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Tião;

Bati na porta três vezes, Carmem não respondeu. Um silêncio do caralho, então deve estar dormindo, insisti mais uma vez batendo duas vez e nada. Abri a porta pra conferir a situação dela, o que eu vi me surpreendeu um pouco.

Carmem deitada no canto, uma manda jogada em cima dela e meu sobrinho do lado, o filho da puta vestido e apenas sem o tênis, os dois dormindo, uma mochila jogada no chão. Me encostei alí na lateral da porta e respirei fundo observando, não curti isso aqui..

Fui até onde o tênis dele tá jogado e peguei, voltando para porta e deixando ela bem aberta, coloquei os tênis na frente segurando ela pra não fechar. Me afastei testando e ela não fechou. Confio pra caralho no Pedaço, é meu sobrinho, sangue do meu sangue, pô, mas enquanto eu não resolver o que rolou com minha filha.. Vou desconfiar de qualquer um.

Estrelinhas não quis contar tudo o que rolou, só que foi na porra do meu aniversário.. Isso aí já é uma vantagem, porque eu sei quem entrou e quem saiu de dentro da minha casa. Vi a hora que cada um foi embora, tenho tudo guardado na minha mente e tenho as câmeras escondidas no quintal. Se foi algum filho da puta que entrou na minha casa e mexeu com minha filha, eu vou saber. E ele vai morrer da pior forma possível..

Vou pendurar o filho da puta como se fosse um porco e abrir ele pouco a pouco, enquanto ele tiver vivo.. Pra sentir mil vezes a dor que ela tá sentindo, pra fazer ele lembrar o que fez e com quem ele fez.. Ele vai implorar pra morrer.

Sentei no meu sofá, olhando meu irmão deitado no outro assistindo qualquer merda que tá passando.

Ouvi o barulho da porta do quarto da Carmem se mexendo, levantei minha cabeça atento olhando pra escada. O Pedaço apareceu no topo e desceu, me deixando mais aliviado.

Observei o chinelo branco nos pés dele, lembrei da mochila preta.. Ele deve ter trazido com ele.

Tião: De mala e cuia? - Perguntei apontando pro chinelo e ele confirmou, se aproximando.

Pedaço: Vou passar a noite aqui.. - Disse sentando no sofá e apoiando os cotovelos nas coxas, e esfregando as mãos no rosto. - Giane me largou.

Tião: É Carmem largando o Brown, Giane largando você.. - Bati em um mosquito que tava voando perto de mim. - Falando nisso, qual foi do teu papo aquele dia Pedaço? Disse que tava batendo neurose com o Brown, porque?

Bacu: Giane te largou? - Meu irmão perguntou pro filho, sentando no sofá. - Nós arruma mulher e vocês dois terminam relacionamento, caralho. E que caô é esse com o Brown?

Cruzei minhas pernas, colocando a direita dobrada em cima da esquerda. Atento ao que o Pedaço vai falar, nenhum de nós costuma bater neurose com a pessoa errada mas dessa vez eu tô esperando que ele esteja errado. Brown tá com nós tem anos, eu confiei a vida da Estrelinha a ele e ele jurou olhando nos meus olhos que ia fazer tudo por ela, que ia cuidar dela como se fosse a porra da vida dele. E até onde eu sei, foi o que ele fez. Além de tudo, é um dos meus de confiança.

Meu sobrinho tem birra com ele e não é de hoje, eu presto atenção em tudo e já reparei nisso, Brown chega e ele fica inquieto, bolado. Nunca fica por muito tempo no mesmo lugar que ele.

Pedaço: Neurose. - Riu baixo e me olhou. - Nunca foi neurose, Brown é um filho da puta e ninguém nunca percebeu. Sempre avisei que via coisa errada nele.

Tião: Desembucha, porra. - Falei curioso.

Pedaço: Quando a Carmem te contou da gravidez, foi na porra do dia em que tu deixou ela lá em casa com a Giane, não foi? - Perguntou estressado, tô sentindo e vendo ele puto, pelo modo de falar.

Concordei e ele bufou, dando um soco no sofá. Bacu me olhou de lá e desviou prestando atenção no Pedaço.

Pedaço: Nesse dia mais tarde, eu tava com o Gateu. Brown passou por nós três vezes, uma delas indo na farmácia e outra voltando pra casa deles, a última indo pra missão. - Foi mostrando nos dedos. - O que foi que a Carmem te disse, quando falou da gravidez?

Tião: Tu vai ficar aí enrolando, ou tu vai falar de uma vez caralho? - Xinguei me estressando. - Ela disse que não tinha certeza, que tava desconfiada e que não era pra contar pra ninguém e nem pra ele, que ia fazer uma surpresa..

Surpresa.. Repeti para mim mesmo e meu irmão pegou uma almofada, olhando para mim.

Bacu: Carminha odeia surpresas Tião.. E se ela ia fazer uma surpresa, então o Brown não tinha motivo pra ir na farmácia. - Concordei já criando várias paranóias. - Nem um dos dois estavam doentes, se ele foi na farmácia no mesmo dia, logo depois de chegar em casa e não comprou teste de gravidez, vai ser muita coincidência.. Né não?

Passei uma mão no rosto, balançando minha perna e batendo o pé no chão. Essa porra tá batendo..

Pedaço: Exatamente, pô. Logo depois que ele saiu pra missão, sabe quem eu encontrei na rua? Tarde da noite, chorando e com uma sacola de farmácia na mão, a Carmem. - Esfregou o maxilar com a mão esquerda. - E agora ele volta, ela termina com ele e dias depois faz o aborto. Tu acha que essa porra, ainda é birra minha?

Olhei pro lado encarando a garrafa de whisky e a maconha, em cima da mesinha.. Uns dias depois do meu aniversário a Carmem parou de beber, perguntei porque e o Brown quem me respondeu, falando que ela andou bebendo demais.. que era bom ela parar mesmo.

Fechei minhas mãos sentindo o ódio crescendo dentro de mim, meu sangue fervendo e o calor subindo. Puta que pariu, caralho!

Tião: Bacu, aquele dia quando eu falei pra tu ajudar a Carmem e ela falou que não precisava.. - Apertei meu punho respirando fundo. - Ela saiu com o filho da puta do Brown e com o primo da tua mulher, não foi?!

Perguntei sentindo o ódio sair junto com minhas palavras. A Carmem naquele dia bebeu pra caralho, eu vi e deixei o Brown levar ela embora mais cedo, deixei porque esse filho da puta tava com ela a anos.. Porque eu confiava nele.. Porra!

Bacu: Porra! - Gritou e levantou jogando a almofada. - Filho da puta.. Filho da puta! - Virou e me olhou vermelho, pude ver as veias dele saltando dos braços até o pescoço. - Esse primo da Vitória, pô, foram os dois.. Porque ela me deixou ciente de que ele mexeu com ela e com outra mulher, que ela não conhecia. Ontem quando apresentei a Carmem, as duas ficaram assustadas.

Filho da puta do caralho! Que ódio porra! Brown podia ter traído a facção, roubado dinheiro nosso, traído minha confiança ou mexido com qualquer um, pô.. E ele escolheu fazer a pior escolha da vida dele, mexer com a minha filha, logo com a minha Estrelinha, podia ter sido qualquer um mas a minha Carmem não.. Ela não!

Brown despertou o maior e mais procurado torturador do Brasil, ele vai se arrepender de cada palavra que direcionou a minha filha. Eu vou fazer esse filho da puta se arrepender de ter nascido e conhecido minha filha. E quando ele não tiver mais aguentando, eu mermo vou costurar ele e cuidar da porra dos ferimentos pra poder fazer tudo de novo, de novo e de novo.

Ele vai morrer nas minhas mãos e nem Deus vai saber reconhecer a criatura que ele criou.

Vou guardar a cabeça dele como troféu.

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora