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Carmen;

Ouvi o barulho da porta trancando enquanto eu girava a chave. Respirei fundo me virando e caminhando um pouco mais pro lado, parando e me encostando na mesa cheia de armas e tudo o que meu pai acha que seria bom para usar.

Brown: Sabia que tu vinha. - Disse com a voz embargada. Passei meus olhos pelos braços dele presos por correntes e o corpo levemente pendurado, os braços a cima da cabeça. O rosto completamente machucado e um pouco de sangue ainda presente ali.. já no abdômen, algumas faixas em volta dos ferimentos dos disparos que eu mesma dei. - O que tu quer? Em?

A voz um pouco fraca e rouca, sem nenhum tom de ironia, deboche ou raiva, só ela.. pisquei um pouco desestabilizada, a voz dele nesse tom que eu nunca vou esquecer, o tom de voz que eu senti falta durante todos esses anos. Faz tanto tempo que não ouço ele falando assim comigo.. sendo ele mesmo de verdade. Mexi no meu colar incomodada, um pouco fora do ar e esquecendo do que eu vim fazer. Esquecendo não, só com medo..

Carmem: Eu.. bom, vim te ver. Uma última vez. - Minha voz saiu trêmula por conta do nervosismo e a sensação estranha dentro de mim, como se felicidade e dor brigassem entre si dentro de mim.

Brown: Tu não vai querer ver, pô? Eu pagando por tudo o que te fiz.. - Desviei o olhar dele para o chão, respirando fundo. - Não começa a chorar, tu sabe que eu odeio essa porra.

Soltei uma risada e em seguida um suspiro alto, levantei minha cabeça e olhei para ele. O olhar vazio que eu costumava ver nos últimos anos, agora ausente.. Agora é como se algo dançasse nos olhos dele, algo que eu nunca vi ou sequer imaginei ver, de qualquer maneira, ali no meio eu vi mais um indício do cara que eu conheci.. da pessoa que ele era e do porque eu amei tanto ele, ao ponto de me destruir e deixar ele fazer tudo o que fez. Vi o porque de eu ter insistido tanto em algo que jamais teria salvação.

Carmem: Eu não vim aqui te ver sofrer, sangrar e ou ouvir você gritar enquanto meu pai faz o que achar melhor.. na verdade, - Balancei minha cabeça um pouco para o lado. - Eu vim fazer o que eu prometi, o que nós dois prometemos um ao outro, mas você nunca foi capaz de cumprir. Ter o seu sofrimento nunca vai anular nada do que aconteceu, nunca vai mudar o passado e muito menos vai me fazer bem. Acho que talvez eu te deva um agradecimento..

Dei um passo calmo e curioso, ainda olhando para ele que agora prestava total atenção em mim.. como ele costumava a fazer há um tempo atrás, quando nos conhecemos.

Carmem: Agradeço por tudo, tudo mesmo. Eu precisei passar por tudo isso pra entender que amor não é tudo, que precisa de muito mais que isso. Eu precisei passar por tudo o que você me fez para entender o verdadeiro significado da vida, para me tornar forte e ser quem eu sou. Então obrigada. - Sorri de leve e sincera, meus olhos começando a arder. - Eu te odeio por tudo o que fez, mas um dia eu te amei de verdade.. Eu não imaginava uma vida sem você, sem nós. Mas eu aprendi que a vida fora da nossa bolha tinha muito mais a oferecer.

Ele se mexeu fazendo uns expressão de dor, as correntes balançaram e eu parei de andar.

Brown: Para, pô, para de falar essas merdas. - Ouvi a voz dele falhar um pouco, observei os olhos dele brilharem com lágrimas.. - Porra, Carmem. Tu acha o que? Que eu nunca te amei? Eu amei, pra caralho e tu pode até não acreditar mas eu ainda amo.. tu foi minha primeira mulher, me acompanhou por tudo durante anos. - Parou de falar respirando fundo e eu vi a merda de uma lágrima escorrer pelo rosto dele. - Tu sempre soube quem eu era, nunca te escondi e eu tô ligado que tu tentou pra caralho me mudar, fazer com que eu fosse melhor.. Tu lutou por mim mais do que eu mermo.

Fiéis Amantes - [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora