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Carmem;Nos últimos dias eu não vi muito o Pedaço, só algumas vezes e nós não trocamos nada mais que olhares. Digamos que não tivemos oportunidades e ele respeitou meu pedido, de não ficar me agarrando em lugares públicos. Então o máximo que fazemos é trocarmos uma ou outra mensagem, e Jesus, ele literalmente codifica tudo.. eu demoro pra entender algumas coisas mas aos poucos estou conseguindo.
Semana passada eu fiz o maldito teste de sangue, ou bendito, não faço ideia.. Peguei ele já faz três dias mas preferi deixar para abrir com o Brown, que chega a qualquer hora do dia. Eu tô muito nervosa, meu Deus, meu coração parece querer pular pra fora e sair correndo.
Tanto que eu acordei cedo, literalmente as três e meia da manhã, tenho certeza de que ele tá chegando. Na real eu passei o dia de ontem dormindo, um pouco enjoada então simplesmente dormi.. Agora eu estou repassando o meu discurso na cabeça, eu pensei muito todos esses dias no que eu iria fazer em relação ao que eu estou vivendo há tanto tempo.
E porra.. É muito difícil viver presa a alguém, proibida de viver e se divertir, não poder fazer as pequenas coisas que eu gosto. O Brown tirou o meu direito de viver e ser feliz por muito tempo, eu não quero mais isso, nada disso. Esses dias sem a presença dele foram os melhores da minha vida em anos, eu saí, bebi, me diverti, dei muita risada, conheci tanta gente nova. Eu vivi e me senti viva, depois de tanto tempo.
Se eu não acabar com isso que eu e o Brown temos, eu simplesmente nunca vou ser feliz. Então, hoje, a primeira coisa que vou fazer quando ele pisar aqui dentro é acabar com isso.
Olhei a rua fazia de casa e suspirei, se o Brown está chegando então o meu pai já deve estar de pé, tenho que conversar com ele sobre isso. Esperando para receber os meninos dele de volta. Abro o portão passando por ele e puxando para fechar de volta, viro segurando firme meu celular vendo que não tem nenhuma notificação dele. Começo a andar pela rua em direção a esquina, onde eu viro seguindo pela grande rua até a boca.
Apesar de estar "tarde" ou cedo demais, nunca tive medo de andar aqui nesse horário. Sempre tem um ou outro vapor descendo ou subindo a rua, além dos meninos que ficam por aqui e na minha cola, ordens do meu pai. Me viro na esquina vendo de longe um pequeno movimento, reconheço a moto do meu pai e vou andando pela calçada, escutando a voz dele de longe. No fundo a risada do meu tio.
Encontro meu pai encostado no muro e meu tio sentado no tanque da moto, sorriso para o meu pai que vem em minha direção rindo.
Tião: Isso são horas pra tu tá acordada? Na rua ainda. - Beijou minha cabeça e deu um tapa na minha mão estendida pedindo bença. - Deus abençoe.
Carmem: Tô dormindo desde ontem de tarde, credo. - Abracei ele e soltei olhando meu tio. - Quem é vivo sempre aparece!
Bacu: Infelizmente, acabou minhas férias. - Abriu os braços e eu neguei me aproximando, beijei o rosto dele e ele me abraçou me levantando. - Tranquila?
Tião: Cuidado caralho! - Falou impaciente pro meu tio que me colocou no chão.
Carmem: Para pai! - Bufei revirando os olhos e estendi as mãos juntas para o meu tio. - Bença, falso.
Bacu: Ih, cuidado porque? - Me olhou desconfiando e bateu na minha mão. - Deus te abençoe. Qual foi do seu pai em?
Tião: Tá grávida. - Falou e eu arregalei os olhos negando, Deus me livre. - Só acredito que não, vendo. Era o que eu queria? Não! Mas aconteceu pô.
Engoli em seco incomodada com o assunto.
Bacu: Tá ou não tá? - Dei de ombros sentando na cadeira encostada logo a frente. - Folgada igual tua tia!
Carmem: Não tô, meu pai é louco. - Apontei e ele concordou virando o rosto. - E cadê tua novinha em? Leva pra passar as férias fora daqui contigo e não trás para mim decidir se é boa o suficiente. Qual foi?
Cruzei meus braços e ele me olhou com o mesmo deboche do filho, essa merda vem muito de família.
Bacu: Tem outra no porte já mas isso não te interessa não, curiosa. - Apontou e eu ri com deboche. - Vai morrer curiosa e nunca vai descobrir meus corres.
Carmem: Coitado! Enquanto tu tá indo buscar a semente, eu tô voltando com a plantação. - Apontei de volta e desviei pro meu pai. - Dá um jeito nesse homem, pai, muito soltinho esse teu soldado.
Tião: É bem ele que tem que levar um sacode, né não? Bem ele que tá enchendo a cara por aí, com suspeita de gravidez. - Bufei ouvindo ele falar nisso de novo. - Vai bufando porra, a hora que tu se foder com complicação de gravidez, te dou uma coça!
Balancei minhas pernas ouvindo ele falar e literalmente ignorando tudo. Lembrando do que eu vim fazer aqui, falar sobre mim e o Brown.
Carmem: Pai? - Chamei ele que me ignorou por uns segundos e me olhou de braços cruzados, expressão séria e rígida. - Tô solteira, quase solteira na verdade.. Vou acabar com tudo assim que ele voltar, acho que você, na verdade vocês dois, deviam saber..
Falei olhando para ele que me observou por segundos, analisando minhas palavras e minha postura. Meu tio do meu lado fez a mesma coisa, nenhum disse nada ah não ser me olhar com curiosidade e procurar algum caô.
Tião: Do nada? Qual foi do caô? E não me fala que não é nada porque eu sei que é. - Dei de ombros. - Ele te deu chifre?!
Carmem: Ele é não é doido. - Menti e olhei para ele apreensiva. - Na verdade pai, eu..
Parei de falar e ouvi a breve risada do meu tio, meu pai olhou para ele e depois para mim. Odeio mentir para eles, então vou contar uma pequena verdade.
Tião: Tu traiu? Tá de sacanagem Carmem.. - Soltou uma risada. - Tu é foda pô, tô nem acreditando. Foi com o Lemos?
Bacu: Caralho, o Lemos? Tu saiu do gerente do pó, pro de frente do Vidigal. Evolução.. - Brincou e eu neguei balançando a cabeça.
Carmem: Vai morrer curioso e não vai descobrir. - Olhei para ele e depois pro meu pai. - Uma vez só, juro pra vocês mas esse nem é o motivo.. Eu tô com o Brown desde muito novinha e acho que essa merda nunca foi amor, só paixão de adolescente. Não sinto mais o que eu sentia por ele, não sinto mais nada.
Tião: Tu quem sabe, depois vai pra casa. A casa é dele, pô, nem inventa de ficar lá até arrumar um jeito. - Concordei. - É direto pra casa em.
Sorri concordando com meu pai e ouvindo vozes altas, assim como o barulho de carros se aproximando. Levantei minha cabeça sentindo o nervoso subir pelo meu corpo, Brown chegou.
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Fiéis Amantes - [M]
Romance"Lua cheia no morro, invictos no jogo não fugimos da guerra. Mais cedo ou mais tarde, exigindo liberdade, o olhar de maldade é o extinto selvagem". Uma alma quebrada, um coração partido e um corpo mutilado. Apenas o amor, é capaz de construir e reco...