmem: Ah, acho que sim. Eu tô precisando sair um pouco, espairecer e conhecer gente nova. - Falei balançando meu copo de leve. - Que dia?

Giane: Amanhã? Tenho nada pra fazer, pleno sábado. Então vamos ir beber. - Concordei tomando um gole. - O Carmem.

Levantei meu olhar para ela afastando o copo e ouvindo meu pai se aproximar, passando do meu lado com o tal Lemos. O cara sentou na cadeira do meu lado e meu pai do lado dele.

Giane: Tu tem silicone? Nunca te perguntei mas é minha maior curiosidade. - Apontou e eu neguei rindo. - Puta merda, a própria vaca leiteira! E eu aqui com esses projetos de limões.

Gargalhei alto balançando minha cabeça e ela jogou a cabeça para trás apontando para os próprios peitos.

Carmem: Vai achando que é mil maravilhas, minhas costas vivem doendo! - Reclamei lembrando de deixar minha postura reta. - Mas é uma das coisas que mais gosto em mim, viu.

Giane: Quando eu botar meu silicone, meu amor. - Bateu palmas animada. - Nem Pedaço me segura, vou usar só decote lá no umbigo!

Dei risada negando e ele continuou falando comigo, sobre várias coisas. Simplesmente do nada, o Pedaço pegou meu copo que eu estava segurando, sem nem pedir. Observei ele virar e esticar o braço para o meu pai que pegou e cheirou, me olhando feio.

Carmem: Que foi? - Perguntei e ele colocou o copo no chão negando. - O pai!

Tião: Depois nós conversa, Carminha. - Cruzou os braços e eu bufei revirando os olhos.

Agora pronto, eu não posso nem beber em paz.

Lemos: Grávida? - Perguntou e eu olhei para ele negando no mesmo instante. - Mas é casada, né não?

Ele deu um sorriso enquanto perguntava e eu ri baixo, um homem lindo desse.. Senhor.

Carmem: Casada sim, grávida não. E você? - Perguntei e ele negou.

Lemos: Famosa mulher do Brown.. Muito prazer, pô. Teu marido tá por aqui ou tu veio sozinha?

Carmem: Não exatamente sozinha, vim com meu pai. Você tá sozinho? - Ele deu de ombros olhando em volta.

Lemos: No momento tu é minha companhia. Já veio aqui outras vezes? Um dos melhores bailes do Rio, pô. - Apontou.

Carmem: Uma vez, mas faz muito tempo.. Uns cinco anos, era muito novinha para essas coisas. - Olhei o povo animado, dançando do outro lado. - Tá parecendo um dos melhores mesmo.. Tô querendo ir lá naquele meio, dançar.

Lemos: Lá no meio? Não é uma boa ideia não, pô, fica por aqui. Lá é difícil de manter segurança. - Balancei minha cabeça. - Já já a mulherada começa a chegar, isso aqui vira o fervo.

Carmem: Isso aqui é o que? Coração de mãe? - Perguntei observando o espaço pequeno. - De entrar mais duas pessoas aqui, esse lugar fica claustrofóbico.

Lemos: Sempre cabe mais uma, Carmem. - Riu e eu balancei minha cabeça virando ela.

Cruzei com o olhar do Pedaço, observando nós dois conversando. O olhar dele correu pelo meu corpo e ele levantou. O cordão de ouro enorme que ele usa, brilhou chamando minha atenção por cima da camisa branca.

Pedaço: Já volto amor, vou alí. - Apontou com a cabeça e deu um beijo no rosto da Giane.

Engoli em seco voltando minha atenção para o Lemos. Ouvindo ele falar sobre os bailes aqui no Vidigal e jogando algumas piadinhas de duplo sentido.

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora