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Carmem;

Jesus.. tudo está tão errado.

Eu sabia que tinha algo acontecendo, algo que o Pedaço não queria me dizer e agora olha aí, a porra da merda que deu.. eu tô revoltada porque ele não me contou o que tava acontecendo e quase morreu por causa disso.

Caminhei pelo corredor do hospital, esperando notícias dele a até da Giane. A senhora que viu tudo e mora bem na esquina, disse que um carro verde apareceu do nada e atropelou a Giane, segundos depois os caras dentro do carro atiraram no Pedaço.. ela disse que ele não teve tempo de sequer reagir ou se proteger, que foi tudo muito rápido.

O que eu sei, é que Deus livrou esse homem da morte. Por muito pouco ele não morre, uma das balas disparadas atravessou o peito esquerdo e por centímetros não acertou o coração dele.. além disso foram cinco tiros certeiros, esse no peito, um na coxa, um no pé da barriga, um na lateral do abdômen e outro perto da clavícula. Ele perdeu muito sangue e o estado dele não é dos melhores, mas se ocorrer tudo bem, logo ele já vai estar consciente e melhorando, o que me deixa extremamente aliviada.. eu achei que ele ia morrer naquela rua, naquele momento e achei que eu ia ficar sozinha. O desespero que senti foi de outro mundo e eu estava com tanto medo de perder esse maluco.

Bacu: Carminha, senta um pouco. Pô, tu tá andando de um lado pro outro e me deixando nervoso. - Avisou e eu parei olhando para ele. - Vem cá.

Respirei fundo e fui até a cadeira vaga ao lado do meu tio, sentei e olhei para minha camisa vendo as manchas de sangue do Pedaço. Balancei minha cabeça negativamente e levantei inclinando ela para trás, encostando a cabeça na parede.

Bacu: Carmem? - Murmurei um "o que?" e ouvi ele respirar fundo, virando um pouco a cabeça para me olhar. - Acho que tu devia ir pra casa, trocar de roupa e comer alguma parada.. não é bom tu ficar por aqui. Não tem nem porque tu ficar, Pedaço da em cirurgia e nem visitas vão ter. Vai pra casa.

Neguei ainda ouvindo ele falar. É óbvio que eu não vou embora, nem fodendo! Eu quero ficar e esperar pelas notícias, quero estar aqui quando ele acordar e ser a primeira a ver ele.

Carmem: Eu vou ficar. - Respondi encarando a parede branca do hospital. - Ele ficou comigo todos aqueles dias quando o Brown tentou me matar.. mesmo quando eu estava na UTI e respirando com o aparelho, ele tava lá. Então, eu vou ficar aqui e esperar com você ou sozinha, tanto faz, mas daqui eu não saio.

Meu tio se mexeu na cadeira, vi pelo canto do olho ele esfregar as mãos no rosto, conheço ele a tempo suficiente pra saber que está nervoso mas quem não estaria né? É o filho dele que quase acabou de morrer e querendo ou não, ainda tem um pequeno risco de morte. E meu tio não tem a possibilidade de não ficar nervoso com essa situação, porque simplesmente não tem como.
Se para mim que tenho um lance com o Pedaço, já tá difícil.. quem dirá pra ele que é pai.

Bacu: Tu não tem nada pra me dizer? - Perguntou e eu virei minha cabeça, sem entender a pergunta dele. - Sou teu tio, Carmem, teu padrinho. Eu te vi crescer, pô, ajudei a te criar e tu é como se fosse uma filha minha, te conheço bem até demais pra saber que tem algo que eu não esteja sabendo acontecendo. Qual foi?

Pisquei engolindo minha saliva, ele me conhece ao ponto de saber que estou mentindo e eu conheço ele, ao ponto de saber que ele já sabe de algo.
Porra! Ele claramente sabe que tem algo entre mim e o Pedaço, que eu não estou aqui só por sermos família.. agora, eu não sei o que dizer. Porque eu sei que isso vai gerar uma decepção pra ele e também tem o meu pai, eu nunca escondi nada de nenhum deles e agora eu basicamente tenho uma outra vida da qual eles não sabem. Uma vida onde eu tenho um relacionamento com o Pedaço e estou grávida.. isso vai ser uma puta de uma decepção para eles.

Carmem: Não, não tem nada acontece tio.. eu só tô preocupada e me sentindo culpada, o Brown fez isso.. - Mexi meus ombros e neguei. - Por minha causa. O Pedaço e nem ninguém, tem algo a ver com isso mas o Brown não liga.. e agora eu tenho certeza de que ele vai tentar vir atrás de mim mas também atrás de vocês.

Bacu: Ele vai tentar, pô, isso é fato.. mas o que tu devia ter em mente é que nós ainda temos uma carta em jogo, a gente tem como saber o que ele vai fazer. - Apontou pra mim e sorriu. - Você, é nossa carta. Tu ficou anos do lado dele, conhece ele como ninguém e sabe os pontos fracos dele. - Fez alguns gestos e eu escutei ele falar, prestando atenção. - Tá na hora, pô, de tu entrar pros negócios da família.

Parei por um momento, pensando.
Meu tio está certo, muito mais que certo. Em todos esses anos eu observei e prestei atenção no Brown, no comportamento e nas mínimas coisas, eu tive que aprender tudo sobre ele para ter uma vantagem.. eu sei como ele agi, como ele gosta de resolver as coisas e o modo como ele planeja tudo. Ele costumava a sentar do meu lado e me falar sobre tudo, me pedir ajuda às vezes e eu sempre guardei tudo comigo.

Carmem: Eu acho, que sei como encontrar o Brown. - Disse me lembrando das vezes em que ele falava sobre a família dele, sorri mordendo meu lábio e suspirei. - Eu sei aonde ele tá escondido..

Bacu: Isso é bom, pô, bom pra caralho. - Sorriu de volta e encarou minha camisa suja com sangue. - Não é tua culpa. Nada disso é, tu sabe bem disso.

Carmem: Talvez, seja um pouco minha culpa.. eu deixei as coisas chegarem a esse ponto. - Senti meu nariz e meus olhos arderem, com a vontade de chorar. - Mas eu não posso mudar nada.. já foi e não tem volta.

Desviei meus olhar do meu tio, olhando para a parede branca de novo. Fechei meus olhos me acalmando, ouvindo o silêncio total da sala de espera vazia á nossa volta.

Bacu: Nada que eu fale vai mudar tua cabeça mermo. - Assenti em silêncio, meus pensamentos voando longe.. - Carmem, eu sempre vi o jeito como o filho da puta que eu chamo de filho te olha.. nunca me preocupei, nunca mermo, até ver tu olhar pra ele do mermo jeitinho.

Abri meus olhos, sentindo o frio na minha barriga. O nervoso se espalhando por dentro de mim, engoli em seco e fiquei quieta.. puta que pariu.

Bacu: Teu pai não gosta da proximidade de vocês e eu também não, essa parada toda é errada.. ele não sabe mas desconfia. E eu tô aqui pedindo pelo teu bem e pelo bem do Pedaço, parem com isso. - Pediu e eu encarei ele, falando com autoridade. - Vocês tão assumindo uma bronca que talvez não aguentem, e isso que vocês andam fazendo pode virar uma parada mais séria. Tu não é burra e sabe do que eu tô falando, tu não tem condição de assumir uma relação e nem um filho, então pensa em você porra e acaba isso.

Se ele soubesse..

Querendo ou não, ele tá certo. Talvez isso seja um erro e nós não vamos conseguir lidar com ele, só que não temos muito o que fazer, tem uma criança entre nós dois. Um filho, que vai ligar a gente mais do que já somos ligados pelo resto da vida, não tem mais volta..

Carmem: Eu sei dos meus limites, já passei por muito pior que isso.. falador vai falar mesmo e é inevitável, eles sempre falam. - Levantei da cadeira passando a mão na testa, jogando para o meu cabelo. - Mas isso é problema nosso, meu e do Pedaço, tu não tem com o que se preocupar.

Falei e me virei começando a andar pelo corredor, procurando pelo banheiro. Preciso lavar meu rosto e depois ir atrás de uma água, comer alguma coisa, tentar me manter calma longe do meu tio.

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora