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Carmem;Minha mente ficou a milhão, com o que rolou. Tanto pelos tijolos, tanto pelo Gateu..
Mas claramente o meu maior medo é o Brown, isso foi coisa dela, eu tenho certeza. O que não entra na minha cabeça é como ele fez tudo isso sem ninguém sequer desconfiar da presença dele, desde aquele dia em que ele tentou me matar.. o meu pai tá feito um zumbi atrás dele. Todos eles estão atrás do Brown mas ele simplesmente desapareceu, como se fosse nada.
Pedaço: Se foi ele, não tá mais aqui. - Disse mexendo no celular, talvez lendo as mensagens dos outros caras. - Tu acha que ele mandou alguém fazer? Ou que ele arriscou vir pra cá?
Me senti desconfortável com as perguntas, então só engoli a saliva e respirei fundo, pensando no que esse filho da puta faria.. foram quatro anos vivendo noite e dia do lado dele, eu sei bem responder isso. Eu sempre prestava atenção em tudo..
Carmem: Ele mandou alguém. - Conclui estralando os dedos das minhas mãos e olhei para o Pedaço. - Se fosse em outro lugar, onde ele sabe que não tem ninguém por mim, ele mesmo teria vindo e feito pior.. então sim, ele mandou alguém. Pra ele aquilo é só um brincadeira de nada, sei que ele faria muito pior.
Mexi minha perna sentindo minha panturrilha arder um pouco, que merda. Fiz uma expressão de desconforto e logo o Pedaço soltou o celular, vindo para perto e se abaixando na minha frente. Curioso, ele segurou no meu tornozelo e ergueu devagar, fazendo minha perna levantar e ficar reta.
Pedaço: Tá doendo? - Balancei minha mão dizendo que não muito, ele assentiu e soltou. - Tua médica ligou, hoje cedo. Disse que queria te ver quando possível, acho uma boa te levar lá já.
Carmem: Do nada? Ela disse o porque? - Perguntei estranhando, eles nunca ligam, no máximo mandam uma mensagem. - Não sei se é uma dor psicológica, por ter lembrado daquele dia.. mas é melhor ir lá, ter certeza de que tá tudo certo.
Ele se levantou, parou na minha frente e segurou meu queixo. Forçou a mão me fazendo olhar para ele e acariciou de leve. Sorri fraco com o toque carinhoso e ele se inclinou, beijou minha testa e soltou meu queixo.
Pedaço: Se troca então, eu vou te levar. - Olhou para as minhas mãos e estreitou os olhos. - Tá melhorando isso aí.. sei que tu tá nervosa com o Brown e com o Gateu, mas tem que saber mandar a calma. Tá com medo?
Estiquei minha mão aberta e ele observou, sem nenhuma marca de unha. Passou as pontas dos dedos alí e entrelaçou a mão dele na minha, sorrindo.
Carmem: Muito. - Admiti e senti um nó se formar na minha garganta.. - Eu só tenho medo de que ele termine o que começou.. não gosto de ficar sozinha e qualquer barulho estranho me faz achar que ele tá aqui.
Pedaço: Posso te prometer a porra toda e não cumprir nada, a única coisa que tu pode ter certeza que não vai acontecer e a única que posso te prometer de verdade. - Me puxou para levantar e ficar frente a frente com ele, segurou meu rosto com as duas mãos e me olhou sério, nos olhos. - É que se depender de mim, pô, ele nunca mais vai chegar perto de tu. E que eu mermo, vou me encarregar de trazer esse verme vivo, pra tu descontar tudo o que tu passou com ele. Confia em mim?
Carmem: Confio. - Respondi me sentindo por algum motivo mais aliviada. - Mas não faz eu te odiar..
Avisei e ele sorriu me abraçando, encostei a cabeça no ombro dele e entre o pescoço. Me acalmando cada vez mais com a presença dele, bem mais que o normal.
***
Sentada na cadeira do consultório, observei a parede branca e os diplomas pendurados alí. Algumas medalhas e prêmios, logo ao lado.
Izadora: E aí, como você está? - Perguntou com a caneta na mão e um caderno aberto. - As dores na perna melhoraram? Tem sentido algum efeito colateral dos remédios?
Carmem: É, melhoraram muito.. mas as vezes arde um pouco, como se tivesse queimando por dentro, sabe? Eu já consigo andar sozinha e sem ajuda. - Falei mais animada a última parte, recebendo um olhar de reprovação.
Escutei o Pedaço bufar do meu lado, chutei ele por baixo da mesa e prestei atenção na médica.
Izadora: Carmem, você teve uma fratura exposta na Tíbia que é o osso que sustenta o seu corpo. - Apontou para o esqueleto no canto da sala. - Sua recuperação pode estar sendo boa demais, tipo, muito boa mesmo. Mas você tem que entender que não pode ter esforços físicos, então eu não quero mais você andando sozinha sem o auxílio de pelo menos uma muleta. - Me desanimei por completo, juro, que ódio.. - Nada de festinhas, bailes, bebidas ou drogas. Tudo isso vai contra a tua recuperação. Estamos entendidas?
Respirei fundo e sorri falsa, concordando mas apertando minha mão fechada.. que ódio!
Carmem: Tá, eu prometo. - Isso vai ser completamente contra a porra da minha vontade. - Deu algo em algum exame?
Ela olhou para o Pedaço e depois para um papel em cima da mesa. Pegou ele e deu uma olhada rápida, voltando a atenção para mim. Fiquei até um pouco desconfortável.
Izadora: Uma alteração, em um dos exames da bateria que você fez semana passada. - Clicou no botão da caneta fazendo a ponta sumir. - Recentemente, você passou por um aborto induzido, não foi?
Confesso, meu corpo deu uma leve desestabilizada com a pergunta e eu fiquei bem nervosa, ficou nítido. Apenas concordei.
Izadora: Foi três dias antes do ocorrido com o seu ex marido, certo? - Concordei novamente. - Você chegou aqui, com o aborto completamente feito e sem danos colaterais vindos dele. Só que nessa última bateria se exames, o de sangue teve uma alteração como eu já disse..
Pedaço: Que tipo de alteração? - Perguntou por mim e ela se mexeu na cadeira, esticando o papel para mim.
Olhei para o papel e neguei, quem pegou foi o Pedaço. Observei ele ler as duas primeiras linhas e franzir a festa, ainda curiosa olhei para a Izadora, esperando algo concreto. Com um puta medo e um friozinho na barriga..
Não é algo que eu me arrependa mas eu sempre tive medo, desde que eu fiz o aborto, de ter sido demais para mim e eu acabar não podendo ter filhos.. é algo que eu quero no futuro, daqui há uns anos e que agora eu tenho mais medo ainda de não poder ter..
Izadora: Não quero me meter na sua vida, Carmem, longe disso. Eu não preciso saber com quem foi e nada do tipo. - Minha garganta secou rápido com o nervosismo crescendo dentro de mim. - Você tá grávida, de duas semanas.
Por um momento, fiquei muda e sem reação, processando a porra da informação que eu recebi.

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Fiéis Amantes - [M]
Romance"Lua cheia no morro, invictos no jogo não fugimos da guerra. Mais cedo ou mais tarde, exigindo liberdade, o olhar de maldade é o extinto selvagem". Uma alma quebrada, um coração partido e um corpo mutilado. Apenas o amor, é capaz de construir e reco...