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Sobre o capítulo passado: não foi um perdão, muito longe disso. Foi apenas uma conversa necessária entre eles dois, onde a Carmem finalmente entendeu que nunca foi culpa dela e que o único culpado foi o Brown.

Algumas meninas pediram um flashback ou apenas um capítulo da Carmem contando um pouco da relação que eles tinham. Pensei muito e achei uma boa coisa, pois vai mostrar ainda mais os motivos dela em ter insistido tanto no Brown e um pouco do porque ela um dia amou ele, assim como um dia ele chegou a amar ela. O que vocês acham?

×100 comentários.
Carmem;

Entrei no quarto vendo o Pedaço sentado na cama, já de roupa trocada e o cabelo molhado. Ele levantou a cabeça e me olhou perdido, passou os olhos pelo sangue no meu rosto e na minha roupa, acompanhando meus passos com apenas o olhar. Abri o guarda roupas puxando a primeira camisa dele que vi e me virei indo na direção da porta do banheiro.

Pedaço: Carmem? - Me chamou levantando preocupado, os olhos ainda analisando cada parte de mim enquanto procuravam algum machucado. - Tu não tava no seu pai? De quem é esse sangue em tu?

Carmem: O Brown tá morto. - Falei passando na frente dele e entrando no banheiro, joguei a camisa limpa em cima da tampa do vaso fechado. Segurei na barra do vestido e puxei para cima tirando ele.

Pedaço: Que porra tu fez? - Perguntou parando na porta e eu neguei. - Se não foi tu, foi quem? Caralho, ele fez a porra toda contigo e agora morreu? Fácil assim? Não fode!

Carmem: Thor matou ele, eu mandei. - Joguei o vestido no chão e virei encarando o Pedaço. - Por favor, saí. Eu quero tomar um banho e ficar sozinha.. assimilar tudo isso e te ouvir reclamando sobre ele ter morrido, eu realmente não quero ouvir.

Segurei no trinco da porta e empurrei ela, ele deu um passo para trás e eu fechei a porta, trancando ela logo em seguida. Eu não tô com cabeça pra isso, simplesmente não quero mais falar disso e eu sei que ele não vai parar de falar.

Pedaço: Abre a porta. - Falou do outro lado e mexeu no trinco da porta. - Porra, vai se foder! Tu tá ignorando tudo o que ele te fez e eu quem sou o errado nisso? Eu sou a porra do filho da puta por querer ter visto ele pagar por cada vez que encostou em você na maldade?!

Respirei fundo tirando o sutiã e a calcinha, ainda ouvindo ele gritar e ignorando. Entrei dentro do box e fechei a porta de correr, liguei o chuveiro e me enfiei debaixo da água morna. A água caiu por todo meu corpo lavando o sangue seco, esfreguei as mãos no meu rosto algumas vezes tendo certeza de que havia limpado. Olhei as lajotas brancas e o sangue misturado com água passando pelo ralo, suspirei sentindo meu coração acelerar e me permiti chorar mais uma vez..

Agora acabou. Finalmente.

Eu não sei dizer o que eu tô sentindo, é como se um peso tivesse sido tirado de mim.. mas também é doloroso. Um dia eu amei o cara que acabei de ver morrer, porque ele era bom comigo.. porque ele me fazia bem e eu me sentia viva ao lado dele, um dia eu pensei que nada faria sentido sem ele. E ele também me amou, eu sei disso. Só que com o tempo ele me mostrou um lado que ele sempre me dizia que faria o possível pra não mostrar, e quanto isso aconteceu, eu fui boba e inocente demais, achei que mudaria ele pra melhor e tudo ficaria bem.. mas tudo foi uma mentira criada por mim, algo que eu quis acreditar mesmo quando ele disse para mim partir.

Mas independente de tudo, nada é culpa minha. Nunca foi.. eu só demorei para entender e acreditar nisso.

Fiquei pouco mais que vinte minutos embaixo d'água do chuveiro. Pensando e chorando, aliviando tudo o que eu precisava sozinha e sem pressão. Terminei o banho e vesti a camisa do Pedaço, saí de dentro do banheiro encontrando ele sentado na ponta da cama me encarando preocupado. Balancei minha cabeça enquanto caminhava até o guarda roupas, puxei a primeira gaveta e abri pegando uma calcinha, fechei a gaveta e me apoiei na porta do armário para vestir ela.

Pedaço: Carmem. - Me chamou e eu olhei para ele, arrumando minha calcinha no corpo.

Carmem: O que? Eu só não quero mais falar disso tudo, dele, especificamente. - Disse caminhando até a cama e subindo nela com os joelhos apoiados no colchão. - Acabou. Ele tá morto e eu não quero mais lembrar dessas coisas, só quero esquecer..

Pedaço: Tá bom, pô, tá bom.. - Respirou fundo se aproximando e esticando um braço atrás de mim, ele puxou o travesseiro erguendo um pouco para mim me encostar. - Só quero saber se tu tá bem, se tu se machucou.. só isso.

Neguei e ele me olhou aliviado. Encolhi meu corpo deitada na cama com a cabeça no travesseiro que ele puxou, olhando ele sentado do meu lado. Estiquei uma mão e ele pegou entrelaçando os dedos nos meus, passando o olhar diretamente para minha barriga.. sete meses. Ela tá bem grande e agitada, nosso filho é um bebê muito agitado e eu até entendo, olha tudo o que ele passa dentro de mim. Desde quando ele era só um feto, eu passei por poucas e boas, e o coitado do Jorge sempre esteve no meio.

Carmem: Eu e o Jorge estamos bem, só precisamos descansar um pouquinho. - Acariciou com o polegar minha mão e mexeu a cabeça positivamente. - Sei que agora você tem milhões de coisas para resolver, muitos problemas e tá preocupado com o que vem pela frente, mas eu só queria que tu ficasse aqui com a gente. Manda seu pai ou o meu no seu lugar, ou sei lá, só deixa para outra hora essas coisas. Preciso de você.

Pedi olhando nos olhos dele. Ele olhou para o relógio no pulso conferindo a hora e suspirou se levantando. Que merda!

Pedaço: Já vi a cara que tu fez. - Avisou e eu revirei os olhos. - Eu não vou sair, pô, tu não precisava nem ter me pedido. Só levantei pra tirar e guardar essa camisa que tá limpa.. eu vou ficar contigo amor, relaxa.

Sorri aliviada e ele riu de mim, idiota. Observei ele tirar a camisa e dobrar, ir até o guarda roupas e colocar lá dentro. Me assustei quando ele se virou e correu pelo quarto, pulou em cima da cama e eu me encolhi um pouco com medo de ele cair em cima de mim, mas ele caiu do meu lado e logo levantou vindo para cima de mim. Ele começou a beijar minhas bochechas e roubar beijos curtos de mim, feito um idiota, enquanto eu só ria. Até ele parar e segurar meu rosto, sorri enquanto ele analisava meu rosto em silêncio, confesso que me surgiu um pouco de vergonha..

Carmem: O que foi? - Perguntei rindo nervosa e ele só mexeu a cabeça em negação.

Pedaço: Amo você. - Falou e me deu um selinho demorado enquanto ainda segurava meu rosto. - Minha perturbadinha.

Carmem: Também amo você, muito! - Respondi o que nem foi uma pergunta e abracei ele por trás do pescoço. - Meu velho..

Gargalhei com a cara de indignação que ele fez e me agarrei nele que tentava se afastar, bolado por eu ter chamado ele de velho. O que literalmente não é uma mentira.

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora