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Pedaço;

Eu tô perdendo, pô.. Caralho eu tô perdendo!

Quando isso começou era uma hora da tarde.. agora já são mais de quatro da manhã, pô. Tá geral cansado, vários dos meus feridos e outros mortos por aí, morador tendo casa invadida e eu não tô sabendo segurar essa b.o porra. Eu não tô conseguindo manter a Penha e eu já não sei se vou virar a porra do jogo. Nunca perdi uma operação, nunca conseguirem menos da metade do que tão fazendo aqui agora.. e eles tão ganhando.

Pedaço: O tia, vai pro banheiro e fica lá dentro até tudo estar liberado, beleza? - Falei pra senhora que abrigou a gente e ela nem me respondeu, tenho certeza que não pensou duas vezes antes de correr pra lá e se trancar no banheiro bem no final do corredor.

Olhei pro Zulu sentado no sofá da senhora, ferido pô.. Eu nem vi da onde veio na hora, só vi ele caindo e gritando, atirando pra todo lado com o fuzil. Mas não foi nada grave, graças a Deus é só a porra de um tiro no braço.

Zulu: Tô bem, pô, tranquilo patrão. - Concordei olhando o pano amarrado em volta do buraco da bala no braço dele. - Foi um branquelo fodido, garanto que é da família do Brown.. Rum, vou voltar lá fora e caçar ele, devolver um tiro no meio da cara dele. Vai ter a porra do caixão fechado no velório.

Pedaço: Que velório? - Perguntei rindo e ele sorriu. - Do mermo jeito que o Brown não teve, eles também não vão ter.. jogar os corpos em uma valeta qualquer e pronto, melhor que isso não dá.

Zulu: Admiro tua calma, patrão. Com essa porra toda rolando e tu calmo pra caralho. - Balançou a cabeça me olhando de lá. - Aliás, como a Carminha tá lá em cima? Teu filho pode nascer no meio dessa guerra, maior loucura.

Pedaço: Tô longe de estar calmo, pô, bem longe mesmo. - Balancei os ombros e relaxei o corpo encostando na parede. - Ela tá bem, eu acho.. Meu filho não vai nascer no meio disso não, Zulu. O Sabiá logo consegue chegar lá em cima, o Gateu tá vindo pra cá pegar uma parada e vai subir também, e o Vargas sabe que quando eles tiverem lá em cima, independente de eu estar ou não, eles vão sair daqui com a Carmem.

Zulu: Tu não ia ver, pô? Tava animadão com a ideia de ver teu moleque nascer.. Se quiser ir, vai pô. Eu fico e faço a frente patrão, tô a tua disposição e a disposição da Penha. - Falou me olhando e eu só neguei, agradecendo com o meu olhar.

Pedaço: Tá tranquilo.. - Avisei e fiquei em alerta, ouvindo vários passos do lado de fora da casa. O Zulu se levantou pegando o fuzil com braço bom e se preparou pro pior, já mirando na direção da porta. - Segura pô, espera um pouco.

Disse baixo e ele concordou, ergui minha mão fazendo sinal de silêncio e de repente ouvi dois assobios. Meu corpo aliviou e eu soltei a respiração, largando o fuzil pendurado no meu corpo. Assobiei de volta e recebi outro assobio, o Zulu sentou no sofá e nós observamos a porta abrir, o Gateu entrou mancando mas não vi nada de sangue. Meu pai entrou logo atrás preocupado e soado, meu tio do mermo jeito. Encarei o Gateu que fez o mermo comigo, franzi minha testa curioso e ele puxou o ar ofegante. O meu tio fez a frente passando por mim e pegando o copo de água em cima da mesa, virou ele na cabeça se molhando e passou a mão no rosto.

Tião: Pedaço. - Me chamou colocando o copo de vidro, vazio, em cima da mesa. - A Carmem tá na porra do trabalho de parto.. O Jorge vai nascer, pô, agora.

Olhei na cara dele, procurando sinal de brincadeira e ele sustentou meu olhar sério. Puxei o ar sentindo uma sensação do caralho, estranha, ruim.. sei lá pô. Meu filho vai nascer. Caralho!

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora