26

10.6K 1K 313
                                    

×100 comentários.
Carmem;

Depois da situação em que eu fiquei de tarde, meu pai saiu e voltou, passou o resto do dia cuidando de mim.. Ele não saiu de perto e não fez perguntas, eu tô agradecendo tanto por isso porque eu não sei como eu vou dizer. Eu nunca contei nada e não sei se consigo fazer isso agora.

Desliguei o chuveiro e olhei para o piso, nada de sangue. O sangramento ainda não parou e nem diminuiu muito, mas a frequência com que ele vem diminuiu. As dores ainda estão por aqui, fortes, mas eu consigo aguentar. É o menor dos meus problemas agora.

Peguei uma toalha e fui secando meu corpo, deixei enrolada nele por pouco tempo enquanto tirava o excesso de água do meu cabelo, com outra. Depois vesti a calcinha e coloquei um absorvente noturno, não tem nem possibilidade de eu usar um o.b. Vesti o short de pijama e a regata, um conjunto da Shein de estrelinhas, e saí do banheiro.

Ainda não me acostumei em estar em casa.. Eu saí daqui para morar com o Brown quando eu tinha quinze anos, com um ano de relacionamento. Eu jurava que indo morar com ele tudo ia melhorar e nós seríamos tudo o que precisávamos. Idiota.. Agora é estranho pra caralho entrar aqui no meu quarto, e eu amo como mesmo depois de anos meu pai deixou como estava.

Não exatamente.. Agora tem uma penteadeira e um guarda roupas maior, ambos vazios, eu não fui buscar minhas coisas ainda. Mas parece que meu pai sempre soube que um dia eu voltaria para cá, para casa.

Peguei a escova de cabelo em cima da cama, dividi meu cabelo em duas parte e comecei a pentear pelas pontas, subindo aos poucos até que todo meu cabelo estivesse desembaraçado e penteado. Meu celular ligou em cima da cama, conectado no carregador, larguei a escova e me aproximei apoiando um joelho em cima da cama. Observei as notificações, mensagem do meu pai, algumas do Pedaço e uma do Brown.

Ele mandou um "oi.", já o Pedaço.. Para variar ele me mandou quinze mensagens e me ligou sete vezes, simplesmente.

Sendo sincera, o que me deixa apreensiva não é esse tanto de mensagens dele mas sim, o fato de que o Brown, depois de todos esses dias de término é a primeira vez que ele tenta contato comigo, com uma única mensagem. Isso sim é preocupante.

Meu celular começou a tocar e eu olhei o nome "Pedaço" brilhando na tela. Que inferno! Insuportável, pelo amor de Deus!

Recusei a ligação e me virei escutando a batida no vidro da minha janela, olhei atenta com medo de ser o Brown. A cortina fechada me impediu de ver, então eu só me preparei para gritar dependendo de quem fosse, ouvi o barulho dela abrindo e uma mão passando pela cortina, puxando ela para o lado.

Carmem: Sério isso? - Perguntei aliviada, sentindo meu corpo relaxar. - Com essa, são oito ligações perdidas e ainda tem as mensagens.

O Pedaço pulou para dentro do quarto e eu passei o olho por ele, vestindo uma camisa do Real Madrid, bermuda e um tênis preto, uma mochila também preta nas costas.. O cordão enorme dele como sempre chamando atenção em cima do pano da camisa.

Pedaço: Tá melhor? - Perguntou virando de costas e fechando a janela, depois a cortina. Virou me olhando de cima a baixo e deu um leve sorrisinho de lado.

Carmem: Sim. - Respondi ignorando a olhada dele e sentei na cama. - Sério, o que tu tá fazendo aqui, Pedaço? Já te falei que acabou o que a gente nem começou.

Pedaço: Ainda não dormiu né? Te falei pra dormir um pouco, tu não me escuta. - Tirou a mochila e jogou na cama, ela caiu do meu lado.

Eu não consigo suportar essas gracinhas dele, me dá vontade de matar ele.

Carmem: Para. - Apontei para a porta. - Sai daqui vai, eu não tô afim de ficar te ouvindo falar na minha orelha e depois de hoje.. Eu só quero ficar na minha.

Ele balançou a cabeça e olhou em volta, observando o quarto e depois me observando. Ele observa muito e me deixa muito desconfortável com isso, ele repara em tudo.

Pedaço: Seca esse cabelo, tá tarde. - Apontou se aproximando. - Vou ter que ficar aqui essa noite, fiz o que tu pediu e agora tu vai me ajudar. Melhor lugar pra mim ficar agora é aqui.

Porra! Eu tô muito em choque, fechei minha mão apertando ela, curiosa e nervosa. Eu queria que ele falasse mas não esperava que fosse assim, tão rápido. Acho que isso não ocorreu nada bem, porque ele tá aqui.. e a cara dele não é a das melhores.

Carmem: Tudo? - Ele concordou. - O pior ligar pra você estar agora, é aqui. Tu não devia ter vindo pra cá. Meu pai tá aqui e eu não quero mais problemas Pedaço, então dá meia volta e saí.

Pedaço: Que se foda, Carmem. - Abriu os braços e parou na minha frente. - Olha bem pra minha cara, tu acha mermo que eu ligo pro que os outros falam de mim? Tu acha? Eu quero que geral se foda porra. - Abaixou o braço e puxou minha mão. - Para de fazer isso, vai acabar machucando tua mão.

Carmem: Ela reagiu mal? Ou tipo, muito mal? - Perguntei e ele riu debochado, segurando minha mão e alisando a palma dela com as pontas dos dedos.

Pedaço: Um pouquinho. - Olhei para ele que bufou. - Pra caralho, pô, mas é isso aí. Tá feito e não tem como desfazer, nem disso eu quero falar. Vim ficar contigo, chega de falar da Giane ou do filho da puta..

"Vim ficar contigo". Jesus, isso não vai acabar bem, eu tô sentindo.

Carmem: Comigo? Tu não tem é pra onde ir, veio pra cá porque sabe que vou te ajudar. - Ele soltou minha mão e negou.

Pedaço: Contigo. - Repetiu sério. - Tenho a casa do meu pai, Carmem. Tenho outras casas por aí e qualquer mulher que queira me dar se eu pedisse, ia desenrolar uma cama. Além disso, sou dono de tudo isso aqui e a casa que eu quiser é minha. Então sim, porra, eu vim ficar contigo.

Respirei fundo indo para o canto da cama de solteiro, que merda eu tô fazendo.. Eu devia mandar ele embora.

Carmem: Essa cama é pequena pra nós dois. - Encostei meu corpo na parede e ele tirou o tênis, deitando do meu lado.

Pedaço: Nada que nós não resolva. - Virou de lado quase grudando o corpo no meu. - Eu avisei teu pai que vinha pra cá, te ver. Então tá tranquilo, sou teu primo e eu tô aqui tomando conta de tu.

Carmem: Meu primo.. - Falei irônica e ri. - Eu vou parar no inferno e fazer pole dance pro Capeta.

Pedaço: Depois de fazer pra mim, priminha. - Soltou uma risada curta e rouca. - Quando tu tiver melhor, vou te levar pra dançar pra mim.

Carmem: No inferno? - Perguntei rindo e tirando a mecha de cabelo que estava perto do meu rosto.

Pedaço: Uhum, te levar pra conhecer meu inferno pessoal, Estrelinha. Se prepara.

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora